sábado, 20 de maio de 2023

CARTA DE ALFORRIA

Carta de Alforria 


Já faz tempo que eu trabalhei pra pagar minhas contas. Não tenho nenhuma cobrança, ajuste ou dívida com qualquer passado. Talvez desinteresse por repetições.


Nem permaneço a mesma pessoa. 


Que cada um se machuque nos espinhos ou esperanças que cultivou e cultiva. Sou semelhante ao cacto nutritivo: "ora-pro-nobis". Tão nutritivo quanto espinhoso. 


Sou um velho e aceito ser um velho, desde que eu possa manter minhas coerências, ainda que: sejam elas espinhos. 


Desajuste: me tornar incoerente próximo da máxima estimativa da sobrevivência, se eu negar todo um percurso. 


Sou e permanecerei sendo exatamente o que fui, porque evitei o estelionato como paródia de vida. E, nada importante, seria eu entregar a minha cabeça a quem nunca manteve a própria cabeça sem depender de: outros, marcas e símbolos.


Foi melhor eu ter vivido, do que eu tivesse buscado ser somente um igual. Na esperança de eu ser salvo por eu ser: inevitavelmente e  confundivelmente semelhante. 


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Post Scriptum 


Basta eu ter sido uma piada de outros na ausência de misericórdia. E, de lá, também enxergam o mundo.


Só existe início da guerra 

pra quem conheceu a paz.


Cordialmente,

Og Esteves.

quarta-feira, 3 de maio de 2023

 Às vezes, eu penso que talvez e quando existir o amor grande, nenhum bicho precisará ser de estimação, enquanto, todos serão integralmente respeitados e apesar do cardápio afetivo ou alimentar que nós inventamos para os outros bichos. Antes disso, mais me parece, que nós discutimos mesmo é sobre: nossas preferências e gostos na diferenciação de cada animal. É sobre quais sabores mais agradam nosso paladar entre os sabores d'alma aos prazeres da carne, entremeados, por discussões unilaterais de ética e estética no trato com os outros bichos. A longo prazo, raramente é sobre eles e quase sempre: sobre o que imediatamente nos falta e se completa em nós usando eles.


Veja bem, eu não tenho nada contra o acolhimento e animais de estimação, minha questão é se minhas escolhas sobre a vida desses animais os satisfazem também. Eu verdadeiramente acredito que acolher é manifestação de caridade, no entanto, acolher à medida proporcial de busca pela manutenção da vida natural daquele ser acolhido. Por exemplo, em que ocasiões se justificaria dizer ter acolhido um ser que é mantido ao lado por coleira?


Acontece de me perguntarem sobre eu ter animais de estimação, minha resposta pode ser uma lista grande, porque estimar é diferente de fazer que seja meu. Eu posso ter carinho por um bicho sem ter direito a exigir dele o mesmo carinho. Enfim, é como dizem: só acaba quando termina - risos -, então, antes de terminarem as discussões continuam vivas. Só existe esperança na ausência da conclusão.