quarta-feira, 30 de dezembro de 2015



Entre as tantas coisas que acontecem algumas são furos. Não falo só aquele do qual se ocupam os jornalistas mais sortudos, mas do vazio que se insinua pleno aos nossos olhos nos incitando a completar. Sim, deste buraco sorvedouro de sentidos nascem as histórias para que se animem as almas ante à fenda na certeza, para que a Esfinge deixe Édipo viver mais um dia. Por falar em história, talvez você conheça essa sobre Édipo e muitas outras nas quais um enigma solucionado finge ser solução, por favor, não sejamos ingênuos, qualquer resposta que ocupe os vãos propostos pelo enigma serve como satisfatória, mas se tiver atenção irá perceber que o furo surge na sequência do acerto sem fogos, sem comemoração, mas inaugurando a contínua incerteza: é como se a Esfinge desolada por ter que fazer Édipo acreditar que acertou alguma coisa se jogasse do penhasco como quem diz: - Junta-me os cacos e me faz inteira de novo. No mais, torço todos os dias para que tuas lágrimas conheçam ombros e abraços e teus sorrisos sirvam aos horizontes. Porque não é por não sermos afeitos à condição de terminar que sofremos, pensar isso é como fazer e responder enigmas e que benefício real isso trouxe ou traz ao modo como nos contamos na história? Não estou dizendo que tenha que ser eufórico, mas consulte-se sobre ser feliz.



                            Imagem: Christophe Jacrot, "NYB Full Moon",
                            from series "New York in Black".

sábado, 26 de dezembro de 2015



Antes de ver imerso em tato era olfato modelando paladar para que do monólito fizesse da audição existir palavra que se confundisse com a condição ser.

- É chá, porque mente é condição temporal e mentirosa demais para se dar crédito maior do que tratar a dor de um.

Sobre o porquê de palavra ser sempre mentira: existe interpretação; a ti basta ou tento te convencer?

Sim, como que para existir corpo que comportasse a condição de ser: cada sentido veio agregar-se e ao longo do tempo até passamos considerar sobre nós relevantes os significados.

Ser é como estar a serviço de sentir que é condição do meio.

Se houver algo em si para além da condição de sentir e de significado, talvez este seja mais propriamente você.

Somos o que saboreia.

                                                     Imagem: Matteo Pugliese

sábado, 19 de dezembro de 2015



Seria justa a ideia cuja as palavras que a expõe não fossem orgulhosas em possuírem sentido. Enfim, até entre os construtos que nos comunicam mora a vaidade e nisso que meu eu invade o que digo quererá sempre vitória sobre o eu de quem me lê. Acho que se eu fracassar você terá me entendido de forma única, teremos sido originais.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015



Quando era criança sempre fui um dos mais entusiasmados com o fogo, às vezes tenho impressão de ter sido eu causador da recorrência dele, nenhuma outra coisa eu admirava mais que existir o fogo. Eu procura pedir aos meus amigos mais próximos para encontrar tudo que pudesse virar fogo; em segredo, porque, me lembro dos adultos dizendo: - Crianças, quem brinca com fogo amanhece mijado. Acho que devia ter algo a ver com sentir medo do fogo, porém me assustar por existir o fogo nunca poderia se tornar pesadelo para mim - era o sonho mais lindo existir o fogo. Sorte minha, azar o do ditado deles, sempre amei o fogo, felicidade era sustentar as chamas pelo maior tempo que nossos pais permitissem - nunca houve limite para os meus olhos e acho que das outras crianças verem beleza no fogo. Ver queimar, ver derreter, ver acabar em luz era bonito demais e contradizia as evocações dos primeiros evangélicos - na época pacíficos e não-fascistas -, enquanto seus filhos ingênuos entre outras crianças ingênuas sorriam por manterem a fogueira, porque sei que para nós fogo era luz e felicidade: crianças sem religião. Os evangélicos eram poucos e ainda não tinham virado um nova Inquisição e se tornado fariseus políticos como o Eduardo Cunha, Silas Malafaia, etc. Cabe processo por emitir juízo de gosto ou se tomarem conhecimento, sendo brasileiro, devo contar dias até que o dinheiro dele me queime? Malditos para mim, porque tornaram fogo arma, sendo que fogo era felicidade entre nós ingênuas crianças apesar do que acreditavam nossos pais. Na minha cidade o inferno era a água por conta das enchentes.

Eu que nasci perto de um grande rio e soube de tantos se agonizaram nas águas por afogamentos ocasionais ou enchentes, sempre vi no fogo um tempo de existir empírico depois da morte, um paraíso.

Se eu tiver recursos e muita sorte vão queimar meu corpo, vou viver no fogo pra sempre e ser lembrando completo sempre que me acenderem.



Entre todas as nuvens ficam-me as passageiras.

Estou translúcido enquanto te vejo fosco.

Por que só você existe?



Ao final das contas se explica-se por números,

poderia o fim terminar em excesso?



Ah, condição humana,

quando haver tem a ver com existir

- excetuam-se coisa e excedem os seres -,

então só nos cabe a 'turbulência'.



Recuso-me inaugurar Certeza,
enquanto qualquer linguagem me fizer uma pergunta.

sábado, 12 de dezembro de 2015



Se ser for onda e tudo mais sendo mar,

isso que chama de eu,
onde ancora?

Então ilha descrita mais se assemelha a continente - sólida no conforto que se afirma, emerge das possibilidades.

Depois: monstruoso continente à tona de um tão relativo oceano dicionário. Até ver tantos que o habitam considerando-o eternamente sólido: como invenção convincente.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015



Em meu peito não dormem soluções, enfim: sou pulso.

Amorfos meus sentidos entram em ideias, mas me falta é você.

Que causa será maior que um entusiasmado ver-se para além de si ?

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Não amor, se não te digo causa primeira te chamo continuação.


                                          Imagem: Zona Diversa MX


Beckett...

Samuel,
talvez Godot seja prospecção e para nos sentirmos seguros inventamos um futuro previsível - ao qual se evoca e invoca. E para que os mais simples também acreditassem, inventamos um nome que pudesse ser gritado nos estádios.

Mas enfim se formos ideias, somos duelos entre certezas e dúvidas potenciais em confronto: deuses e titãs.

Entre a causa e a causação está sentada a página em branco, incólume e eterna inércia.

E se me cabe escolha, declaro vitória à condição de útero. Não me importa o ser, mistério é saber existir o vazio. A verdadeira beleza é na ausência.

Ao meu redor tem tanto espaço.

           Imagem: photo ©Boonlert Rojanaboworn — com Redita Nesvarbu.


















Entre tantos óbvios históricos, sobre o que não acontece como fato minha imaginação acampa. Tenho sido impressionista como quem quer do instante um relato que escapou aos olhos, tenho sido expressionista como contingência da ausência dessa mesma impressão que possa se dizer em comum. Pura demagogia no sentir, vivo como esteta hedonista tornando claro até mesmo o inferno, então afirmo: - Malditos são os que desconfiguram sentidos, para estes nenhum demônio será ameaça. Porque o que te impõe medo - em essência - é juízo de gosto.

Não ter existido coisa nenhuma de real importância não desobriga as pessoas de sentirem: então elas se pesam por e para sentirem juntas.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015



Úmido o concreto faz nascer vida como quem transpira musgo por entre as frestas de sua dureza perecível. E eu que sou tolo, descobro que plantaram um pé de sorrisos na rua onde moro, eles nascem pequenos às vezes na estação chuvosa então os ventos espalham pelo chão como ínfimas flores, porém cada uma conserva orgulhosa a existência microscópica de pétalas brancas. E elas são tantas que me arrisco dizer que horizonte é perspectiva da alma ou quem me explica o porquê de eu enxergar horizontes em plongée?

Talvez se te amarem tanto quanto a eles mesmos te deixem vivo: tudo mais que excede ao humano.

                                                 
                                                       

sábado, 5 de dezembro de 2015





Ontem, hoje e amanhã.

Desde que me desinteressei sobre o que sou me tornei tantas coisas.

Nenhuma autenticidade em exato no que sinto,
tenho sido olhos e desejos que doem como vontade.

- Entenda. Para que se complete em si: vontade é história que insiste em acontecer, apesar de impulsos próprios de cada hora...
tudo mais é coletivo compartilhado.

Enfim: sou terminal... e...
completo é o sol, causa em si... completo é o vácuo, causa em si...

Antes de olhos matriciais tudo é finito: amei o fim, amei a morte... sorrindo quero tudo que termina - perdoem-me se me dedico amar o que a maioria rejeita.

Se a condição de ser navega... a morte é porto.

Excedidos os desejos dos instante, serei dedicado aos desejos que persistem
para que se cumpra minha cartografia... 
até ser de novo pulso.

Porque se duvidar volto a ser...
em barro, para que antes de ser em insistência uma próxima a chuva me desfaça.




Extinguiu-se aquela curva por te ver passar reto

E desde que eu te perdi antes da primeira chance

Meus horizontes se ocupam inventando montanhas



Pierre Bonnard (French, Les Nabis Founding Member, 1867-1947):
Rue Tholozé (also known as, Montmartre in the Rain), 1897.

sábado, 28 de novembro de 2015



Em parte sou filho deste sempre mesmo fogo que garantiu vida a todas as tribos humanas sobreviventes. 

Não porque negassem a noite. 

Mas por também inventarem histórias que esclarecem a noite em torno das fogueiras. 

Que algoz resiste à invenção como verdade que o justifica? 

Caberia pedir perdão por nos ocuparmos enquanto se ocupa de nós o tempo?

Não, longe de nós sermos tempo. 

Porém somos um algo sobre anteparo à condição de passar: éramos, somos e seremos. 

Disso somos feitos e afeitos. 

A civilização humana é máquina. 

Que por transmissão: se agregam ou desagregam peças.

Assim se despedem e dão boas vindas os olhos humanos.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015



Eu que nunca me completo, seria justo que me dissesse dia?

Não.

Perdão se a enciclopédia de sua certezas me encontram noite.
Sofro do mal daquela parte não escrita, daquilo que ainda não tem significado.

Enfim, tenho mania de inventar: acabo-me sempre antes do início.

No máximo - se te couber ousadia - chama-me: impulso de cada instante. E então te aguardo sincero. Amorfo aos significados, esperando nos inventarmos juntos.

sábado, 21 de novembro de 2015


A eternidade está nua e despersonalizada acenando para todos que se amam tanto a ponto de se perderem frente ao óbvio de cada instante: o você que existe é agora.


- Não, eu não estive, não fui e tão pouco irei...

E para além disso cansou-me fazer aquela série de opostos, levando-te subir e descer montanhas para que talvez transpire tua alma fria.

E se quiser saber o que sou: - Coisa nenhuma.

Porque toda vez que recebo um nome me sinto apertado...

E mesmo que por força da loucura dou um jeito de deixar logo de ser arrebentando a casca até tornar-me variável.

Quando era criança às vezes ouvia adultos dizerem: - Fulano ou fulana é impossível de lidar, é variável...

Azar o meu porque eu amava aquelas pessoas variáveis, quase sempre eram as que estavam certas sendo exauridas em discussões pela mediocridade moral.


                     Imagem: "Marinero en la calle", Garry Winogrand (1950)
                     Zona Diversa MX

segunda-feira, 9 de novembro de 2015



Essa beleza incansável que por entre formas salta e se põe completa desde o começo - sempre ao abismo chamando atenção de todos nossos vãos. Então diz silenciosa: - Dia qualquer te faço pleno depois de encontrar em mim o que a você faz falta. Sem ao menos ter ido por um só instante, nunca vem. Mas ao sabor dos que enxergam faz tempo, a imaginação pacifica com sonho. Porque a noite será sempre dos amantes, até mesmo dos solitários.


           Imagem: foto do modelo Filipe Miller Navarro



Janela aberta sol invadia a sala iluminando a poltrona aposta ao sofá que sentávamos minha mãe e eu. Sem rito de gênero, nossa conversa valia mais que sexismo. Ela que estivera limpando a estante, deixou cair o livro marcado pela rosa seca. Depois disso veio aquele sofá sobre o qual falei e nós dois sentados opostos aos reflexos difusos de um sol intenso, enquanto ela me dizia do costume de sua mãe - minha avó - secar flores por entre páginas. Acho que na vida vim pelo inverso, então comecei pela neurose e faz pouco tempo que me dedico à perversão, digo isso porque precisei ser respondido em um tanto de perguntas até entender que era suficiente uma pequena flor ou folhas - guardadas por papéis dispensáveis - por entre as páginas de um livro pesado. Me segurei para não fazer daquele momento a secagem de um jardim inteiro, fui minimalista e me senti confidente pegando uma pequena rosa para guardar naquele livro.



                            Imagem: Arak Photography

sábado, 7 de novembro de 2015



Como o ápice da parábola todos os sentidos se concluem simultâneos. Malditos os que responsabilizam as sombras como por culpa, sem perceberem que as elevam à condição mais sublime.

Ah razão natural não te ofenda com tempo e os defensores de instantes, chega logo a conclusão histórica: eram seres óbvios - hediondos ou medíocres - devotos aos termos à chamarem a maior luz de sombra.

                      Imagem: Amor Gay


Entre tons
Porquê não sabemos
Mas sobram notas 
Além das músicas

À beira mar sozinho
Te ganho horizonte no oceano
Nunca foi tão a perder de vista
Puro sonho

Côncavo da mão
Da pouca água que lhe cabe
Da pouca terra que recolhe
Deixa germinar

sexta-feira, 30 de outubro de 2015



Por que a sobrevivência do Estado / país / nação como causa de paz depende de ser ele ético, pacificador, ordeiro, gestor econômico e amoral?

Se em algum tempo histórico o Estado / país / nação representou unidade simbólica em sentido amplo, já não mais concilia cidadãos em termos simbólicos. Os países não são pontos comuns de uma Cultura - se é que um dia foram - esse tempo atual e as condições históricas de comunicação puseram fim ao modelo de Estado / país / nação que talvez correspondesse à unidade comunal de símbolos e significados.

Se excetuarmos o uso de força bruta e morte contra outras Culturas como fez o Império Romano, temos que conceber um Estado / país / nação que assimile a multiplicidade espontânea surgida da interação de comunicação entre as diferentes Culturas. Se optarmos pela paz, o modelo é de um Estado amoral, ordeiro, pacificar e gestor econômico, então temos que abrir mão de tudo que represente tendência e opinião grupal e defendermos a paz e a ordem, à despeito de tudo que se mostre preferência como ideologia, como opinião sobre comportamento humano, etc. Toda e qualquer medida política diferente dessa só é realizável com os massacres, guerras e com sobrepujar símbolos da diversidade. Amplio ao máximo o sentido de Cultura e símbolos, incluo tudo que significa e se faz representar.

Por enquanto desconheço qualquer outra medida de paz: o Estado / país / nação tem que ser gestor econômico, pacificador e ordenador amoral das populações, tudo mais me parece conduzir à guerra, à morte e ao destruir pensamentos para que prevaleça forçosamente uma unidade Cultural e simbólica.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015



Longe de ser genial.

Pouco me coube ser medíocre.

Me sobrou ser estranho.

Sou o impulso reticente em seu pescoço:

me olha e me nega no mesmo instante.

E enquanto te ganho vou te perdendo até que...

me resta a continuação da calçada.

Aprendi fazer silêncio e achar suficiente.

Sou rebelde,

então minha montanha russa

é

só infinitas possibilidades.

Não me contam,

mas os que contam fazem para mim.

Fico feliz que me reconheça,

prazer sou aplauso.

Sou finito,

como coisa conhecida.

Sou versão original,

porque só eu conheci a direção

dos meus olhos e pensamentos.

- Amigos, perdão:

se tempo for medida ímpar
alguns instantes
talvez por egoísmo
tenham morado só em mim
fiquei originalmente eterno

em parte
desde então.


                     Imagem:Richard Diebenkorn (1922-1993) Still Life, 1957.
                     Facebook: GRAND ARTIST

quinta-feira, 22 de outubro de 2015



Pequeno esboço sobre as formas

Duas grandes teorias científicas disputaram atenção das pessoas com explicações sobre a origem das espécies, em resumo a primeira atribuía ao esforço do ser as modificações em sua constituição, enquanto a segunda se apoia na cresça de uma origem comum que transmite características através da procriação dos sobreviventes em cada ambiente nos quais se expõem.

Estive atento a segunda teoria, ainda acredito ser a mais crível e melhor acompanhada, se fundamentando ao longo da história, mas pensei em um fator que talvez, em parte, dispensasse a origem comum como elemento que justifique as semelhanças e diferenças entre os seres e as espécies: o ambiente como condição 'sine qua non' à forma.


Se pensarmos no ambiente como condicionante inequívoca de tudo que se manifesta, então independente de transmissão de características por reprodução ou surgimento de novo 'tipo' de ser, ambos estão sujeitos e condicionados ao ambiente. Por exemplo, novos vírus surgidos têm características que são resultados de condicionantes do ambiente em que se manifestam.

Vejamos pela condição física por uma ilustração simples: a coisa gota de água não depende de transmissão para que seja gota de água, ela tem uma constituição material sujeita às condições de um ambiente.

A sequência Fibonacci também corrobora com essa ideia sobre as formas; talvez serem respostas a um universo matricial?

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Esse 'pequeno esboço sobre as formas', sem fundamento e ingênuo, talvez possa valer como uma crítica ao especializarmos o entendimento de alguns fenômenos quase de modo restritivo, por exemplo a vida orgânica tem sido pensada por séculos quase que exclusivamente pelas ciências biológicas, sendo que como fenômeno manifesto ela também poderia ser compreendida a partir da física.

                     Imagem: Matrix / Cinema 

quarta-feira, 14 de outubro de 2015


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De como jogar pigue-pongue sem deixar a bolinha cair
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De todas as construções humanas essa - o cemitério - é um das mais significativas, enquanto ainda a vida a viver é preciso que em oníssono todos admitam:

- Ao certo, ninguém sabe de porra nenhuma.
O tempo e o registro histórico vem ridicularizando todas as crenças, saberes e ciências sem exceção. Não porque sejam mentira, mas porque nunca foram verdade. Afinal para ser verdade singular a aplicável a todos sem exceção teria que possuir todos olhos, ouvidos, tatos, olfatos e todas as outras maneiras de experimentar a existência para que se pronunciasse de um lugar sem exceção. Nunca houve e talvez nunca haverá o que represente a verdade, exceto se assumir mentira ou verdade parcial.

Mas existem mentiras, ilusões, menos ou mais agradáveis, construtos mentais menos ou mais agradáveis, que melhor se adaptam ao que você tem potencial para ser e que te elevam a condição da satisfação para consigo. Óbvio que mentira assumida por lógica assume carácter de verdade.

Para quem assistiu "Caverna do Dragão" vai entender: é aquilo e talvez um dia acabe assim como acabou o desenho animado, sem final e simplesmente porque os jogadores pararam de jogar RPG e de inventar o roteiro.

E para quem não assistiu eu resumo: um grupo de jovens está preso à uma existência diferente da deles, como que em outro mundo, então vão cumprindo provas para sair desse mundo e voltarem para casa, mas a série de desenhos acaba e é isso. Eu teria tentado comer o 'Hank', formar família e ficar por lá mesmo, sem sofrer pela mediocridade de conviver com quem 'compõe estatuto da família' no séc. XXI, mas não tive a mesma sorte que eles e estou em outro brinquedo do parque de diversão.

Tem uma lenda urbana de final para "Caverna do Dragão" que só existe no Brasil e surgiu no Festival de Cinema de Tiradentes, nela dizem que o Vigador é filho do Mestre dos Magos, etc. Mas essa foi a forma como nós brasileiros fãs fomos capazes de lidar com ausência de razão que nos parecesse significativa para ter acabado o desenho animado.

Nossos 'significados', 'razões' são tendenciosos, comprometidos sobre vários aspectos, para começar pela necessidade de ter significado, lembrando que ter significado parece condição de satisfação da nossa espécie, outras dispensam essa 'necessidade' e são simplesmente.

A mim quando relativizo dessa forma faz surgir uma sensação de vazio, porque eu sempre acreditei e fui encucado que existisse uma 'razão', um 'sentido', um 'significado', etc E preste atenção, eu não estou negado essa possibilidade, mas estou dizendo que se existir qualquer 'significado', para que ele compreenda e satisfaça o fenômeno existência por inteiro deve extrapolar esse conceito - mesmo por aproximação - então já não serviria a nós como espécie, que somos só parte do todo manifesto. Sua inteireza não caberia no conceito.

Em mim, sei que a dor nasce do pensar e da memória, toda vez que me coloco presente e atuante sob as circunstâncias presentes tenho a liberdade de um bicho, de um animal e costumo experimentar alguma plenitude de reatividade às circunstâncias reais com medidas proporcionais de ação. Acho que essa deve ser a mesma experiência dos equilibristas, acrobatas e outros que são mais evoluídos em sentido motor que a grande maioria - eu queria ser igual e esse pensamento me faria sofrer se eu não soubesse que pensar é causa de sofrimento, porque me desloca para o abstrato, me tira das condições circunstanciais reais e presentes -, mas voltando aos equilibristas, acrobatas, me parece que eles se educam para não pensar e simplesmente reagem ao fluxo com medida natural justa e talvez também por isso tenham êxito.

Existe dor nos pensamentos nos quais você se associa ou se faz tema; ideias sem envolvimento pessoal por si são confortáveis de serem pensadas.

Por fim, fazer isso não invalida nenhum caminho e justifica todos, o fato de não existir a linha reta talvez te inspire a respeitar todas as linhas curvas.

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Eu menti em muitas linhas e se você mentir junto comigo não faz disso uma verdade, mas torna possível falarmos agradavelmente sobre a mesma mentira.

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            Imagem: In London's Highgate Cemetery,
            by Hannah Davis; http://bit.ly/1Lfl5f3
            Faerie Magazine

domingo, 11 de outubro de 2015



Sob pressão, hálito, suor se desenham sonhos.

Lisos contornos ancoram em metal: a pulsação.

Titânio. Emerge o ídolo à luz do sol dos que ardem.

Reserva. E à noite mais fria busca em você calor.

Se tua vontade te faz fluído é mais que máquina.

Por isso cresce como se quer inventando medidas.

Este ser férreo enquanto se doma cavalga sentidos.


                                                                                  Imagem: Marc Fitt.

sábado, 10 de outubro de 2015


Me olha e vou me tornando. 
Me guia teu pulso e cheiro,
para que você transpire toda a maioria das coisas que existem apesar de não terem nome. 
Tato é dança, espontâneo. 
Mas fico grande e sem caber em sua boca e garganta: ganho nome. 
E você me chama! 
Passo ser, sendo que já era.
A gente se alcança no vazio de cada um. 
E toda essa falta se enxerga como agir. 
Descobrirmos juntos que nem eramos falta.
Eramos ouvir música sem dança.

                   Imagem: "Nico", Bruce Weber (2010). In: Zona Diversa MX

sexta-feira, 9 de outubro de 2015



- Vê essa parcela em mim que ainda queima?

Enquanto você procura, sou todo cinzas e me elevo ao vento na esperança de faiscar.

Então você me diz: - Nada queima, você mentiu.

- Sim: se achou que fosse me encontrar na resposta.  E não: se você entender que sou a pergunta.

Então você me diz: - Arranja-te entre os vazios, justifica-se para além dos olhos como fantasma que foge da cova para viver na imaginação. Por que se disse fogo?

- Se eu responder me descaracterizo e você merece sinceridade.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015



Verdade,

escuta-me enquanto ainda sou capaz de dizer:


- Você inexiste como coisa única e compartilhável e vive plena aos olhos e contos de cada um.

A cada olhos que te veem aceitam-te em parte e negam-te em parte, porque são parte daquilo que é você – simultânea de muito fatos e versões.   Esse tudo escondido em incontáveis que sempre se fez conhecer e se manteve escondido por estar aos olhos de cada um.   Meu alívio é enxergar-te em contínuo, nem vida ou morte, nem começou ou fim, mas lugar presente de tudo que me presenteiam como versões de ti.

Eu chamei-te tempo não porque fosse tempo, haja visto que o passado é só parte de si - e ser algo é limite e fim - és tão plenamente tudo que dizem de si que qualquer coisa e menor tomada como verdade, se considerado o todo que és contínuo e sabido por cada qual só em parte, seria em parte mentira dizer ser verdade só parte do que és.

Mas suficiente aos olhos individuais, te deixo eternamente sendo em cada qual dança única do tempo presente.

Usem com sabedoria e respeito: - Te deixo flores que fazem sorrir.

            Imagem: minhas desculpas e agradecimentos aos autores da imagem.
                     


terça-feira, 6 de outubro de 2015



Desde que o sol irrompeu à noite insólitos fantasmas vagueiam preenchendo uma infinita série de monólitos. E meus olhos vazios de luz tentam enxergar olhos que os reconheçam.

O sol que mais ilumina traz consigo o deserto. Por enquanto olhos perdidos e os meus incertos se cruzam. Mas toda essa escuridão que veio morar em mim talvez um dia sirva ao brilho de uma estrela.

- Perdoa-me. Amanheci cedo demais, fiquei de noite e quando menos percebi era supernova, desde então tenho sido: vazio.


          Imagem: "Konstantin Kaminin", Serge Lee (2014). In: Zona Diversa MX

sexta-feira, 2 de outubro de 2015



Nem respostas ou perguntas, em mim mora a síntese possível neste agora, sei que não me suporta porque então seríamos dois, mas reserva-nos a natureza a glória das diferenças





   Imagem: El arte de Walter Pfeiffer, in: Zona Diversa MX.


Horas que se querem a dois transformam-se em conversas quando se está sozinho. 


Recuso-me levar-te a taça à boca antes que teus olhos amadureçam o vinho. Sim: outono, inverno, primavera ou verão, sem importância, mas é preciso que seja tempo de colheita em você.

- Agora, por respeito a tua falta, cala-te tornando-se uma coisa qualquer que me ocupe, já que até mesmo seu nome escondeu de mim. 



                                         Imagem: Zona Diversa MX

sábado, 26 de setembro de 2015

Marc Fitt

                     Imagem: Marc Fitt


Vênus
Deliberadamente se desenhando e cada traço inventando a história do corpo humano.
Meus olhos de alcançam, meus sonhos te querem navegante, tua beleza é o compromisso do corpo pronto para hoje e inventando desejos de amanhã.
Não,
me excetuam os compromissos em dizer aquilo que você não foi, porque plenamente se realiza em corpo o que você é: desejo. E eu te acrescento todos os dias em meus sonhos como quem respeita sua realização.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015



Seria bom que eu te quisesse só um pouco, mas nessa posição tão entregue mais que justo eu ser sincero, objetivo, veja bem:

Se em um salto alcançasse o mais alto da atmosfera ou mesmo recolhesse do céu em imagem uma constelação. Ou:
Se em corrida avistasse tudo na terra, feito e se fazendo por distração. Ou:
Se em mergulho profundo encontrasse puro fundo, início de mundo. Veja bem:
Nada disso é mais belo que coincidência em vermos belezas em imagens.
Perdoem-me: - Exagerando de vida matei a poesia, tornou-se um poema?


                            Imagem: Zona Diversa MX

quinta-feira, 24 de setembro de 2015



Essa pequena caixa
seguramente fechada

sem entrada ou saída

translúcida

segue inexistente

capturando todo sonho
como se faz nuvem
a cada gota d'água.

Não você ou eu,
como acreditamos,
mas o que enxergamos é: o vão
do que nos transpiramos.

Como chuva fina
ou tempestuosa
sobre o oceano.


     
















                       Imagem: El arte de Brian Jamie. In: Zona Diversa MX


O efeito da verdade no falar e pensar é libertador e por mais de uma razão, uma ilustração talvez ajude entender, imagine-se como 'vontades' querendo serem pensadas ou faladas a alguém como 'verdade', mesmo a parte que não vemos conscientemente, de algum modo, também abrigamos em nós, então, por exemplo, quando você diz gentilmente a 'vontade' manisfesta como 'verdade' a alguém em uma conversa, a 'vontade' que quer se manisfestar como 'verdade' no outro se realiza, por reconhecer um campo seguro para se manifestar também. Mas o inverso faz intimidar a 'vontade' que quer manisfestar-se como 'verdade' nas pessoas e esse artificialismo gera infinitas conversas vazias, que são como que as palavras erradas sobre o fundo branco de folha que corresponde aquele dia no seu imediato a cada instante. Neste sentido podemos dizer: a verdade é um lugar do qual não pode haver recaída, porque é simultânea justa a todos os eventos do imediato a cada instante, e a 'vontade' manifesta com encaixe perfeito, único para o momento presente no qual se quer ou se quis manifestar.


Seja livre e feliz, seja doce e deixe sua 'vontade' se manifestar como 'palavra' e 'pensamento'.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015



Eu era aéreo até que me cresceram raízes, hoje mal sei quem sou porque entre uma poda e outra nascem-me novos brotos, então certos períodos floresço e logo mais tarde me surgem frutos, uns me colhem, uns me podam e talvez um dia venham me arrancar, mas sei que terá sido tarde para me dar fim, tenho virado sementes.


                          Imagem: A robotic garden sprouts and flourishes
                                   in Ajgiel’s "Nature and Technology."
                                                        DeviantArt

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

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Tendo lido "O Demônio da Teoria" de Antoine Compagnon pudi constatar que às vezes o percurso de surgimento do clássico costuma ser bastante duro com os 'autores',  de modo que poucos são aqueles celebrados em seu tempo. A partir disso e traçando paralelo com "A Trajetória do Heroi" de Campbell sou levado a crer que a sociedade celebra mais o percurso que o feito em si e, por essa razão, entende como concluído aquele percurso no qual se reconhece 'hybris', 'hamartia' e 'catarsis'. 

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Van Gogh

sexta-feira, 18 de setembro de 2015


Terra, eu que te enxergo sempre nua mal aprendi a me vestir, então sigo em carne viva vendo a lápide cinza sobrepor-se à vida fingindo ser abrigo.


             Imagem: Zona Diversa MX in Facebook.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015



Desconheço algo que possa ser mais significativo e ao mesmo tempo que me esvazie de qualquer significado. Que o amor se encontre através das pessoas. E como um colocar-se em ponto equivalente de visão privilegiada, que assim seja o amor entre os olhos dos amantes: nem muito e nem pouco, bastante e à plena vista.


                     Imagem: "El arte de David Vance.", in: Zona Diversa MX

domingo, 13 de setembro de 2015




Se alguém souber o que é o ocaso, por favor, me conte. Faz muito tempo que ele mexe comigo, ritma minha respiração e lança em mim todas as certezas contra minhas dúvidas superficiais. Sim, o ocaso é exigente e se recusa acreditar nas mentiras que confortam. Acho que um pouco como eu, um pouco como Antígona em Sófocles, também o ocaso está no 'entremeios' lacaniano, nem vida e nem morte, nem dia e nem noite. Demorei muito a entender que o incomodo era me ver tão parecido com aquele momento único, intenso, rápido e efêmero. Porém ainda que termine, todos os dias eu tenho algo da natureza semelhante a mim mostrado a todos, agora que estou acostumado a nudez já não me importo e chega ser confortável saber que eu sou aquilo que nunca será plenitude, nascimento ou morte, e vivo para sempre nas fronteiras das adjetivações elevadas ao absoluto, das qualidades puras.

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If anyone knows what is sunset, please tell me. A long time it moves me, makes my breath and throws me all my certainties against superficial questions. Yes, sunset is demanding and refuses to believe the lies that comfort. I think it looks like me, also looks like Antigone in Sophocles, because sunset is in the 'inset' [ Entremeios ] Lacanian, neither life nor death, neither day nor night. It took me long to understand that the inconvenience was I perceive myself as like that moment, intense, fast and ephemeral. But still to finish, every day I have something of nature like me shown to all, now that I'm accustomed to nudity just do not care and is comforting to know that I am that will never be full, birth or death, and live forever border of adjectives that are elevated to the absolute, the pure qualities.


  Imagem: ALBERT BIERSTADT (1830-1902); Facebook: Open ArtGroup

domingo, 6 de setembro de 2015



Um, dois, três, quatro,
Cinco, seis, sete, oito...
- E nós que nos escondíamos juntos... 
- Preciso contar, me espera?
Então, porque não posso te encontrar, te encontro:
no cheiro da terra molhada de chuva,
no barulho do vento mexendo nas coisas,
no entre tons de vermelho e preto da noite mais fria e escura.
Vou te escolher por último
Preciso te fazer ganhar
E é porque você não me escolhe que vamos de novo:
nos escondermos juntos.

terça-feira, 1 de setembro de 2015


Algumas pessoas culpam a beleza à medida que querem dela mais do que ao que ela se destina. A beleza é um estado de espontânea generosidade, algo que por si e pelo que se é - sem nenhuma outra causa necessária -, se estende ao deleite de outros. Qualquer ideia além disso é característica extra que se atribui à beleza, o que pode aumentá-la ou diminuí-la em seus significados. Mas ela permanece lá, apesar de nosso despeito ou exagerado vislumbre: sendo pura doação.



   Imagem:"El homoerotismo de Greg Vaughan" in: Zona Diversa MX




Tenho amigos muito significativos que jamais me deixaram apesar de estarem longe - sou provido de memória, gratidão, pensamentos -, mas também sou e tenho sido alguém bastante sozinho, ultimamente descobri que eu ser sozinho pode ser mais incomodo aos que me observam do que a mim.

Acho que alguém algum dia disse que o ser humano é um ser social, então na falta de percepção mais ampla sobre o fenômeno de ser e dando continuidade a tradição as pessoas seguem sendo o que contam para elas, mas no fundo é bem mais óbvio e inebriante: ser é tudo o que sabemos e sem exclusões. Já o não ser é o que está para além da curva, inclusive da imaginação, ou a frase de Descartes: "penso logo existo", perderá sua conotação também metafísica.

Um amor, um farol e o oceano.


                         Imagem: Isle of May, Scotland
                         By Bruno Billion

quarta-feira, 26 de agosto de 2015


Enfim, te perco porque te busco errado.   Descobri que você não é um fim, é  uma curva.   Agora que sei desse nosso a dois inconclusivo, queria te chamar para brincar de ciranda: - Me aceita como quem não te alcança, mas se ocupada por toda vida te buscando?   

quarta-feira, 19 de agosto de 2015



Quando, no cotidiano, estou por me acabar: solitário ou em bando, também eles me desenterram. E de mim na terra ficam mesmo só as raízes. 

Ah, esses pássaros.

              Imagem: Birnaz Kurt.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015



Meu silêncio te alcança

Aéreo, fora do chão

À beira do próximo passo

Vivo eu e todas as dúvidas

- É por saudade mais escuro o último instante da noite antes de nascer o sol.

           Imagem: Facebook; Zona Diversa MX; El arte de David Talley.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015



Entre início e fim tenho sido prólogo

- Você veio...

- Se não me esperava, por que fingir surpresa ?

- Esse vinho é bom.

- Quase não te conheço com esse casaco azul.

- Nada surpreendente nesse silêncio entre nós... tem a ver com o tempo, certo?

- Falando assim melhor medir a distância certa entre você e eu, pra evitar constrangimento.

- Senta em qualquer lugar... mas falo do guarda-chuva.

- Que mania sua... sério, quantas vezes você leu esse livro?

- Faz uns dias lembrei da gente naquele lugar.

- Pior... você ainda usa marcador de páginas.

- Cuidado... por pouco não derruba a taça com o cotovelo.

- Ahn?

- 33... o marcado é por costume.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015



Meu ego me captura pelo futuro em uma questão recorrente, mas à medida que experimento essa ideia ela tem se tornado cada vez mais clara para mim, então vou descobrindo meu gozo em ficar na fronteira, mais que gozo vou descobrindo o porquê de ficar na fronteira, faz pouco tempo que descobri que amo uma ideia de amor - estranho, não ? -, isso mesmo na falta de alguém ou talvez por ter vivido outras experiências descobri como saída amar uma ideia de amor e tem sido assim, amor vertido ao abstrato, até que alguém faça sentido ou me demova dessa ideia de amor. Na verdade, por experiência acumulada, eu sou levado a crer que a primeira é a única alternativa segura.

Não me examine assim como quem tem certeza, mas se achar alguma certeza sobre mim me confidencie.

Voltando à ideia de amor como contraponto à pessoa - isso se você quiser ser íntimo de mim por leitura -, saiba: eu tenho poucos projetos arquitetônicos sobre esse amor, mas escuto continuamente a música e sei de cor todas as sensações que deverá me causar. Entende? Eu sofri como muitas pessoas por querer fazer música na edificação que ocupava, então hoje estou tentando ter acuidade suficiente para primeiro reconhecer a música certa e depois arquitetar.

Outro dilema: fico pensando que o outro como minha música e eu como música dele deveríamos ser irresistíveis um ao outro, então se isso estiver certo não deveria ser ninguém que eu já conhecesse. Porque ainda faltou a coincidência.

Imagem: "Polvo", Olivier Valsecchi (2010).


Segue o presente imediato vitorioso em silêncio
Tudo é suficiente, exceto à uma mente solitária
Em cada objeto de ódio o amor se esconde mais intensamente

- Hoje vi por horas a margem odiar a ponte, então depois de exausta se descobre terra e sendo a ponte ligação entre seus dois lados.


Em meio a um tumulto em sala da aula um aluno me perguntou sobre pensamento, então eu disse a ele que costumava não pensar em algumas ocasiões, ele estranhou minha afirmação e então eu completei meu raciocínio: - Por exemplo, em agora que vocês estão muito agitados eu não penso em nada, vocês são meu pensamento.

Mais recentemente eu disse que achava o ser humano muito pretensioso se dizendo racional, se até tomando um susto as pombas levantam voo mais organizado do que pessoas capazes de falar se agrupando em fila.



Vajrapani Painting at Mogao Caves's Hidden Library, Dunhuang, China Power and anger personified. Late 9th Century, Tang Dynasty. Ink and colors on silk.


Em 'Mahanirvana Tantra', um dos mais importantes textos do gênero, Sri Shiva em diálogo com sua amada consorte Parvati esclarece que em Kali Yoga - na Era em que a morte é nosso mais importante evento de comoção, de ligação entre nós -, o Tantra - e nesse texto ele se dedica ao Kaula Tantra - é a única possibilidade de liberação no samsara. Eu poderia me dedicar feito um Pandit, explicando cada curva que o amor faz então ficaria claro os muitos tantras existentes como aspectos de liberação, de libertação no samsara, eu poderia encontrar várias razões para explicar o destaque dado ao Kaula Tantra, mas Sri Shiva com sua sabedoria sintética - assim como termina o referido texto resumindo todos os mantras ao ' OM TAT SAT ' - talvez quisesse nos apontar o óbvio: além da morte como grande união - Kali ( deusa da morte ) Yoga ( sentido de unidade ) -, nesta época de poucos seres apaixonados pela abstração intelectual, pela contemplação dos fenômenos manifestos, o amor vivido intensamente é a força preponderante a tirar o ser da infeliz condição de ser: um em si, de viver por si exclusivamente, de ser puro ego; mais comum ainda ser a Kaula Yoga Tantra, o amor sexuado, o fator a nos tirar dessa condição de limite perceptual, de pouca participação em relação: ideias, seres e coisas além dos que nos parecem só nossos.


Quando Sri Shiva, ou se preferirem Sri Siva, estabelece ética sobre a prática do Kaula Tantra - amor sexuado - ele cria dharma nesta prática, porque o ego será dissolvido e o sofrimento será evitado. Por esse meio, no período que corresponde ao texto, ele evitou que os seres fossem cor / ruptus na prática do amor sexuado.

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Segundo Tsong-Ka-pa basicamente são quatro os tantras, como nos apresenta do 'Tantra Samputa':

"Os aspectos de rir, olhar,
Segurar as mãos e abraçar
Residem como quatro tantras
Na maneira dos insetos."

Tantra Hevajra:

"Rir e olhar
Abraçar e unir,
Os tantras são de quatro tipos."

Em 'Vairochanabhisambodhi'

"À direita a deusa chamou
Buddhalochana, que tinha
Uma face levemente sorridente.
Com um círculo de luz uma braça cheia,
Seu corpo inigualável é muito claro,
Ela é a consorte de Shakyamuni."

Em "Paramadya":

"Desse lado está Mahavajra
Segurando uma flecha, ereto.
Sua mão embraça, orgulhosa,
Uma bandeira da vitória
[ Adornada ] com os monstros do mar."

To be continued...

sexta-feira, 31 de julho de 2015



Sem pressa. Aprendi que se há dúvida não é pra ser, insistir é carência que vai machucar alguém no futuro. Amor a dois só quando é certeza nos dois, no mais é: atração, tesão, carinho, afeto, sexo, coisas muito boas também, mas não me parecem suficientes para querer existir juntos, querer existir muito perto. Então se for por conveniência melhor abandonar o ideal de amor romântico, apaixonado e lançar concurso com edital público: provas, títulos, análise de currículo... porque sinceramente neste caso, mais honestas são as 'putas' do que quem inventa amor romântico por carência. Pra mim, você deve se amar tanto a ponto de só a pessoa que te desestrutura de forma gostosa merecer o convite para sonhar juntos, no mais lê e segue a lista do 'no mais' lá em cima para evitar muitos erros.

Porque - mesmo - de verdade: a gente sabe quando é pelo que já faltava em nós e quando a pessoa é o que nos fazia falta. A gente sabe quando é só nossa imaginação trabalhando e quando a presença da pessoa se confundi com a nossa imaginação.

Amor dói. 
Pára de achar que amor é para curar uma dor que já existia em você, para curar isso: assiste seriados, livros, festas, cinema, bares, casas noturnas. Não, amor romântico é uma dorzinha que existe causada por alguém específico. Então, entre: sim, não e talvez fica uma respiração ofegante, uma tontura, mas o remédio é sempre a pessoa que provocou a dorzinha no peito. E a pessoa que causa e quem te cura, as vezes sem saber: sorrindo, respirando do seu lado, falando contigo, te faz a melhor pessoa do mundo com um: - Oi. Ai, meu caro, minha cara, se por uma pane no azar os dois forem cobrinhas com venenos complementares, é igual caduceu de hermes, vocês terão a sorte única e invejável de se enrolarem e saberem que têm companhia nesta viagem, que uma grande maioria segue sozinha.


                                             Imagem: Amor Gay.

segunda-feira, 27 de julho de 2015


Sobre o desejo no caminho

O Guhyasamaja Tantra, de origem hindu, um dos mais importantes textos tibetanos. Na verdade inaugural no tantrismo secreto de vertentes Vajrayanas, este texto que ainda não tive a sorte de ler na íntegra, mas sei que no momento propício irei conhecê-lo. Esse texto que possivelmente é um dos mais importantes e que guarda nele iniciações do Tantra Yoga Superior, a mais reservada e alta escala iniciatória do Caminho Vajrayana, estabelece o desejo como mais importante referencial no caminho místico para atingir a iluminação vajra - que simplificando muito trata-se de um estado de inteligência [ inter / ligere = ler-se por dentro, conhecer-se de verdade ] e de pacificação, indestrutível haja visto que Vajra significa diamante, indivisível.

Por ser um texto Tântrico, ser uma trama como a teia de uma aranha, sendo este tão importante, possivelmente é uma trama que merece cautela e iniciação devida com um mestre competente em interpretá-lo, em transmiti-lo com segurança. Porém imagino que se eu disser nesses termos não estarei errando tanto: longe de sugerir a vivência de egos se sobrepondo sem nenhuma ética ou verdade, o Guhyasamaja Tantra diz que o desejo te encaminhará à pacificação, à inteligência, à conquista de uma mente Vajra.

O diamante pode estar sem polimento, pode estar ou ficar embotado por resíduos que o cobrem escondendo seu brilho, mas isso é efeito temporário e frágil depositado sobre a dureza que o constitui diamante. A mente é esse diamante e talvez viver eticamente os desejos seja friccionar, seja se polir com verdade para se reencontrar transparante para si e para os outros.


P.s.: espero entusiasmado um dia ter a honra de ler o Guhyasamaja Tantra depois de receber iniciação necessária com mestre competente, assim terei mais chances de compreende-lo em seus aspectos símbolos e transcendentais. 



                                         Imagem: Amor Gay


Nós estamos ensimesmados já faz bastante tempo... a natureza, a meditação, a contemplação foi quase esterilizada pela discursividade, inventamos infinitos nomes e estruturações lógicas discursivas para o vazio, que tem se mostrado sempre relativizado por nosso avanço ao longo do tempo histórico, no entanto a maioria das pessoas são incapazes de contemplar esse estado vazio imensurável e inominável que nos remete à uma gênese da mente como contemplação. Não falo só do surpreendente, mas falo da mente nua e especular deixando-se refletir pela Mandala Mahamudra que nunca se completou e nunca deixou de existir.


       Imagem: 3dfirstaid visual architecture.



sábado, 25 de julho de 2015


Um Senhor do Instante. Tudo nele se move ou pousa de verdade. Vive no contínuo de tempo eterno e sabe por fluxo tudo de seus ancestrais. Como nunca quis se distinguir, leva em si a experiência soberana do melhor de todos da sua linhagem.

                                    Imagem:Kingfisher by Jon Chua

quinta-feira, 23 de julho de 2015

 

   Sou bastante grande em tudo aquilo que nunca fui: sem esperança me preencho de imaginação e levanto do lugar confortável do limite do que sou.   Se insiste em saber meu nome: Cinema.


                                 Imagem: Last stop.  Photo by Ren Feria
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Só assim me amarão os intelectuais: enfim poeta político.

Existem autores e existem atores sociais.
Perdoem-me: sem rimas.

Existem líderes e liderados.
Perdoem-me: sem rimas.

Existem justos e injustos em ambos os lados.

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P.s.: logo volto ao romantismo prefiro sexo à política, assim como a natureza.


Aguardando... então:

Toc Toc Toc

Toda porta guarda: esperado ou surpreendente.

Não se deite assim como quem se enterra,
a não ser que esteja se plantando e amanhã floresça.

Teus olhos acariciam minhas ideias desde que me leu pela primeira vez.
Então me diz: - Autor devasso, são quantos?
Respondo: - Sem ciúmes, percebe que sou só você através de mim por palavras a recontar ideias suas provocadas por mim?  Segredo nosso: se fizermos em voz baixa ou em silêncio te devolvo a ti sem contabilidade e em sigilo.

Preciso ir. Para onde só no gerúndio: estou indo enquanto invento.

segunda-feira, 20 de julho de 2015



Não tema. E um vazio impronunciado se sobrepõe a todo som.

Do inverso para cá tenho acreditado que só existe som e tudo que por incapacidade não escuto passei a chamar silêncio. Me ocorre que silêncio sou eu quando só eu me escuto.

Depois de cultivar silêncio por muitos anos alguém torna-se capaz de fazer música. Agora você precisa enxergar, por exemplo, o avesso do que fazem as teclas de um piano e então vai me entender.

Falar é algo controverso: porque enquanto me ocupo projetando sons vão crescendo silêncios confortáveis em mim. Quem sente falta de pensar quando pode ser ouvido? Aprenda outro idioma e ficará óbvia essa afirmação.

Não tema. Concluo-me inacabado.

terça-feira, 14 de julho de 2015

  

   Me surpreendo como alguém insignificante como eu possa ter sonhos tão grandiosos, de modo que: se por controvérsia a vida me fizesse mendicante, minha imaginação desde antes já me quisera soberano.


   Por favor, não me tome por verdadeiro. Vê estas duas verdades lado a lado feito pilares de um pórtico? Considera-me o vão, sou feito à passagem, sem importância celebrada, que nunca receberá nome.


                                    Imagem: Facebook, Zona Diversa MX.
  

domingo, 12 de julho de 2015

   

   Minha maior dor é a insuficiência de viver todas as estórias que imaginei, por isso me assento ao lado do agora confortavelmente, cruzo braços e pernas e digo:

   - Enfim você me pegou, eu que me achava difícil fui alcançado pelo imediato e minha imaginação virou horizonte nosso.





                 Imagem: Faerie Magazine.

   

sexta-feira, 10 de julho de 2015



Sobre borboletas azuis


   Não muito longe da minha casa existe uma mata, então sempre que vou ao centro da cidade passo próximo a ela e todas as vezes desfruto de sua beleza, que me suscita reflexões. Um pensamento recorrente é: até quando ela será respeitada, haja visto que já tivemos um prefeito que cogitou fazer dela um condomínio de luxo. Essa desconexão com a vida não é característica exclusiva dele, ainda são muitos que não percebem o óbvio: o que somos é um conjunto de interações de um organismo maior, ainda que seja possível distinguir entre outro e eu essa perspectiva é irreal, ilusória, por exemplo: digo o ar e eu, no entanto nunca existiu eu sem ar. Esses 'grandes seres em fluxo' costumam cumprir a função de facilitar as interações entre os imersos neles. Até esse ponto os homens primitivos conseguem acompanhar o raciocínio de existirem a partir de condições favoráveis a existência deles como organismos, o que os homens primitivos ainda não alcançaram é a 'economia' e 'não gratuidade' nas manifestações naturais, se essas duas inferências forem reais sobre o modo como se fez e se faz a natureza, então as interações nesse ecossistema são muito mais sutis do que as que nos parecem evidentes, como precisarmos de água para vivermos. Se a natureza faz-se por economia e não gratuidade e sendo ela um organismo - ecossistema - qualquer modificação por menor que seja irá repercutir em todo o organismo, assim como ocorre no corpo humano, um micro/ecossistema. Isso significa que mesmo a extinção de um tipo de inseto pode ocasionar grave desequilíbrio no ecossistema a longo prazo, porque a natureza - o sistema/eco - se fez por economia e sem gratuidade ao se expressar também como um tipo específico de inseto, além do que o distingue como espécie ele realiza algo que em cadeia serve ao conjunto sistema/eco.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

   Por gentileza, esqueça um pouco sua prepotência parcial como membro da espécie humana, que fez gradação elevando a maior importância as 'qualidades' que parecem maiores entre os seus, dentre todas as 'qualidades' existentes manifestas, e me diga, pensamento com palavra, usando 'qualidade' restrita a nós:

- Se esse ser não excede a todos os adjetivos que lhe possamos querer atribuir como definidores do que nos inspira vê-lo.

                  Magnífico !

 

   Pode ser libertador desejar o outro, porque se o limite está no ser, desde a origem o desejo é o espontâneo que ultrapassa esse limite. O outro é um convite para além de si mesmo como importante na 'estória' que escreve e se inscreve. O outro é o paraíso à medida que torna menor a atenção aniquiladora de si sobre si mesmo. E ainda mais: o outro que no sexo se agrada me deixando ser nele me eleva à grandiosidade do nós.


    Só em mim posso morrer, só em mim termino, tudo mais pode ser convite à eternidade.

                                   Imagem: Facebook, Zona Diversa MX;
                                   "Marca de agua" Mark Jenkins (2009).