sábado, 31 de dezembro de 2011


Mais fácil rir do outro do que de si mesmo.  O primeiro é sociável e o segundo é livre.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Ego Poiesis

Na comunicação o sentido é um pretexto, e o sentimento é o real motivo. Falo por mim somente, meu primeiro som foi gutural no esforço por comunicar necessidade e sentimento - consegui e por isso sobrevivi -, hoje eu reelaboro minha necessidade e sentimento, ancorados em palavras tornam-se plurais: necessidades e sentimentos; só pareço mais sociável e complexo porque meu rugido recebeu vários nomes, tantos nomes quantos eu for capaz de lhes atribuir, mas talvez o motivo não seja tão diferente do primeiro: comunicar necessidade e sentimento.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Quando me faltou sentido foi por excesso deles; esse é o paradóxo que minha razão outorga e minha vaidade consente.
Quem dimensiona a dor do rio ao ver-se melhor definido pela ausência?
Não é ele água, no muito o vazio criado pelo fluxo dela.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Poesia existencial



Talvez não tenha sido gratuita a escolha de uma árvore - Êtz háim, “Árvore da Vida” - como representação cabalística da existência, e ao contrário do modo excessivamente geométrico como a apresentam, qualquer um é capaz de olhar uma árvore de cima para baixo e notar seu modo curvo de se fazer. Também, qualquer um ao plantar uma semente de feijão no período escolar, nota que por mais torções que apresente seu caule, cada uma das torções são esforços da planta na busca pela luz.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Post mortem e vida




Às vezes penso que Jung pode ter razão sobre os arquétipos e, indo mais longe, esses arquétipos também se relacionariam ao "mundo das ideias" de Platão. Assim os arquétipos seriam como que "softwares" responsáveis por formatar a matéria, eles preexistem e talvez também sejam criados e recriados.

“Phowa” é uma prática meditativa que se destina também a preparar o ser para a morte.  Mas o que arquétipos e “mundo das ideias” têm a ver com a prática de "Phowa"? O adepto da prática meditativa de "Phowa" é orientado a fundir-se no momento de morte com um dos Budhas ou dos bodhisattvas com qual tenha grande afeição; uma volta ao "software"(arquétipo) com o qual mais se afiniza. No entanto é muito importante lembrar que essa prática acompanha o adepto ao longo de toda sua vida, para que no momento de morte ele tenha domínio e condições de realizá-la perfeitamente.

O que cito acima é uma prática budista, mas acho interessante a comparação com a escatologia egípcia do "Livro Egípcio dos Mortos";  me recordo de algumas passagens nas quais o "morto" deve se ver na condição de Osíris ( "software"/"arquétipo" do antigo Egito). O sujeito não era imortal, mas podia tornar-se de forma consciente.

Essa hipótese escatológica é econômica e se ajusta às variantes demográficas. Por quê? Econômica porque o ser pode voltar a um arquétipo preexistente, caso contrário cada ser teria que concentrar muita energia pra gerar uma matriz/arquétipo próprio. E a ideia de retorno a um arquétipo preexistente elimina a dúvida sobre variações no número de viventes ao longo da história: a preservação ou a geração distinta para cada ser; seriamos com que cópias de um ou vários arquétipos/"softwares"/matrizes.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O Inconsciente Freudiano é como o gato: faz, joga areia em cima, mas o cheiro permanece.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Dispensados na despensa?

Vivemos um período curioso nas artes: a música dispensa o som, a dança dispensa o movimento, a pintura dispensa a cor, a escultura dispensa o volume, o teatro dispensa a representação, a literatura dispensa a palavra, a fotografia dispensa a imagem, o cinema dispensa o tempo.  Será que estão todos na despensa?

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Causa primeira ou limite da estória?

Uma velha senhora acomodada em sua sala de estar jogava paciência. De súbito, um gato salta pela janela, atingindo um jarro que abrigava uma rosa solitária.  Água escorre pela mesa de mogno e mármore, desfazendo o jogo e a paciência da velha senhora. Em seguida, fica fácil supor que o gato fujão agradeceu ao Deus dos gatos por ter feito os velhos lentos. Mas e o antes? O antes, me parece ser a busca constante de todos por uma causa primeira que justifique o agora.

Nessa estória, em que a ação do enredo se concentra no acidente causado pelo salto do gato, o antes do salto do gato é o susto que o gato leva depois de um jato de água fria, no jardim da casa vizinha à da senhora.  Porém, o antes do jato no gato, é o gato que tinha ficado ao sol próximo ao formigueiro e, como consequência à proximidade, foi picado por uma formiga que estava em guarda e com ácido fórmico sobrando. Então, o gato foge da formiga para o jardim da casa vizinha. Pra azar dele, a vizinha – dona da casa – tinha dormido mal por falta sonífero; o médico dela teve diarreia no dia anterior, causada por intoxicação com salmonela.  Ai fica fácil deduzir que sem dormir – assim como ocorre com os bebes – o mau-humor tomou conta da vizinha. O gato desavisado, brincando com uma libélula por entre margaridas, merecedor ou não se torna o protagonista de deste enredo. Mas seria furtar a verdade do leitor dizer que o gato é o protagonista do enredo independente da escolha do autor.

Recuso-me a acreditar em causa única, inclusive: a despeito de qualquer especialidade científica.
Recuso-me a acreditar que a ordem seja propriedade da natureza, quando só a percebo no modo como o homem percebe a natureza.
Dou-me o direito de errar com originalidade e fazendo valer meus próprios sentidos.
 Og Esteves.