quarta-feira, 26 de agosto de 2015


Enfim, te perco porque te busco errado.   Descobri que você não é um fim, é  uma curva.   Agora que sei desse nosso a dois inconclusivo, queria te chamar para brincar de ciranda: - Me aceita como quem não te alcança, mas se ocupada por toda vida te buscando?   

quarta-feira, 19 de agosto de 2015



Quando, no cotidiano, estou por me acabar: solitário ou em bando, também eles me desenterram. E de mim na terra ficam mesmo só as raízes. 

Ah, esses pássaros.

              Imagem: Birnaz Kurt.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015



Meu silêncio te alcança

Aéreo, fora do chão

À beira do próximo passo

Vivo eu e todas as dúvidas

- É por saudade mais escuro o último instante da noite antes de nascer o sol.

           Imagem: Facebook; Zona Diversa MX; El arte de David Talley.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015



Entre início e fim tenho sido prólogo

- Você veio...

- Se não me esperava, por que fingir surpresa ?

- Esse vinho é bom.

- Quase não te conheço com esse casaco azul.

- Nada surpreendente nesse silêncio entre nós... tem a ver com o tempo, certo?

- Falando assim melhor medir a distância certa entre você e eu, pra evitar constrangimento.

- Senta em qualquer lugar... mas falo do guarda-chuva.

- Que mania sua... sério, quantas vezes você leu esse livro?

- Faz uns dias lembrei da gente naquele lugar.

- Pior... você ainda usa marcador de páginas.

- Cuidado... por pouco não derruba a taça com o cotovelo.

- Ahn?

- 33... o marcado é por costume.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015



Meu ego me captura pelo futuro em uma questão recorrente, mas à medida que experimento essa ideia ela tem se tornado cada vez mais clara para mim, então vou descobrindo meu gozo em ficar na fronteira, mais que gozo vou descobrindo o porquê de ficar na fronteira, faz pouco tempo que descobri que amo uma ideia de amor - estranho, não ? -, isso mesmo na falta de alguém ou talvez por ter vivido outras experiências descobri como saída amar uma ideia de amor e tem sido assim, amor vertido ao abstrato, até que alguém faça sentido ou me demova dessa ideia de amor. Na verdade, por experiência acumulada, eu sou levado a crer que a primeira é a única alternativa segura.

Não me examine assim como quem tem certeza, mas se achar alguma certeza sobre mim me confidencie.

Voltando à ideia de amor como contraponto à pessoa - isso se você quiser ser íntimo de mim por leitura -, saiba: eu tenho poucos projetos arquitetônicos sobre esse amor, mas escuto continuamente a música e sei de cor todas as sensações que deverá me causar. Entende? Eu sofri como muitas pessoas por querer fazer música na edificação que ocupava, então hoje estou tentando ter acuidade suficiente para primeiro reconhecer a música certa e depois arquitetar.

Outro dilema: fico pensando que o outro como minha música e eu como música dele deveríamos ser irresistíveis um ao outro, então se isso estiver certo não deveria ser ninguém que eu já conhecesse. Porque ainda faltou a coincidência.

Imagem: "Polvo", Olivier Valsecchi (2010).


Segue o presente imediato vitorioso em silêncio
Tudo é suficiente, exceto à uma mente solitária
Em cada objeto de ódio o amor se esconde mais intensamente

- Hoje vi por horas a margem odiar a ponte, então depois de exausta se descobre terra e sendo a ponte ligação entre seus dois lados.


Em meio a um tumulto em sala da aula um aluno me perguntou sobre pensamento, então eu disse a ele que costumava não pensar em algumas ocasiões, ele estranhou minha afirmação e então eu completei meu raciocínio: - Por exemplo, em agora que vocês estão muito agitados eu não penso em nada, vocês são meu pensamento.

Mais recentemente eu disse que achava o ser humano muito pretensioso se dizendo racional, se até tomando um susto as pombas levantam voo mais organizado do que pessoas capazes de falar se agrupando em fila.



Vajrapani Painting at Mogao Caves's Hidden Library, Dunhuang, China Power and anger personified. Late 9th Century, Tang Dynasty. Ink and colors on silk.


Em 'Mahanirvana Tantra', um dos mais importantes textos do gênero, Sri Shiva em diálogo com sua amada consorte Parvati esclarece que em Kali Yoga - na Era em que a morte é nosso mais importante evento de comoção, de ligação entre nós -, o Tantra - e nesse texto ele se dedica ao Kaula Tantra - é a única possibilidade de liberação no samsara. Eu poderia me dedicar feito um Pandit, explicando cada curva que o amor faz então ficaria claro os muitos tantras existentes como aspectos de liberação, de libertação no samsara, eu poderia encontrar várias razões para explicar o destaque dado ao Kaula Tantra, mas Sri Shiva com sua sabedoria sintética - assim como termina o referido texto resumindo todos os mantras ao ' OM TAT SAT ' - talvez quisesse nos apontar o óbvio: além da morte como grande união - Kali ( deusa da morte ) Yoga ( sentido de unidade ) -, nesta época de poucos seres apaixonados pela abstração intelectual, pela contemplação dos fenômenos manifestos, o amor vivido intensamente é a força preponderante a tirar o ser da infeliz condição de ser: um em si, de viver por si exclusivamente, de ser puro ego; mais comum ainda ser a Kaula Yoga Tantra, o amor sexuado, o fator a nos tirar dessa condição de limite perceptual, de pouca participação em relação: ideias, seres e coisas além dos que nos parecem só nossos.


Quando Sri Shiva, ou se preferirem Sri Siva, estabelece ética sobre a prática do Kaula Tantra - amor sexuado - ele cria dharma nesta prática, porque o ego será dissolvido e o sofrimento será evitado. Por esse meio, no período que corresponde ao texto, ele evitou que os seres fossem cor / ruptus na prática do amor sexuado.

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Segundo Tsong-Ka-pa basicamente são quatro os tantras, como nos apresenta do 'Tantra Samputa':

"Os aspectos de rir, olhar,
Segurar as mãos e abraçar
Residem como quatro tantras
Na maneira dos insetos."

Tantra Hevajra:

"Rir e olhar
Abraçar e unir,
Os tantras são de quatro tipos."

Em 'Vairochanabhisambodhi'

"À direita a deusa chamou
Buddhalochana, que tinha
Uma face levemente sorridente.
Com um círculo de luz uma braça cheia,
Seu corpo inigualável é muito claro,
Ela é a consorte de Shakyamuni."

Em "Paramadya":

"Desse lado está Mahavajra
Segurando uma flecha, ereto.
Sua mão embraça, orgulhosa,
Uma bandeira da vitória
[ Adornada ] com os monstros do mar."

To be continued...