Atemporal é incluir a percepção de fim, antes de incluir a percepção de fim a gente morre pelo que menos importa em muitos momentos... mas olhar do mirante inteiro onde nascer, viver e morrer formam uma só linha do horizonte te faz flutuar e você sente um tipo qualquer de compaixão por tudo. E a impotência solene frente à realidade é um instante atemporal.

Se me aconteceu,
é como se fosse pra além de mim:

pra além de mim todos nos meus sentidos;
pra além de mim todas as estórias.

Ser eu é muito pouco, então quando fico extravagante é porque estou para além de mim.

Até meu maior egoísmo admite que para além de mim é quando fico grande, forte e sobrevivo ao tempo, porque só em mim nem existe e já começa com bem pouca coisa.

É dessa ponte que acolho:
teu cheiro,
teu som,
tua imagem,
e talvez: teu toque e teu gosto.
Para além de mim sou muito maior.

E se eu sobreviver um único dia após minha morte, isso só terá sido possível porque sobrevivi para além de mim.

Depois do que foi dito vive uma ideia, mas antes era alguma coisa inteira sem nenhuma versão que a cortasse numa só fatia. E as verdades moram tão longe das nossas hipóteses que as pessoas escolhem apresentarem algo como caleidoscópio para serem amadas até quando evocam verdades. Mas são só relações afetivas a despeito da coisa como verdade ou como um todo.

Vê esse vazio antes de qualquer hipótese? Esse é um vazio fundamental e sobre a essência intocada pela mente que elabora, ele existe antes de qualquer descrição sobre a coisa e está bem mais próximo do que a coisa pode ser. No mais e complementar a isso perceba: todo quer gozar de alguma forma. E primeiro desastre é incluir o tempo, incluir a percepção de tempo nos faz cair do paraíso.

Existem três idades:

1 - Tudo é novidade;
2 - Existem autores;
3 - Tudo é ficção e citação.

A quarta idade é: MISERICÓRDIA,
a dobra no tempo e você acorda consciente sabendo que não há saída, a não ser a "Divina Comédia": ser teatro para as divindades.

Eu sofro muito!
Eu sofro desesperadamente,
porque eu amo.

Igual pombo...

Amo em todos os lugares.

Sou rato, pombo, aranha, borboleta, barata, camarão, lagostim, formiga, insetos, et cetera... vocês que inventaram as fronteiras.

De onde enxergo eu só tenho culpa à medida que não atendo às vaidades dos particulares. Então nestes casos:

- Oh, suprema deusa inequívoca ou deus, me acolhe como um verme e conserva minha última esperança: LEALDADE.

No tempo cabe tudo que exceder à ausência, mesmo a ausência lembrada está no tempo.

Alegria, tristeza, gozo, gratidão, compaixão, et cetera... tudo emerge no tempo tomado pela ação do corpo no espaço.

É puro tempo e espaço de imediato, então mais que de nossos sentidos vieram outras medidas... variantes perceptíveis de tempo e espaço: palavras, frases, ideias, conceitos, teorias, leis.

- Eu já nem sei se durmo hoje.

Costumo acordar de uma profunda insônia como quem levanta da noite mais acolhedora e ainda imerso no sonho; então mantenho a coerência e a cortesia de tempo e espaço, por necessidade e etiqueta.

Eu acolho surpreso, dedicado, irascível tentado ter calma, amável em pleno prazer, sorridente ou chorando... tudo de mim que projeto no ao redor.

Eu não sou suficiente nem para mim, então também por isso percebo as coisas que acontecem: dou nomes, tenho sentimentos e crio estórias. É meu perdão de mãos dadas com minha maior culpa.

Eu sou o que por alguma razão ou acidente ainda não terminou,

então outras pessoas me aguardam
e o que acontece
também depende de mim.

Eu radicalmente foi ensinado a dar: Tchau.

Eu sobro. E ser eu nunca foi bastante à minha história, então vou ao encontro do infinito.

Três regras de sobrevivência de um fracassado

Eu estou acostumado ao fracasso, talvez também por esse motivo seja justo meu conselho aos que se sentem fracassados. Uma pessoa sempre bem sucedida, talvez não saiba muito do viver em exílio, à margem do sucesso. Enfim, eu quis agrupar três conselhos e serão parágrafos curtos abaixo. René Descartes fez muito mais que eu ao escrever um livro: "Discurso do Método - regras para a direção do espírito". Os orientalistas sabem que o cerne da filosofia oriental originária na Índia é favorável à sociedade pacífica. Os Hindus tinham livros antes de existirem alfabetos na Europa; Ferdinand de Saussure talvez possa esclarecer as controvérsias.

Três conselhos:

Seja compassivo: escolha sempre uma resposta ou caminho de menos dor considerando o(s) outro(s) à medida que se inclui;

Seja leal: o monarca e o preso só querem ao lado deles pessoas leais; lealdade é o valor humano insuperável em todos os lugares e tempos; lealdade íntima é isso: não se apresente em contradição às suas crenças;

Tenha método: não se entristeça ou maldiga a rotina, mas abraça o sistema e a repetição que acolher suas crenças e que não excluir a compaixão universal e a lealdade.

Acima do cão pousam os limites da casa e acima destes está o cão ainda lobo. Onde moro senão no abraço da matilha.

O som que fazem as quedas d ' água pede atenção, caso contrário você nem percebe.

Eu fiz uma lista de amores pra amanhã, mas desde muito antes estão comigo, às vezes faço um polimento, passo um lustra móveis.

O que se quer é a mais fina flor do tempo:

indizível,
invisível
e
luminosa

em os todos mistérios.

A vida é o que ainda não se completou,
é: insuficiência de ideia sobre as coisas, prato aguardado à mesa e carência de abraço. Completa é a lápide. Pleno e irreversível só o fim.

Estou extremamente cansado, às vezes tremo o corpo inteiro sem nem temer, mas ainda uivo à beleza da lua e tenho fome. É a vida que se obriga continuar.

Quando era criança acordava no hoje e sempre pronto para amanhã,
agora acordo sempre ontem tentando alcançar o hoje.

Uma grande vantagem no envelhecimento é que tudo se torna mentira e a única verdade nunca dependeu de palavras.

O que eu penso sobre mim?

- Tenho que manter a porra desse letreiro e dessa fachada até que o prédio desabe.