quinta-feira, 30 de março de 2017



Algumas noites amanhecem antes de mostrarem estrelas...

todas elas reunidas ávidas às janelas avistam gente.

Essência de luz toda essa escuridão que leva contigo na mochila, vai que algum dia amanhece amando em plena primavera...

então como te reconhecerão noite?

Os olhos são mais sobre o desejo do que sobre ver... porque sobre ver é mesmo só a necessidade mais imediata e por isso os cegos estão sempre acertando.

Quando quiser me orientar nada de esquerda, direita ou quaisquer outros pontos cardiais... diga:

- Não importa se lá ou aqui, mas quando a visão te saltar os olhos e o mesmo fizerem os outros sentidos mais perto você estará da sua ilha perdida.

Porque na ilha perdida já estava quem você levaria para ela, mas a surpresa é que sobre isso ninguém te contou.

Se fazemos perguntas para as quais nós mesmo teremos respostas nossa condição não é sobre a vida ou um algo entendido que sirva ao todo, mas sobre isso sermos nós.

Sem nenhuma angústia, palavra ou estórias iguais às que necessitamos, toda hora outra lagarta tece o casulo do qual sairá alada.


     Imagem: Zona Diversa MX

Até o amor mais egoísta é uma centelha da verdade que quer transcender o ego. O amor quando sublime é a culminância da verdade que não se vê solitária.

Às vezes eu imagino uma substância espelhada e de total maleabilidade, autoreferente que permeia tudo e que tece histórias a partir de si enquanto se imagina.

De todos os amores o sublime e transcendental é no ponto em essa eterna substância se reconhece, mas mantém a dinâmica porque inclui o desejo em sua inteligência como movimento. E então lá está o ela substância também outro e desde então serão ambos mesmo sendo um.

segunda-feira, 27 de março de 2017


Sobre mim faz sono só as noites que não terminam. E cálice é recompensa do tormento de qualquer acordado.

Eu não concluí a ceia. E é por que não caibo nela que me sinto faminto ou por que sou exceção na história entre os que foram servidos?

Vou acolhido por silêncio ou misericórdia, minha ou alheia, mas tenho sido inteiro e apesar das controvérsias sincero.

Eu não sou cristão, mas acho importante marcar misericórdia entre tantos cristãos.

quinta-feira, 23 de março de 2017


Se tiver uma resposta admirável para cada pergunta possível e à atualidade parecerá inteligente, mesmo quando só tiver sido astuto, mas se fizer uma pergunta original, inteligível e sem resposta terá sido inteligente de fato, porque inaugura uma possibilidade sem precedentes.

E uma afirmação quando parece genial diz respeito ao tamanho da dúvida ao questionar qualquer outra versão anterior à versão afirmada e ainda assim a nova versão parecer possível.

Às vezes eu me pergunto se não há um senso estético que nos induz à crença mesmo no uso do que chamamos razão. Algo como se o entendimento em progresso fosse um parecer íntimo sem excluir a sensação de ser novidade.

segunda-feira, 20 de março de 2017



Um bilhete para o menino Chris

Somente no coração há um espelho pelo qual somos capazes de nos vermos refletidos. Ele fica em frente de uma mesa com um caderno de anotações do qual não podemos ver o número da última página ao lado de uma lanterna, um microscópio e uma luneta. Tudo o que chega lá é um pouco nosso, porque para chegar lá precisa se tornar um pouco o que somos.

E o anfitrião é sempre amor, não importa se ele é tímido ou extrovertido.

---

A note to boy Chris

Only in the heart is there a mirror through which we are able to see ourselves reflected. It stands in front of a table with a notebook of which we can not see the number of the last page next to a flashlight, a microscope and a telescope. Everything that arrives there is a bit ours, because to get there it needs to become a bit what we are.

And the host is always love no matter if he is shy or outgoing.



Quais percepções inauguram a sociedade?

Na própria palavra sociedade existe uma indicação possível, então sociedade traz em si o pressuposto de uma parceria, conciliação de vontades pessoais equilibradas no coletivo.

A horda tornou-se tribo quando juntos inauguraram o primeiro símbolo coletivo. Mas antes da horda existia o instinto e ambos: aumento da prazer e evitamento de sofrimento são alicerces dos acordos conscientes e inconscientes que estabelecemos criando as sociedades. Possivelmente, inerentes aos primeiros níveis relacionais que estabelecem a convivência humana e também presentes entre os nossos diversos modos de ordenamento coletivo.

Mas quando a horda adota um símbolo comum entre seus membros a tribo nasce de um sentido cultural e a identidade passa a ter uma hereditariedade simbólica. Os seres não correspondem ao imediato da aparência ou de sua relação com a natureza ou seus instintos pessoais, os seres humanos existem também a partir de uma versão que criam para si e fazem transmitir às próximas gerações.

E o símbolo edifica os ordenamentos coletivos.

O poder de convencimento do símbolo justifica uma ação imperialista, então a tribo avança sobre o que é estranho à ela culturalmente armada do símbolo como instrumento de defesa, porque a existência humana se estende ao imaginário e não é só uma relação imediata com a natureza. O estranho é aquilo que não se pode incluir no símbolo da tribo, agora do império, e porque a existência tem relação com o imaginário o estranho é uma ameaça à existência desse ser humano que é simbólico e uma versão imaginada.

Do confronto cultural também surgiu a controvérsia à versão simbólica que sustentava o império. Então a horda que havia se tornado tribo a partir do símbolo, se tornado império a partir da versão, precisou se rever a partir do diálogo sobre os símbolos e versões.

O aumento do prazer e o evitamento do sofrimento são contínuos motivadores instintivos de nossas escolhas pessoais e coletivas. Interferentes em todos os modos de ordenamento coletivo.

Se por um lado o confronto cultural serviu de controvérsia ao símbolo e à versão do império, por outro lado revelou uma vivência incomum: o existir em amor ao símbolo, porque se a existência se estende ao imaginar, alguns humanos vivem em amor simbólico e essa existência é natural à condição do ser humano que nos tornamos.

Os símbolos, as versões, a imaginação não são anti-naturais, mas parte da complexificação da própria manifestação da natureza em toda sua grandeza. Porque o contrário torna a natureza do todo menor e não há como nem mesmo uma equação, uma observação exata, se dizer completa se fizer exceção a esse manifesto.

Agora a horda que virou tribo, que virou império, que tornou-se uma Ordenação Social a partir do discurso ainda precisa conciliar duas medidas: os instintos primitivos que inauguram a sociedade para o aumento de prazer e o evitamento do sofrimento conciliados com qualquer versão de Nação, de Símbolo e de Versão. Nada menos que isso serve ou estabelece a paz.

A falha de toda Nação que fracassa é um desajuste entre o discurso simbólico que a inaugura e o método que a mantém. E isso pode ser resultado consciente e inconsciente daqueles que administram esta Nação.

Paralelo ou contraposto à qualquer Ordenação Social Discursiva existe a materialização do acordo coletivo como poder: dinheiro como cédulas independentes do discurso. Porque dinheiro é um contrato simbólico de valor, apesar de qualquer discurso, de qualquer versão de sociedade e no entanto serve a todas as versões.

Toda horda que virou tribo, que virou império, que virou Nação e que existe a partir do Discurso e se mantém com contribuições involuntárias são Nações justas - harmoniosas - enquanto mantém equilíbrio entre as forças: Constituição (em Nações Discursivas) e os Instintos Primitivos (aumento da prazer e evitamento do sofrimento).

O fracasso, falência, de toda sociedade é resultado de uma falta de equilíbrio entre o símbolo escrito, a versão, que a edifica e os meios de financiar o símbolo. Considerações de importância imediata:

Toda versão criada para edificar uma Nação Discursiva tem como pressuposto fundamental aumentar o prazer e evitar o sofrimento;

As forças de opressão aplicadas aos opositores da versão de Nação são ineficientes a longo prazo se não for satisfeito o instinto de unir-se para aumentar o prazer e evitar o sofrimento;

Improvável que qualquer versão de Nação sobreviva sem atender ao instinto de unir-se para aumentar o prazer e evitar o sofrimento. Em sentido coletivo deve ser essa a experiência imaginada de existir como cidadão.

Para que uma Nação Discursiva exista plenamente ela se materializa para satisfação coletiva - tem patrimônio material móvel e imóvel coletivo - e se personaliza tem agentes públicos e líderes facilmente reconhecível, notáveis, que sejam defensores da versão e estejam atentos ao instinto inaugural, primitivo, da união como sociedade para o aumento de prazer e evitamento de sofrimento.

O sustento da Nação é garantido por empresa pública com ou sem exclusividade sobre o mercado que atua e cobrança de tributos. Consideração de importância imediata:

O sustento proveniente da empresa pública é impessoal e isento de humor, de vontades, de afeto em oposição ao sustento proveniente de tributos que é comprometido por humor, vontade e afetos.

Agora, quais mercados deveriam interessar à Nação como bons investimentos para a empresa pública?

Mercados que empregam poucas pessoas e que no entanto sejam fundamentais à população.

Atenção, já foi dito que a tributação como fonte de sustento da Nação é comprometida por humor, vontade e afetos.

Por fim, o instinto inaugural da sociedade (aumento de prazer e evitamento do sofrimento) não é necessariamente o auge representativo no sucesso de uma sociedade, ao menos não em sentido material de satisfação.


O auge no sucesso de uma sociedade parece ser uma dedicação maior à parte humana em que existir é uma experiência simbólica, imaginada. A prosperidade de uma sociedade parece estar relacionada ao crescimento dos produtos da imaginação e à uma maior introspecção.


sexta-feira, 17 de março de 2017


Eu fracasso
e sucesso é um horizonte.

Amanheço como quem recolhe o que sobrou do que em mim não aconteceu.

E o que eu sou tem como pressuposto a derrota ou naufrágio é minha definição?

Se eu continuar fracassando de forma tão grandiosa talvez um dia me dêem um prêmio? Mas é contradição.

Vejo cada esperança com olhos de atirador de elite.

segunda-feira, 6 de março de 2017


Todas as noites suspiram pelo dia, mas tão logo o encontram se tornam manhãs.

Já há outra coisa aqui a medida que alcança ou toma distância, então sentir diferente de estar pronto é disposição em fazer.

Se os olhos dissessem sobre quem olha apenas a busca por objetos os olhares não teriam uma vida: abrupta,  às vezes tímida, em ousadia, indiferente... os olhares não teriam vida própria.... os olhos pouco seguem o leme.

Mas se quem está no leme alcança os olhos talvez passe a viver escolhas mais conscientes.

Mas lindo mesmo é descobrir que não há um você indiferente ao outro ou vice - versa. Ser é só coletivo.

domingo, 5 de março de 2017


Colhe o nome assentado sobre a relva.

E urgente é que não te falta água,
porque tudo mais acorda ao abismo.
Sorrindo, indeferente ou triste
cada um mergulha no silêncio.

Lá ao longe mora esperança,
mas ela caminha em proporção aos nossos passos e por isso teus olhos buscam o horizonte.

- De mãos dadas com outro(s) menos dor.
- De mãos dadas com propósitos menos dor.
- De mãos dadas com esperanças reticências.

Entre as coisas que nós demos nomes para que fossem, nuvem é uma das que melhor descreve ser como condição transitória e intermediária. Ser é o ponto relacional entre os opostos: ele vive porque para ele ainda é possível continuar morrendo. Depois disso intuimos uma esperançosa elipse.

A paisagem assalta toda janela ou qualquer outra coisa que lhe sirva de moldura, porque as coisas são a partir de uma referência inaugural.

Eu sou enquanto incluo você como exceção ao que eu sou, para além dessa fronteira seremos um nós vazio de perguntas e respostas, no entanto concordantes em diminuir a dor e aumentar o prazer.

A princípio é isso.

quinta-feira, 2 de março de 2017


Se a princípio parece eu, depois de novo olhar logo vejo outra causa.

Porque só me inauguro quando sei que você vem onde eu faço festa.

É tua textura,
É te sentir na língua,
É teu cheiro apesar dele,
É teu rumor enquanto se mostra,
É te ver e buscar a melhor postura.

A partir de agora eu serei enquanto considero outro, então ser é ainda que na vaidade um desejo em busca de alguém para além de si mesmo.

Para além de si estão estórias, enquanto que em si mesmo naufragou o tempo e junto da âncora dorme o silêncio.

Cada pergunta é uma busca da inaugurar - se ao outro ou inaugurar outro, porque ser em si é um silêncio à deriva.

          Imagem: Zona Diversa MX


Definir é traçar uma fronteira inexistente ao imediato da experiência de sentir algo, fronteira que é necessária aos limites da escrita em descrever o que foi sentido, percebido.

E talvez minha esperança seja que o século XXII devolva à razão e ao bom senso uma suspeita sobre a ciência como dogma da verdade... a ciência não é sobre a verdade, a ciência no máximo é sobre os modos metódicos de agir... então quando há dúvida na ciência não deveríamos nos referirmos às possibilidades como religiosos, mas aceitarmos a dúvida e desconhecimento de um método que seja útil à ação.

Sem demonstrar concordância com este caso específico lembro das críticas de Tesla à Relatividade de Einstein... Tesla se incomodou ao ver a ciência dispensar provas laboratóriais e caminhar em direção à retórica, à verdade a partir de um discurso simétrico, elegante e convicente... Tesla viu nesse caminho uma degeneração da essência daquilo que considerava ciência e que talvez para ele estivesse ligado à prova laboratorial e à utilidade no agir.

quarta-feira, 1 de março de 2017


Sem saber que era árvore vi amarelar até cair se perguntarem o que eram cada folha...

Sem saber que era árvore cada fino galho sentia - se sozinho arrestado pelo vento...

Sem saber que era árvore o tronco desconcertado pelo tempo se achava feio...

Sem saber que era árvore a raíz mal entendia a razão de não ser vista...

As reticências alcançariam em crescente ou descrecente todo o em torno, porque a vida nunca foi uma causa singular... a vida é sempre uma ocorrência no plural entre todos os viventes.