quarta-feira, 30 de dezembro de 2015



Entre as tantas coisas que acontecem algumas são furos. Não falo só aquele do qual se ocupam os jornalistas mais sortudos, mas do vazio que se insinua pleno aos nossos olhos nos incitando a completar. Sim, deste buraco sorvedouro de sentidos nascem as histórias para que se animem as almas ante à fenda na certeza, para que a Esfinge deixe Édipo viver mais um dia. Por falar em história, talvez você conheça essa sobre Édipo e muitas outras nas quais um enigma solucionado finge ser solução, por favor, não sejamos ingênuos, qualquer resposta que ocupe os vãos propostos pelo enigma serve como satisfatória, mas se tiver atenção irá perceber que o furo surge na sequência do acerto sem fogos, sem comemoração, mas inaugurando a contínua incerteza: é como se a Esfinge desolada por ter que fazer Édipo acreditar que acertou alguma coisa se jogasse do penhasco como quem diz: - Junta-me os cacos e me faz inteira de novo. No mais, torço todos os dias para que tuas lágrimas conheçam ombros e abraços e teus sorrisos sirvam aos horizontes. Porque não é por não sermos afeitos à condição de terminar que sofremos, pensar isso é como fazer e responder enigmas e que benefício real isso trouxe ou traz ao modo como nos contamos na história? Não estou dizendo que tenha que ser eufórico, mas consulte-se sobre ser feliz.



                            Imagem: Christophe Jacrot, "NYB Full Moon",
                            from series "New York in Black".

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