sábado, 28 de novembro de 2015



Em parte sou filho deste sempre mesmo fogo que garantiu vida a todas as tribos humanas sobreviventes. 

Não porque negassem a noite. 

Mas por também inventarem histórias que esclarecem a noite em torno das fogueiras. 

Que algoz resiste à invenção como verdade que o justifica? 

Caberia pedir perdão por nos ocuparmos enquanto se ocupa de nós o tempo?

Não, longe de nós sermos tempo. 

Porém somos um algo sobre anteparo à condição de passar: éramos, somos e seremos. 

Disso somos feitos e afeitos. 

A civilização humana é máquina. 

Que por transmissão: se agregam ou desagregam peças.

Assim se despedem e dão boas vindas os olhos humanos.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015



Eu que nunca me completo, seria justo que me dissesse dia?

Não.

Perdão se a enciclopédia de sua certezas me encontram noite.
Sofro do mal daquela parte não escrita, daquilo que ainda não tem significado.

Enfim, tenho mania de inventar: acabo-me sempre antes do início.

No máximo - se te couber ousadia - chama-me: impulso de cada instante. E então te aguardo sincero. Amorfo aos significados, esperando nos inventarmos juntos.

sábado, 21 de novembro de 2015


A eternidade está nua e despersonalizada acenando para todos que se amam tanto a ponto de se perderem frente ao óbvio de cada instante: o você que existe é agora.


- Não, eu não estive, não fui e tão pouco irei...

E para além disso cansou-me fazer aquela série de opostos, levando-te subir e descer montanhas para que talvez transpire tua alma fria.

E se quiser saber o que sou: - Coisa nenhuma.

Porque toda vez que recebo um nome me sinto apertado...

E mesmo que por força da loucura dou um jeito de deixar logo de ser arrebentando a casca até tornar-me variável.

Quando era criança às vezes ouvia adultos dizerem: - Fulano ou fulana é impossível de lidar, é variável...

Azar o meu porque eu amava aquelas pessoas variáveis, quase sempre eram as que estavam certas sendo exauridas em discussões pela mediocridade moral.


                     Imagem: "Marinero en la calle", Garry Winogrand (1950)
                     Zona Diversa MX

segunda-feira, 9 de novembro de 2015



Essa beleza incansável que por entre formas salta e se põe completa desde o começo - sempre ao abismo chamando atenção de todos nossos vãos. Então diz silenciosa: - Dia qualquer te faço pleno depois de encontrar em mim o que a você faz falta. Sem ao menos ter ido por um só instante, nunca vem. Mas ao sabor dos que enxergam faz tempo, a imaginação pacifica com sonho. Porque a noite será sempre dos amantes, até mesmo dos solitários.


           Imagem: foto do modelo Filipe Miller Navarro



Janela aberta sol invadia a sala iluminando a poltrona aposta ao sofá que sentávamos minha mãe e eu. Sem rito de gênero, nossa conversa valia mais que sexismo. Ela que estivera limpando a estante, deixou cair o livro marcado pela rosa seca. Depois disso veio aquele sofá sobre o qual falei e nós dois sentados opostos aos reflexos difusos de um sol intenso, enquanto ela me dizia do costume de sua mãe - minha avó - secar flores por entre páginas. Acho que na vida vim pelo inverso, então comecei pela neurose e faz pouco tempo que me dedico à perversão, digo isso porque precisei ser respondido em um tanto de perguntas até entender que era suficiente uma pequena flor ou folhas - guardadas por papéis dispensáveis - por entre as páginas de um livro pesado. Me segurei para não fazer daquele momento a secagem de um jardim inteiro, fui minimalista e me senti confidente pegando uma pequena rosa para guardar naquele livro.



                            Imagem: Arak Photography

sábado, 7 de novembro de 2015



Como o ápice da parábola todos os sentidos se concluem simultâneos. Malditos os que responsabilizam as sombras como por culpa, sem perceberem que as elevam à condição mais sublime.

Ah razão natural não te ofenda com tempo e os defensores de instantes, chega logo a conclusão histórica: eram seres óbvios - hediondos ou medíocres - devotos aos termos à chamarem a maior luz de sombra.

                      Imagem: Amor Gay


Entre tons
Porquê não sabemos
Mas sobram notas 
Além das músicas

À beira mar sozinho
Te ganho horizonte no oceano
Nunca foi tão a perder de vista
Puro sonho

Côncavo da mão
Da pouca água que lhe cabe
Da pouca terra que recolhe
Deixa germinar