sexta-feira, 29 de maio de 2015

Tantra

************************************************************************************

Aos pés do onisciente Manjushri, o Leão da Palavra, eu presto reverência:

om ah rá pá tsá na dhi dhi dhi...

************************************************************************************

   Eu tenho uma questão inocente sobre iluminação, nirvana, sunyata, samadhi, satori, etc para qual quero dedicar minha vida em busca das possíveis respostas e caminhos. Até o momento essa questão me parece respondida pelo Tantra Ioga Superior e em alguma escala pelas sadhanas maithuna, a questão é que: alcançada a realização plena de atman em brahman seres realizados vivos se reconheceriam em laços afetivos conjugais?

___________

    Eu acredito que sim e sou levado a crer nisso pelas razões que apresento acima, acrescento, exemplo:

"À direita a deusa chamou Buddhalochana, que tinha
Uma face levemente sorridente.
Com um círculo de luz uma braça cheia,
Seu corpo inigualável é muito claro,
Ela é a consorte de Shakyamuni."

In: "Tantra no Tibet" de Tsong-Ka-Pa

    Relativo ao maithuna temos equivalência, haja visto existirem: Sakta e Sakti.

    Sou da opinião que preferindo considerar a 'vacuidade' de todos os fenômenos, entende tratar-se de 'energias', 'qualidades' complementares entre Sakta e Sakti na prática do Tantra Ioga Superior na união de dois, ao invés de restringir-me a gênero fisiológico: macho e fêmea, o que seria uma resposta demasiadamente tamásica, pouco rajásica e nada satívica, logo: uma resposta falível.

____________

   Sadhana é um conjunto de 'práticas' determinadas à conquista de siddhis, que são 'aquisições' comuns e sublimes; capacidades, competências. Assim sendo, acredito que a prática de sadhanas que realizam a união meditativa de dois possa contribuir para a união entre consortes físicos quando desejável. Também é à medida que o praticante se imbui dessas qualidades específicas durante as práticas - e as mantém ao longo do dia - e elabora com clareza a consorte complementar física a partir da meditativa, que contribui para o reconhecimento do que lhe interessa no que agora chamo de escolha de uma consorte social. Posteriormente, se ambos não forem iniciados, a prática tântrica da união de dois poderia se realizar indiretamente, estando sob auspícios exclusivo da parte praticante de tantra superior. Outra opção é iniciação de ambos.

domingo, 24 de maio de 2015

   Entre sonhos assentados a contemplar horizontes existem sóis que nascem a pino, sem fazer parábolas explodem no zênite. E os simultâneos se dizem silenciosos: - Te chamo ou você vem? Não me iludo, mas honestamente e feito no plural me parece tão mais agradável que lançar olhos sobre essa escada fria. E se eu fizer a chamada quantos subversivos ainda existem com sonhos artesanais?

   Agora, enquanto ainda é noite, à soleira do tempo aguardo um sol de zênite em silêncio, talvez ele fique feliz em me fazer surpresa.
 
__________
O mundo ficou muito curvo depois que tiraram os quatros cantos, estou sem planos, enfim: gosto de música e sentidos variados.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

   Sofro de plenitude. É um mal nada inconveniente, na verdade de sintoma: insípido, inodoro, invisível, inaudível e não sujeito ao tato. Mas se por essas características te parece inofensivo, é porque talvez você não seja alguém que se ocupe tanto com histórias, são elas que mais sofrem com a plenitude, a vida vai seguindo sem que nada lhe cause ausências, então me diga sinceramente: - Como sobrevive um coração sem o mínimo de ausências necessárias?
   Porque estou sobrando em mim preciso que venha logo me fazer falta.


    Imagem: "Field of Dreams..."
    B is for Balloon, Pt II (2/26)
    In: David Talley Photography


 

quarta-feira, 20 de maio de 2015

  
   Tua missão mais importante é ser feliz, teu gesto mais generoso é reconhecer esse mesmo destino em outros e para ser grandioso aprenda a ser feliz enquanto sendo causa de felicidade, tudo mais é manifestação hedionda dos comissários da dor, tudo mais deveria ser atacado ao extermínio como atentado à lucidez, ao mundo natural, à paz, à harmonia, à ordem, à decência, à moral. Mas atenção, porque não propago o egoísmo como medida, digo que deve ser exterminada toda ideia que afasta o humano de reconhecer a felicidade como medida de acerto em sua conduta em relação a si e aos outros.




    Imagem: BROOKE.DI.DONATO, in: Photographize

sábado, 16 de maio de 2015


Nas noites em que me amanheço 


   É este tempo como faca de dois gumes que arranca lascas grossas dos meus sonhos mais antigos e com um movimento esculpe-me corpo e alma.

   É este tempo que se por um erro acerta-me a polpa, logo descobre meus sonhos moles que gotejam dos olhos.

   - Por isso menino, quando pergunta meu nome é preciso que entenda ser ele bem mais que o limite sobre o qual eu possa me acomodar. Meu nome mais se parece com o vocativo de uma tragédia única começada ao som da voz da minha mãe. É como se na insistência dela por me ensinar meu nome escondesse a revelação, assim a cada vez que repetia meu nome em seu colo em pensamento dizia: vem pra tudo que não te espera que é bem maior do que o que te aguardava.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Porque os domingos têm tardes


    A cada dia que passa eu tenho aprendido a viver melhor sozinho, a valorizar a solidão, a descobrir aspectos de independência frente à vida... tenho gostado muito, tirado um proveito que desconhecia por completo. Tenho me esforçado por ser melhor também pra mim e então me agradar da minha 'própria companhia'. E considero isso fruto de maturidade, de acúmulo de experiência e de reconhecimento com mais sobriedade das experiências pregressas - quase sempre eu tenho me restado. Por isso me veio a ideia que a solidão deve ser bem-vinda, deve ser considerada como possibilidade sem ser causa de mal-estar, a solidão pode ser sublinhada em suas vantagens quando comparada à condição inversa. Como a vida aos viventes não parece ciência exata e mesmo que fosse ciência exata, talvez devesse equivaler-se ao século atual e considerar seus aspectos de 'turbulência', de caos, eu tenho me esforçado por aprender não como quem se prepara, mas como quem aceita.


   Acrescento a isso uma conclusão óbvia que me faltou por muito tempo: o outro não deve ser alguém inespecífico a preencher uma expectativa minha, o outro deve ser alguém específico a criar em mim uma expectativa. Porque da primeira forma de encarar a solidão e a companhia, da primeira forma em que em mim preexiste uma vontade a ser satisfeita mesmo que por alguém inespecífico, eu estaria me relacionando comigo mesmo e tomando alguém para personificar minha imaginação: um ator assumindo uma personagem do meu delírio amoroso. Essa e outras razões fazem com que eu abomine a carência, tenho mais medo da carência em mim e em outros do que ameaça de morte, afinal a prática da carência é um pouco privar-se de vida verdadeira.


    No entanto fazer isso está longe de ser um desumanizar-se crendo ter jurisdição sobre os sonhos, sobre o imaginário, ao contrário é estar ativo porém em estado de aceitação, repito: se a vida tiver algo de ciência exata há que se considerar a 'turbulência'. Mais que isso estou dizendo que é a medida em que se compreende a diferença entre as faltas reais e as faltas imaginárias é que se livra de um estorvo muito grande, porque acredite: você tem uma enorme capacidade de imaginar. Contudo, eu seria irresponsável se te fizesse acreditar que sonhos não preexistem às realizações, porque com muita frequência são sonhos, são projetos que antecedem suas realizações, o que eu estou dizendo é que talvez, preste atenção, talvez quando se trata de um 'sonho do coração' seja melhor você preparar-se, agir em conformidade com o que quer, estar preparado para fracassar como nos demais projetos, mas nunca esquecer que sendo a dois seria melhor que o outro não fosse resultado de uma 'caça', seria melhor que ele fosse a causa que faz emergir o 'sonho do coração' que, ainda que preexistindo, antes dele estava guardado.

____________
Quem achar demais egoísta, em resumo: - Eu não tenho um projeto e quero que você participe, é com você que projeto.
____________


    Imagem: Gays's City; Facebook.

domingo, 3 de maio de 2015

 
 
   Enfim, queria que você não terminasse.

  Tenho um gosto bastante comum, nada surpreendente quando se trata de beleza. Na verdade costumo desconfiar de quem insiste em desvirtuar a beleza desse lugar devido à ela na imaginação dos povos: como a forma que transcende o particular no gosto.

   Eu realmente me interesso pela beleza, e acredito que a beleza tem um custo alto para si como projeção do imaginário, a beleza se paga caro. Encurtando caminho para demonstrar isso lembro da terminalidade, além de todos os outros pesares, o maior brilho e a maior escuridão da beleza é saber do fim. Em seres, natureza, artes a beleza está sempre em estado terminal. Entender isso explicou para mim a razão de eu achar feias as pessoas belas autodeclaradas, as que fazem recepção para si mesmas, as que são anfitriãs de suas existências e vivem como nos convidando a participar da festa que é serem elas, essas pessoas continuam belas, mas quando sonegam o fim, a terminalidade da beleza perdem o brilho e como enxergá-las na escuridão? Que isso não se confunda com a beleza assumida quando se trata de pessoas, porque admiro mais a honestidade que a modéstia, aqui eu falo dos megafones. Preste atenção, estou excetuando da minha causa a vaidade ferida, ela existe também, contudo eu acredito que mais importante como causa de desgostar de uma beleza é quando esta se desconstitui desse estado de terminalidade, que a torna apreciável a cada instante como o derradeiro.

   Então, depois desse à primeira vista e a tantas quantas vistas outras forem possíveis, me interesso pela delicadeza em contraste com a masculinidade, na falta de uma duas, no máximo, por distração.



    Imagem: Zona Diversa MX, Facebook.