quarta-feira, 16 de dezembro de 2015



Quando era criança sempre fui um dos mais entusiasmados com o fogo, às vezes tenho impressão de ter sido eu causador da recorrência dele, nenhuma outra coisa eu admirava mais que existir o fogo. Eu procura pedir aos meus amigos mais próximos para encontrar tudo que pudesse virar fogo; em segredo, porque, me lembro dos adultos dizendo: - Crianças, quem brinca com fogo amanhece mijado. Acho que devia ter algo a ver com sentir medo do fogo, porém me assustar por existir o fogo nunca poderia se tornar pesadelo para mim - era o sonho mais lindo existir o fogo. Sorte minha, azar o do ditado deles, sempre amei o fogo, felicidade era sustentar as chamas pelo maior tempo que nossos pais permitissem - nunca houve limite para os meus olhos e acho que das outras crianças verem beleza no fogo. Ver queimar, ver derreter, ver acabar em luz era bonito demais e contradizia as evocações dos primeiros evangélicos - na época pacíficos e não-fascistas -, enquanto seus filhos ingênuos entre outras crianças ingênuas sorriam por manterem a fogueira, porque sei que para nós fogo era luz e felicidade: crianças sem religião. Os evangélicos eram poucos e ainda não tinham virado um nova Inquisição e se tornado fariseus políticos como o Eduardo Cunha, Silas Malafaia, etc. Cabe processo por emitir juízo de gosto ou se tomarem conhecimento, sendo brasileiro, devo contar dias até que o dinheiro dele me queime? Malditos para mim, porque tornaram fogo arma, sendo que fogo era felicidade entre nós ingênuas crianças apesar do que acreditavam nossos pais. Na minha cidade o inferno era a água por conta das enchentes.

Eu que nasci perto de um grande rio e soube de tantos se agonizaram nas águas por afogamentos ocasionais ou enchentes, sempre vi no fogo um tempo de existir empírico depois da morte, um paraíso.

Se eu tiver recursos e muita sorte vão queimar meu corpo, vou viver no fogo pra sempre e ser lembrando completo sempre que me acenderem.

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