sexta-feira, 29 de março de 2024



Ai de mim se eu enterrar a lembrança de tempo que me sobrou, antes do tempo que me resta. Então, brinco de ser: estátua! Gargalho e choro ao mesmo tempo. Às vezes eu penso: talvez alguém quer minha cabeça. Nada mal(u), mas eu é justo que assim carregue o peso do que fui - alma?


 

Culinária


Grãos aumentam de volume depois de germinados. Sobre valor nutritivo consultar especialistas. Reduzir a fome?


* * *


Möbius, me faz pensar em batatas - bem cozidas e descascadas -, atravessando um espremedor de batatas, desenhando diferentes linhas no ar, até atingirem a tigela e virarem purê ( de batatas ). Mentira, eu comparei topologicamente ( morfologicamente ) àquela gosma que criança brinca: 


H[á]Möbius, se chama!?







sexta-feira, 8 de março de 2024

Aldeia


No miolo, círculo protegido por um grande hexágono de habitações fortificadas entre: palanques suspensos, tocas e barcos. 


Todos em permanente comunicação insuspeita, codificada e sutil, compartilhavam pontos de vigília em volta do hexágono em benefício do círculo principal.


Aqueles seres traziam em cada um deles características únicas de suas crenças, descrença e discordâncias. No entanto, era comum todos zelarem pela arquitetura básica da Aldeia.


Parte dos aldeões revezavam alternativamente residência entre: as casas de colheita ou oficinas de tecnologia, à vida como residentes vigilantes do Círculo no Hexágono.


A hospitalidade da Aldeia é parte fundamental da virtude do aldeões. A princípio, todo visitante é muito bem-vindo, e, manter contato contínuo com outras pessoas faz parte da fundação da Aldeia. Porém, se tornar um aldeão requer muitas outras coisas, entre elas conhecer as virtudes guardadas pelo Círculo protegido pelo Hexágono.


Seres vestidos em folhas, cumprem a função de fazerem amizade e estabelecerem colaboração com os outros bichos que sobreviveram à Guerra do Esquecimento. Ninguém sabe ao certo como era antes da Guerra de Esquecimento, então, esse foi o nome óbvio escolhido pelos aldeões para citarem como era antes da fundação da Aldeia, da construção do Círculo protegido pelo Hexágono e das outras arquiteturas.


Existem todo os tipos de seres encantados e encantadores entre os aldeões, assim é o que parece. Mas quem duvida também vive igual respeito.


Foi um dia muito simples o final da Guerra do Esquecimento. Ninguém lembrava de nada que pudesse ser realmente útil. Então, pessoas tentavam se protegerem de uma forte chuva carregada de relâmpagos. E, ingênuas, se assentaram em volta de uma árvore. Desavisadas do risco de morte certa pela queda de um raio. Nada surpreendente, era a gente nascida depois da Guerra do Esquecimento.


Um raio rascou o céu transformando a escuridão em dia mais claro. Atingiu certeiro aquela árvore a devorando em chamas, escavou o chão e acendeu o galho mais alto como pavio de vela. Os ingênuos desmaiaram em círculo e voltaram à vida.


Fragmentos das ciências existentes anteriores à Guerra do Esquecimento aos poucos foram reencontrados. O círculo é algo semelhante à uma esfera aberta ao meio com um palco de arena e abóbada também redonda. Uma escada caracol fica como eixo da construção e se encaminha ao alto em direção à uma pira em chamas e à profundidade em direção à uma nascente de água.  


Ser um aldeão é lembrar desde à arquitetura toda a importância simples da Aldeia.





sábado, 2 de março de 2024


Sendo o perfume completo,

imediato e inteiro a cada cheiro.

Então a memória inventa o frasco.

Porque salta à boca e cria o gosto do beijo. 


Empoeirado, se ergue o vento do tipo que a imaginação ganha fronteira. E todos se encontram e se despedem com mãos levantadas. De todo lado se vêem à beira.


Ponto de brasa sobre a terra. Carvão molhado que faísca. E, apesar de todo escuridão, a gente ainda se enxerga. 


Fantasmas vivos e mortos fazem ventania em torno da fogueira. Porque todos sabem, a gente se acorda dormindo.

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024


Pele: em punho e fresca em plena cicatriz. 

Sorri pulsando, enquanto bebe da água. 

Entre contornos, desde os córregos aos pingos d'água, levados pelas chuvas aos oceanos.

Mais nada, desse mesmo assim. 

Todos te anotam e ninguém te vê.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Seres lacônicos são encantadores


Atualmente, os assuntos que me interessam em diálogos demorados têm que serem: necessários, deslumbrantes ou íntimos. E as urgências como sirenes.


Ao longo da vida, eu insisti tanto na tagarelice como afetividade verdadeira que a estratégia desse meu autoengano se gastou.


Eu consigo passar algum tempo assistindo tagarelice de outros com algum prazer, mas perdi a capacidade de me incluir à ela, exceto sob algum tipo de embriaguez. 


E se alguém tentasse me contradizer comparando tagarelice ao andar de bicicleta. Então eu acrescento, que se existir semelhança na mecânica, meu argumento é que na prática o equilíbrio em ambas atividades não se conserva.


Sem nenhuma dúvida, eu me adianto a qualquer um que me diga culpado. Sim, de início eu assumi e reitero minha culpa. Foi eu quem exagerei no vício de falar e deixei quase todas as palavras ocas e ressonantes como ecos em uma caverna. 


Eu assisto outros indiferentes à minha presença falarem e, às vezes, essas conversas virtuais ou presenciais me divertem muito. Sou obrigado a controlar minhas reações em segredo quando eu estou em público e, quase sempre, me desagrada se: direta ou indiretamente for chamado à participação.


Eu nasci para ser plateia na época certa, em meio à sociedade do espetáculo.


Só por hoje, eu preciso me contradizer. 

sábado, 17 de fevereiro de 2024


Eu nunca soube o que ensinar ou encenar aos estudantes que trabalham comigo. E, com o passar do tempo minha incompetência fica cada vez mais explícita. Assim que chego à aula sou o mais passado. As novidades já transformar-se entre meus entendimentos. Então, eu pelejo um peneirar das coisas velhas e novas salteadas aos humores do mundo, meus e das crianças. Quando funciona teve aula e quando não funciona só aprendizado mútuo.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

Se eu não mentisse você acreditaria

  

  Espalhar carinho e encorajar pessoas são contrapesos à hostilidade e à miséria. Acontece de eu não estar disponível ou disposto; o que também é parte de mim. No entanto, eu seria extremamente indiferente ou cruel se fosse sempre omisso aos horrores da vida. Eu tento, nos limites do meu gesto, criar possibilidades melhores. E mesmo a afetação ou a superficialidade são etapas naturais na busca por educação do caráter. Imagina um mundo no qual permanecêssemos sempre nos impulsos originais da primeira infância; possivelmente viveríamos em guerra. Fora minha intenção egoísta pela recíproca, existe uma intenção ainda mais ousada e megalômana nos meus gestos ao espalhar carinho e encorajamento: o mundo ser um lugar sinceramente melhor.





sábado, 3 de fevereiro de 2024

 


Dormimos juntos,

sem descrever um sonho.

Me perdi sem contar nada. 


Sorrimos adeus.

Copo derramando.

Em corpo, só mesmo alma.


Exclamação terminada em silêncio.


Alguém diz:

- Talvez eu não vá e talvez você não chegue. 


Outro responde: 

- Não se preocupe, seria perda de tempo se o tempo fosse nosso.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Teu rosto te diz sobre o passar do tempo.


Memórias vivem em meio às âncoras, porém sobre o oceano.


Ondas, mares e oceanos vivem soltos.


Temperar a vida é sutileza.


Nenhum vento para deixar ou para trazer todo sal.


Da água que sobra e resta fez caranguejo andar de lado.


.... não é assim que nos contamos, ainda aquece a brasa que nós deixamos. 

Sem palavras

Memória 

Tempos juntos 


Ainda queima um calor pequeno, 

daquela fogueira que era de muitos.



Pouco te resta sem acrescentar


Relâmpagos, fazem nuvens claras.


Diante do salto, quem submerge ou emerge? 

De susto aos gritos se fundem. 

Trazem o selo violado por todos.

Mastigam: maxilares e mandíbulas.

Engoliram do fruto ao caroço, todo o mundo.

Um Deus degostoso das tristezas humanas.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

Retorna a lágrima que emprestei.

Volta à vida a gargalhada no sonho. 


E a gente se imagina e continua no impulso.

Incertos como: tempo, relogio e mapa. 


Sentimentos certos inadequados.


Nenhum lugar que abrace um grito.

Nenhuma música queira ser palavra.

domingo, 14 de janeiro de 2024

Então, finalmente o fim foi inaugurado. Antes desse dia, a confusão geral impedia reconhecer a fronteira entre o que começava e o que estava terminando. De imediato, a solução do problema foi crescer o recheio entre cada extremidade. Preservando uma cerimônia diferente para cada uma dessas duas partes opostas. 


Tristeza e felicidade se mantiveram desatentas às regras sociais. Não fugiam das emoções mais óbvias próprias de cada momento. No entanto, vez ou outra, surpreendiam por inadequadação. O riso solto e o choro espontâneo em momentos inadequados.


Não estar nu e ser a mais coerente fantasia é uma demonstração de honestidade nesse tempo.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

 


Vejo um amontoado de pedras.

- Estrada, ponte ou trampolim ?

De assalto. Alguém me confessa uma mentira.


Revejo o amontoado de pedras.

- Estrada, ponte ou trampolim ?

Viver é confirmar o visto.


Vivar é negar imposições de algo invisível.

Viver só existe na desobediência às ordens do absurdo invisível.


Saudades daquela velha Senhora capaz de servir, caprichosamente, pratos com comida nenhuma.