sexta-feira, 29 de setembro de 2017


Veste a tua melhor ausência antes que qualquer luz te esclareça, então dorme no miolo à margem de tudo que foi dito:

Lá está você que curiosamente faz sombra sobre toda certeza desde quando nasceu, naquele início que ainda nem havia dúvida.

Acolhimento. Eu poderia pensar que estava sozinho de tão íntimos, apesar disso continuava surpreendente: descrevo o amor.

quinta-feira, 28 de setembro de 2017


Minha infância... aos fundos da casa da família um enorme pé de jambo vermelho e uns cinco pés de amora. Quando chegava a época de colher a parte que as crianças não pegavam virava: suco, polpa congelada, licor, etc.

Eu lembro dos panos usados para espremer e coar as amoras. Uma quantidade enorme daquele fruto, muitas horas dedicadas à dar finalidade , ah! ..., e a cor: todas variações de roxo e vermelho nos panos como filtros.

Pegavam é um verbo aplicado à aventura, uma modalidade de furto consensual nos pomares das vizinhanças das pequenas cidades. Certa vez eu me lembro de estar eufórico em ser invasor do meu próprio quintal; ingenuidade - às vezes existe um mundo afetivo enorme em lugares pequenos.

sábado, 23 de setembro de 2017



Somos tempo
Disso queremos relato
Sobre o que somos
Em tempo adequado
Para sermos íntimos
Da história que será quantidade
De nós
Anterior aos novos olhares
Contínuos
Sobre ser
Apesar de si

                     

É como se a Terra dissesse:

 - Te mato inteiro e agora, capturado pelo que há em mim e é mais nocivo a você, porque é o único jeito de te guardar para muito mais que depois de amanhã.

Puro âmbar

sexta-feira, 22 de setembro de 2017


Tua causa foi perceber o sofrimento entre os sensíveis, tua meta foi encontrar caminhos que sem discriminá - los os libertasse do sofrimento, tua obra é pacífica e toda abrangente, sendo assim: como não te amar Buddha?

E se por infinitos Éons ( Eras ) eu não alcançar a condição de um Tathagata, me encontra entre seus seguidores como um intemerato Dharmapala - teu guerreiro -, que ri-se da vida ainda que tropece nela, mas que escolheu oferecer o maior entre os tesouros que tem: lealdade.

Deixe minha dor autenticar o percurso dela em mim.

Vou contar um segredo, eu tenho uma palavra interna correlata à infância, quando mentalmente eu me refiro para mim sobre os 'mini - humanos' eu substituo a palavra infância por infâmia. É uma fase terrível da existência, porque para os adultos é pressuposto que os menores estejam errados em tudo que dizem e fazem, por isso: fase da infâmia. Enfim, eu tenho um sentimento de compaixão em especial pela fase da infâmia.

Eu não sei vocês, mas foi uma fase da vida que eu nunca tive razão. E se o que eu dissesse fizesse o menor sentido, algum adulto sempre assumia autoria no meu lugar.

quinta-feira, 14 de setembro de 2017


A morte para principiantes

Pensar com serenidade sobre a morte é extremamente bom. Entre outros benefícios, pensar sobre a morte traz essa ocorrência natural, inevitável e imprevisível, à consciência e você terá que se haver com isso de forma madura, o que é o oposto de confiar algo inevitável ao acaso e aos rompantes emocionais.

Eu acredito que a morte deveria constar como um dos temas de maior relevância na educação das pessoas desde a infância.

A percepção de limite traz um sentido de preciosidade para vida simultânea à constatação controversa de que a vida em si não tem um valor inerente, porque não se trata de algo durável ou mesmo sobre o qual invariavelmente possam se estabelecerem estimativas precisas. Mas então que valor tem a vida diante disso? E uma das respostas possíveis a essa pergunta é: o valor do significado que o vivente agrega à vida para si mesmo e em contexto social, porque as ações são bens pessoais e coletivos que podem ultrapassar a mortalidade do indivíduo que age.

Abaixo um aparte.

Por didática, vou dividir o ser manifesto em três partes:

O ser existe como ideia;
O ser existe como ação;
O ser existe como forma.

Sem aprofundar nessa ilustração e nas deduções e induções que possam advir delas, observe as matizes em degradê entre sutil e bruto, entre movimento e inércia. Então esqueça isso, se concentre em perceber entre essas três divisões 'inventadas' a graduação de perecibilidade, a diferença de tempo no processo de deterioração de cada uma dessas partes manifestas do ser. Veja que não é algo invariável, livre de exceções, mas parece mais possível que as partes relacionadas ao ser cultural tenham uma vida maior que a parte exclusivamente biológica ( o ser que existe como forma ), assim: uma ideia sobrevive mais tempo que uma ação e uma ação sobrevive mais tempo que uma forma.

Deduções, induções e sofismos curiosos podem se inspirarem nessas três divisões INVENTADAS sobre o ser manifesto: como ideia, como ação e como forma. Por exemplo, um gêmeo univitelino é uma repetição do mesmo ser na forma, mas sem coincidir necessariamente em nada no ser como ideia e no ser como ação. Outra possibilidade é perceber que uma ação que teve origem remota em um ser específico manifesto como ação pode tornar-se um código corporal e ocupar outro ou outros seres simultaneamente em diferentes lugares e épocas, quase como perpetuidade cultural; essa mesma maleabilidade do ser como ação também é propriedade do ser como ideia.

Por fim, eu posso tornar essas três divisões inventadas sobre o ser manifesto numa grande piada, se eu tentar qualquer aproximação  etimológica com os termos: espírito, alma e corpo, porque não satisfaria às pessoas encantadas pelo mistério e pareceria muito oportunista às pessoas interessadas na Cultura, por esses motivos não farei essa aproximação meramente etimológica aqui.

quarta-feira, 13 de setembro de 2017


Quase sempre a loucura e as doenças da alma nascem do egoísmo. Quem está interessado no outro: o outro como a ideia apaixonada, o outro como deleite estético ou o outro como destinatário de amor sem busca por reciprocidade, sofre menos da alma, porque a alma é semalhante ao Narciso mitológico e fica doente, petrificada, quando se admira excessivamente no espelho, coisa de extrema gravidade para algo efeito à fluidez por natureza. Mas não confuda a alma com a caixa que abriga a alma, às vezes o problema é físico e nestes problemas físicos da caixa a alma está isenta de responsabilidade e quem precisa de reparos é a caixa mesmo.  Mas, enfim, o alerta é que o interessar - se verdadeiramente por algo para além de si te alivia de tudo que há no ego e que te faz doente ensimesmado. Partindo para o mais simples, é por isso que dizemos que o amor cura. Porém leve em consideração que existem exceções e outros itinerários afetivos. Então se como fazem os artistas, os poetas e os escritores, você se interessar por si mesmo, mas como matéria-prima do discurso ou expressão dirigida ao outro, você também não estará tão vulnerável aos prejuízos do ensimesmamento egoísta, porque ainda que o outro não seja causa imediata está como a finalidade daquilo que te põe em movimento, evitando uma alma petrificada. Percebe como o outro - sendo a causa ou o fim - te livra de um ensimesmamento que adoece a alma? Pode parecer estranho, porque o outro quase sempre é a isca da nosso desequilíbrio afetivo, mas somos mutuamente a cura afetiva uns dos outros, a medida que pescamos uns nos outros nossos mais recônditos desequilíbrios emocionais.

domingo, 10 de setembro de 2017


E toda a beleza
à porta de um coração medroso,
bem antes de qualquer conversa, diga:

- Que o próximo passo dê um passo a frente.

Coração alcança pelo ritmo os novos ares. E sem ter perdido ou ter conquistado ensaia o riso, o choro e a indiferença.

E toda a beleza
à porta de um coração medroso,
bem antes de qualquer conversa, diga:

- Que o próximo passo dê um passo a frente.

Brilho aveludado cintilante nos cimos e contornos. Ainda que todos contradigam, nunca faltam no que a alma ama.

E toda a beleza
à porta de um coração medroso,
bem antes de qualquer conversa, diga:

- Que o próximo passo dê um passo a frente.

Indiferença é âncora fria. Espero o riso como quem no inverno desperta antes da alvorada.  Se te acontece rir é como o sol, que também é para mim.

E toda a beleza
à porta de um coração medroso,
bem antes de qualquer conversa, diga:

- Que o próximo passo dê um passo a frente.

terça-feira, 5 de setembro de 2017


O vazio é uma coisa que cresce a medida que a gente se enche. Nem lembro de existir vazio na minha infância e olha que nasci no interior, por isso vim crescendo de dentro pra fora, até que me mostraram a capital e em seguida fui descobrindo o vazio. Uma capital enche a gente bem rápido. No interior uma única avenida às vezes com poucas curvas vai mudando de nome, enquanto a gente caminha do começo ao fim e na mesma jornada sem nem mudar de reta estão todas as possibilidades. Na capital sobram muitas ruas e a gente fica pensativo por não saber o que acontece nelas.

Outra coisa que enche a gente bem rápido é a ignorância e dar nome ou mesmo inventar estória evita que a gente fique vazio pela falta de nome pras coisas que acontecem.

Uma pessoa que tem nome não enche, ela continua do lado de fora da gente e responde por si caso a gente a questione. Mas uma pessoa sem nome é uma coisa incompleta e logo faz o vazio aumentar depois que passa.

Palavra é também uma forma de evitar o vazio, porque toda palavra só é completa se sair de dentro e for pro lado de fora, então igualmente palavra não enche e por isso palavra também serve pra não te deixar vazio.

Parece complicado, mas é bem simples, vou explicar. Tudo que fica do lado de fora não enche, mas se for do lado de fora pra dentro então enche e não demora muito te deixar vazio.