domingo, 30 de outubro de 2016



E no entanto é ali.

Voluptuosa sentinela é o desejo,
atravessa atento, se é binário, lado a lado,
evitando que uma versão de verdade o atropele.

- Não antes de ter em minhas mãos tua nuca falarei em vitória.

Porque tudo é vão, 
e se for em português,
preencha-me ao menos o côncavo das mãos.

Me isento desde que descobri o que eu quero:
dá-me logo um paradoxo de horizonte, enfim fim 
eu quero meus olhos a perder de vista bem perto aqui.

Naquele ponto em que teus olhos e os meus se confundem com nossos sorrisos
ali nascem sonhos.

sábado, 22 de outubro de 2016



Eu o apoio, eu não sou a melhor escolha dele. Ele melhor que ninguém sabe disso. E se eu fosse a melhor escolha dele, nós seríamos nossa melhor escolha, no entanto a vida para nós estava preparada para oferecer reticências solidárias e condolências a quem esperava uma guinada, então viver segue em retas esperanças, porque estamos certos do que queremos não ousaremos a curva e por fim só há amor no horizonte.

quinta-feira, 20 de outubro de 2016





De toda matéria depositada sobre os sentidos,
os melhores filhos do espaço são os cristais:
completos na menor partícula,
econômicos em menor escala.


- Tempo quem é teu melhor filho senão aquele sobre o qual incide a condição de passar?

- Tempo quem é teu melhor filho senão aquele feito essência das metamorfoses?

- Tempo quem é teu melhor filho senão aquele que nasce do que se encerra e morre assim que começou?


Aquele que é ou quer ser morre, eternidade é condição de passar.


Eu guardo sobre a abóboda do meu crânio alguns cristais finos da mais sutil energia, também eles irão terminar, mas antes disso cada ideia pura transmitida a outro é uma vitória sobre o tempo para os que pensam com palavras.


- Eu vi emergir ontem, hoje e amanhã de todos os úteros olhos e demais sentidos curiosos e amáveis.


Este é o continuum da Terra: faz nascer olhos e demais sentidos curiosos e amáveis. Como toda mãe a Terra é pura no parto.


Ser é condição trágica, porque tudo o que vive torna-se o conflito de quem deixo o paraíso de ter nascido curioso e amável para viver o inferno de agir e agir e pensar sobre agir.

quarta-feira, 12 de outubro de 2016




E antes que eu tenha uma resposta qualquer coisa existente antes de mim atende à pergunta, então será que até na parte sensível nasci dispensável ou a métrica sobre existir são dogmas?

Diderot e D'Alembert, as palavras inflexíveis de uns poucos submergiram a condição de verdade ao existir satisfação do método, enquanto a maioria voltou a se inscrever bem próximo às paredes das cavernas.

Por extremo é sorte, ambos os grupos são falsificações a serviço da comunhão de símbolos e sentidos. Mas a direção de existir ainda é ousadia dos olhos e de cada mínima maneira de sentir.

Veja, a estética do humano ainda está na Idade da Pedra, porque todo esforço poético faz chamar criação algo que torna-se resiste e imóvel. Ainda são poucas exceções a esse amor pela pedra.

E iguais à pedra: casas, caminhos, cidades...
E iguais à pedra: carreiras, costumes, pessoas...
E existir é completar um organograma adequado.

À essa estética florescer é um acidente, germinar é o erro mais antigo. Mas tenho esperança na genética e nanotecnologia, talvez tudo volte a ser um jardim se ambas nas estiverem a serviço da estética da pedra.



A despeito de qualquer conjectura o afeto ainda tem sido a causa mais genuína. Mas somos violentos porque nos educaram tímidos para amar. E sobre nós é melhor que saibam qualquer coisa conveniente à negação de nossa natureza sensível.

Assim fazemos coisas e escrevemos coisas e enquanto o mundo prospera em qualidades materiais e descritivas, escondemos mutuamente serem apelos criados por amor que não falamos. E o invento serve: como objeto do desejo e como alegoria à existência.

Por fim, o cúmulo: a lápide recebe amor em substituição ao ser.

Então, pela prática resume o escultor:
- Heroi bom é heroi morto.

domingo, 9 de outubro de 2016




Enfim, nada do que me ocorre sou eu.

Sou sempre uma versão do meu passado,
uma expectativa de versão do meu futuro,
e até no presente há um porém sobre eu ser real,
também agora sou sobressalto do desejo em um ou mais dos meus sentidos.

Enfim, nada do que me ocorre sou eu.

Se tudo pulsa à vir-a-ser:
porque para ser se escolhe entre o que foi,
porque para ser se escolhe o que quer ser,
porque para ser se escolhe enquanto agora.

Nunca fui desde sempre algo mais que a pura vontade.

Enfim, nada do que me ocorre sou eu.

E para além de mim, 
ver a vontade no outro querendo acontecer é amor ao outro - transcendência.

Eu morri vivo, porque em qualquer desejo não existe o eu.
Em todo desejo só existe nós. Eternos, porém coletivos.

E sobre como nos somamos:
como aranha tudo é teia,
se acredita em mim te capturou. 

quinta-feira, 6 de outubro de 2016



E porque não tinha últimas palavras,
deram logo a ele reticências.

Queimava em febre feito o inferno que o aguardava,
aquele que como todos outros que não se curvaram, 
era capaz de morrer sorrindo.

Borboleta é inseto e mau-gosto é ser barata,
mas a condição de ser humano é estética,
até a moral é só juízo de gosto.

Cabem horizontes em mim,
como ousa limitar-me com a palavra.

Na margem oposta ao sofrimento:
sua verdade e seu amor. 

sábado, 1 de outubro de 2016



E a última brisa sob o sol terá a cor do seu silêncio.
Tudo mais é escaldante calor, por fim é inferno.
Então até os insetos voam como que por zombaria se não há amor.

Ascende de mim esperança
como cavalo atado à vida, marcha
ainda que a sela desonre sua natureza.

Dos ventos dos pontos cardeais,
melhor que os quarto ninguém conhece as dimensões do meu corpo.
No entanto, se eu pulo quem me segura?

No caminho resfolegando:
- Amanhã... amanhã... amanhã...
Não porque me falta o hoje mas porque sou, o que eu como é o tempo. Mordi-me.



            Imagem: "El arte de Joan Crisol." ; in: Zona Diversa MX