domingo, 31 de julho de 2022

 Vou contar um segredo. Uma das aquisições mais felizes recentes. Óbvio que eu não manuseio a obra impressa. Escondo até de mim. Falar que é um livro para leitura corrida seria uma bobagem pretensiosa minha, porque existe o tempo para realização desse feito, algo que não disponho continuamente e nem proporcional às minhas limitações intelectuais, tamanho da obra, etc. Na verdade, o autor escreveu uma resenha desse livro dele já na ocasião em que originalmente foi publicado na Índia. Considero um livro para consultas, para evitar equívocos sobre o tema. Em línguas ocidentais a primeira publicação parece ter ocorrido pra um círculo restrito de pessoas em Viena, atualmente, me parece que a única versão completa está em italiano e ao que tudo indica pode ter consumido quase uma vida dos tradutores. Então, é justo se alguém rir e perguntar: - Por que se dedicar à uma corrente filosófica quase extinta e tão específica? Eu respondo: - Não sei, mas não é lindo que alguém cultive orquídeas sem uma razão singular e indiscutível aos olhos dos outros?



Quando a gente pensa nas implicações da Quântica. Na irregularidade do comportamento  das pequenas partículas. A vida pode ser apavorante. Mas, quando você reconhece que por sete décadas - sem invalidar a Quântica -, aos corpos de maior massa são as Leis de Newton, é a mecânica clássica que vigora, a gente consegue tremer um pouco menos. Óbvio, que você talvez possa nunca mais superar o trauma do Princípio da Incerteza - exceto quando se distrai -, mas a gente segue a vida. A sensação é ter visto de relance o umbigo de Deus ou o Buraco Negro nos olhos de uma criança.

Para mim, no pouco entendimento, desde desse momento eu nunca mais consegui chorar sem rir ou rir sem lágrimas por dentro.

Eu poderia citar alguns filmes como uma ilustração mais simples da sensação persistente, existem vários. Por hora recomendo um clássico: "Sphere (br: Esfera / pt: A Esfera) é um filme de suspense psicológico de ficção científica estadunidense de 1998."

É tipo perder o cabaço, você nunca mais pode pensar que não deu.

P.s.: fora a indispensável ajuda médica especializada. Pode rir, eu escuto músicas que tenham inspiração na Sequência Fibonacci com finalidade terapêutica - mística e holística pessoal -, na tentativa de evitar que minha mente se desestruture. Veja bem, por si já é um contrassenso, porque existe a hipótese que irregularidade seja a natureza da mente, além disso, meu esforço por si demonstra, até para mim, que não sou normal.

 Meu pai teve uma infância e juventude extremamente pobre; acho que ele nunca superou. Era do tipo de pessoa que se tivesse que pagar pra falar tinha aprendido LIBRAS. Era generoso, mas vivia - talvez - assombrado pela lembrança da miséria.


Talvez exista, mas um título que falta ao século, seria um compêndio com todos os truques de como viver na pobreza. Ser pobre é uma arte marcial, ser pobre é um código de conduta absolutamente necessário ao mundo. Pensa bem, você vai à uma livraria e então

se depara com títulos semelhantes: "Como Pensam os Ricos?" "O Segredo dos Ricos", etc. Eu tenho nenhuma motivação em ler, por qual motivo eu leria livros semelhantes a esses? Eu sou pobre, assalariado, o livro de autoajuda que poderia me interessar é como viver melhor na pobreza. Sem faltar reverência aos que vivem na miséria, mas ler aqueles primeiros títulos - para mim - seria algo semelhante a alguém na mendicância folhear uma revista CARAS ou algo do gênero. Nada contra os títulos, seus autores, porém não sinto que sejam endereçados a mim.

 Às vezes eu penso que tem algo de Vulcano em mim, nem de longe pelas habilidades, mas pelo que o fragiliza. É simples, eu manco de uma perna, sou silencioso porém explodo intensamente em algumas vezes, mas um só olhar de Afrodite me encanta. Eu passo horas incansáveis, ou passaria se pudesse, só pela contemplação da beleza. E se por um azar do destino, em único dia ela se deita ao meu lado, o meu fogo se consome, até no etéreo, só pela gratidão de estar perto da beleza. Eu a devoro e ela me devora, mesmo que ficássemos imóveis um ao lado do outro. Se tiver direito a dois pedidos, no ouso três, por favor: não se volte contra mim e não arme ciladas contra mim, porque sou incapaz de ter armas que enfrentem a beleza e na melhor hipótese eu teria que viver manco, explosivo dentro de uma armadura. 

Pitágoras e matemáticos, por exemplo, te enxergam no PI, na Razão Áurea, eu te vejo desde sempre a olhos nus.


Post Scriptum


Deusa fértil já na forma, quando sua emanação se manifesta na pureza de infância. Quem te viola, quem contra sua vontade a possui, não existe perdão ao flagrante.

sexta-feira, 29 de julho de 2022

Sendo eu professor e se por um segundo pensasse seriamente numa especialização, algo semelhante ao doutorado; sinceramente, em infinitas ocasiões e ainda que me falte por vezes essa capacidade - sofro de insônia -, eu me qualificaria naquele momento em que o anúncio do dia é algo semelhante: 


- Agora peguem o colchãozinho para a hora da soneca. 


Enfim, lidar com as obrigações. Não sou professor dos anos iniciais e desde criança durmo com dificuldade. Nem tudo é festa.


Como se diz em Pindorama contemporânea e a mim mesmo renovo:


- É a vida. Obrigado e de nada.


Têm dias que eu tenho tanto cansaço, fraqueza e preguiça espontâneas e simultâneas que eu tenho medo de morrer asfixiado por me esquecer de respirar. E me perdoe, mas completo, eu cantaria: 

- Senhor(a), eu sei que tu me sondas...

E se praticasse qualquer adivinhação diria:

- Vejo o futuro que você quiser em meia lauda pelo preço da consulta. Por favor, não se ofenda e que eu sou um advinho Quântico e trabalho a partir de um universo de possibilidades, então, talvez te leve ao que mais te satisfaz.


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quinta-feira, 28 de julho de 2022

 

Nota vaga 

Não existe mente isolada do contexto, tanto em sentido material quanto em sentido abstrato, mente é um fenômeno coletivo que se particulariza através dos seres. Também como fenômeno coletivo transmissível de forma simbólica comunicável - ou de outra forma, por exemplo: a mimética -, mente se faz em contínuum: ao gosto dos seres e outros fatores, na hipótese mais justa ou menos falível. 


De outra maneira, também poderíamos dizer que mente é um potencial dos seres em individualizar um fenômeno estético coletivo e em transformação.  


Os dois pontos de vista são inclusivos, só diferem em escala na proporção em que podem se interferirem.

quarta-feira, 20 de julho de 2022



Teu nome é tempo

e a gente se escolhe, 

enquanto se consome.


Todas as formas: 

sorriem,

riem,

ou gargalham de nós.


E eu sou inteiro seu,

mesmo se 

contra minha vontade.

terça-feira, 19 de julho de 2022

 Nos meus olhos,

a luz é sinal de alerta.


Convite incompleto,

sonho de margem.


E porque a gente sabe,

esse sentimento é plural.


Sou a margem do rio 

que você não gosta de atravessar 

e você é o barco.


Madeira morta no rio.

Ambos mortos.

segunda-feira, 18 de julho de 2022

Impessoal.

Toda vez que o fim me reencontra traz nos olhos o abismo.

Então, olha pra mim e diz: - Não pula.

E a consequência de ser encontrado é que

nenhum alerta pode evitar a gravidade. 

O abismo vê que estou sepultado nesse corpo.

E que ainda existe vida em algumas memórias.

Não quer me fazer mal, no máximo, talvez quisesse me enxergar nas partes vivas. 

Nós já nos reconhecemos.

Então, toda vez, enquanto me vê caindo, olha pra mim e diz: - Não pula. 

Eu, sepultura andante, caio fraturando memórias vivas. Fico ileso, enquanto me machuco muito.

quarta-feira, 13 de julho de 2022

 ***


Nem sempre interessa 

descrever a paisagem

ou inventar óculos.


Às vezes, 

já é coisa pronta,

o toque à espera do tato.


E o delírio:

nem é visão,

nem é miragem.

É inversão do desejo.


Às vezes, 

já é coisa pronta,

mas se inventa a cegueira. 


Imanente à humanidade.

Singular transcendental.

Mergulha no delírio,

e devolve os antigos 

mesmos olhos.


É sobre revelar o óbvio,

o grande horizonte.


Das artes


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Imagem: 

"Banhistas à noite", 1905, Károly Ferenczy (1862 - 1917). Óleo sobre tela. 


domingo, 10 de julho de 2022

Nem eu sei dizer exatamente o porquê, mas talvez não seja da maneira como acredito que é. Então, também porque desconheço o é, eu sou incapaz de realizar. Às vezes, eu suponho que meu fracasso evita equívocos maiores, sofrimentos maiores, ou, essa pode ser a forma confortável de admitir minha incapacidade. Eu tenho uma inveja ingênua das pessoas que realmente se alcançam nesse sentido, não como alguém que pretende destituir o outro daquilo que é conquista dele, mas como alguém que admira uma obra de arte e deseja habilidades semelhantes às do artista. Mas, eu suspeito que me faltem os requisitos necessários ao desenvolvimento dessa capacidade, em algumas ocasiões eu sou um deserto frio ou só sou alçando pelos que estão frios ou sou cego às paisagens dos que me oferecem calor. 

Sem fugir da minha responsabilidade, porém, sei que seria muito pretensioso me imaginar a causa única, e, se todos os meus sucessos têm causa também em outros além de mim, por que me ver sozinho na causa isolada dos meus fracassos? 


A vida é muito mais sobre desejo.

A vida é bem maior do que qualquer culpa.


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Imagem abaixo: encontrada no Facebook. 






domingo, 3 de julho de 2022

Tem gente que eu acho tão esculturalmente linda que me sinto feliz desde a oportunidade de ficar admirando. Claro, a inteligência e outros aspectos também são igualmente admiráveis - e atualmente soa mais politicamente correto elogiar a inteligência e outros aspectos constitutivos dos seres e coisas -, mas a beleza física/material tem um quê de doação involuntária por parte da pessoa linda, coisa linda. As coisas e seres fisicamente lindos se doam espontaneamente aos seus apreciadores e eu isso é algo muito encantador - quase um tipo de altruísmo estético involuntário. 


Eu acho um grande pesar que essa época dê tanto destaque à beleza física/material imediata e ao mesmo tempo crie a ilusão de ser ela um bem excludente de outras virtudes, e/ou menor porque é explicitamente efêmera. O estranho é que as mesmas razões que podem deflagrarem a decrepitude da inteligência, por exemplo, são razões que todos amenizam com pesar seus danos, reconhecem o percurso de deterioração e acolhem com respeito suas consequências, no entanto, em se tratando da beleza a acusam de ser passageira como se fosse uma falha de qualidade.


Abaixo, imagem encontrada na página do Facebook: "Soái Tây".



sexta-feira, 1 de julho de 2022

No convexo dos seus olhos

crescem meus horizontes.

E eu continuo,

depois e apesar de mim.

Solto no tempo,

vibrante e sereno.

Euforia silenciosa, 

acorda no canto dos olhos,

porque eu nos vi passando. 

Talvez você nem saiba. 

Onde dorme o umbigo do tempo?