sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016



As plantas me parecem um grupo de seres tão seguro sobre onde ir, sem exceção todas em direção ao sol e que quase sempre está em cima.



na caixa de imaginar
um sobre outro vivem
em variações de folego


olhos infinitos saltam janelas
antes de curvar o pescoço
então as almas se recolhem


mas há muito canto
por entre ângulos retos
como sonhos mixados


embaixo da marquise
alguém vendendo flor
outras, não as da caixa


















Imagem: Michael Wolf,
From series "Life in cities: Transparent City"

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016



E quando o tempo teve dúvida sobre o que era se enfeitou de crepúsculo e aurora, então mesmo sem certeza era belo.
           Imagem: internet.




Mesmo sem música este tempo te reservou um espaço para que se movimente. Por sorte alguns olhos talvez te escutem e terá sido mais que um em órbita, deste feito irá se medir a partir do pulso e existir passa morar no peito. Expira e inspira hoje em escala descendente para viver eternamente no instante, enfim: agora é dança.



    Imagem: " A Dança " - Henri Matisse, 1910.


Atrás de onde nascem os significados, à beira de um amontoado de descrições mora: o ser. Então vez ou outra ele sai porque se encontra em um jardim ou no cantar de um pássaro. Não que seja tímido, mas pode se perder naquele amontoado de descrições e vai deixando de passar com as estações, de cumprir seu regime de chuvas e têm dias que nem mesmo germina. Mas para a desgraça das importâncias existem vãos na condição de fazer sentido para si e para outros, disto para acontecer o milagre de ser inteiro em um momento basta um pequeno salto e todas explicação são dispensáveis - e ai para o desespero de um exército de pessoas que vivem de anotações ele ficou inteiro.

Imagem:  Egor Shapovalov

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016





Sonhei sem erros,
o tato me apresentou você.


- E a quantos o cheiro faz sentido?


Assim como o gosto é além de si,
a língua quer mais que a própria boca.


Tudo à deriva
sem que ninguém se afogue entre os que amam,
deve emergir só o que realmente são.



                                                               
   























Imagem: Facebook; Regarde l'art gay.


Fico tentando imaginar um cinema que seja capaz de agregar considerações de outras áreas dedicadas à imagem sem perder as conquistas de comunicação de massa. Por exemplo, textura. Parece ser senso comum entre os que produzem cinema na atualidade que a textura é aquela que parece ser resultado da melhor capacidade de capitação da câmera, mas isso seria reduzir a pouco o sentido de imagem no audiovisual, no cinema.

Esdruxulamente comparando, seria o mesmo que eu dizer ser a Renascença e todos os esforços do figurativismo Hiperrealista os únicos modos válidos de pensar imagem nas artes plásticas. Por exemplo, por que de cinco quadros editados em sequência um deles não poderia ser um abstrato?

Me parece característico de nosso tempo a valoração do textual em comparação com comunicações sensoriais não-textuais. Os orientais diriam que estamos em um tempo no qual se privilegia mais o Sutra do que o Tantra: mais a mente que se realiza como formação de ideias do que como experiência estética. Então a música instrumental que não se destinar ao dançar ou as artes não descritivas ou as artes visuais não figurativas parecem isentas da qualidade de fazerem sentido, de causarem sensação, porque não são textuais e dedicam-se à fruição estética 
não-textual.

O tamanho que a qualidade de fazer sentido chegou é tão grande, que algumas correntes dedicadas à conceituar mente confundiram mente com linguagem. A maior gravidade desses conceitos, principalmente quando alardeados ao senso comum, é que subtraem dos seres a relação natural com a maior parcela da condição de existir: a que não faz sentido, a que existe porém sem o conforto da explicação sob medidas de uma linguagem, etc.

Desse vício por significar como modo de validação da experimentação estética, desse vício por significar como modo de validar o que se sente, surge um vício em narrativas interiores que podem corresponder em parte a verdade e em parte a mentira, sem maiores prejuízos, ou tornam-se problemas para seus autores.

Tudo isso para a satisfação do imediato, para que o conhecimento tenha como limite a utilidade sob medida, então seguimos sonegando às pessoas até mesmo os indícios de imprecisão das ciências que deveriam serem precisas, por exemplo na física a hipótese de 'turbulência' - aquela de que os cálculos talvez não fechem nunca.

Encerrando com simplificação, acho relevante lembrar que as situações, experiências, o que te acontece enquanto vive existe independente e antes de ser transformado em entendimentos, em palavras, etc. Na verdade muito pouco do que acontece se agrega à uma 'linguagem' para fazer sentido, no entanto existe como experimentação estética. Deguste existir!




   















Imagem: “In NYC” por Andre Joaquim.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016



Se parecem inoportunas minha medidas não sei.
Mas porque não lhe caibo - Tempo - ancoram em mim: 
náufragos e os à deriva.

Vi relógios soberbos 
arrebatados por sonhos 
se perderem em curvas 
afirmando ângulos retos.

Então, inequívoco filho solar,
tenha a elegância de comportar-se como noturno 
enquanto existe na parcela do sonho.

- Trevas te acolhem toda noite: Ingrato!
Se reconhece em dois lugares e toma medidas racionais de ambos, o que me surpreende muito é que isso não lhe gere suspeitas.

                           Imagem: from page 327 of Book "Poems"
                           by Robert Bulwer-Lytton (1900).

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016




oceânica
das montanhas
entre folhas


ou do planalto 
de uma sacada


olhos: 
cedo para o dia
e
tardes para a noite


recém banhada pela madrugada
às vezes ainda te pego nua


então dormimos juntos aurora
nestas horas em que todos os pássaros existem



             














                               Imagem: Nicola Held. 

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016




Eu nasci muito livre, mas muito limitado. Então à medida que superava limites conhecia proibições. A questão é que a mentira caminha paralela à verdade, sendo ambas sustentadas pela obediência. Entre inescrupulosos mentirosos a desobediência é o único salto sobre abismo para o fracasso ou para a liberdade real.

Por gentileza, me acompanhe nesta metáfora: 
- Imagine que nos agruparmos, formarmos tribos, aldeias, cidades, etc, vamos imaginar que formar grupos organizados seja condição comum aos da nossa espécie. Agora, vamos ilustrar esse conceito chamando-o de 'sermos árvore', simplificando ainda mais: 'árvore', tudo bem para você? O problema que que alguns inventam mentiras sobre o tipo de árvore que somos, mentiras sobre como nos plantamos e sobre quando nos colhemos, mas essas são opiniões que violentam a condição natural de sermos espontaneamente 'árvore', desacreditam as verdades que realmente experimentamos sendo 'árvore' e tornam-se ameaças à nossa realização verdadeira como 'árvore'. Diante disso é melhor eu me calar sobre o estrago que fazem a cada um em particular, porque é sem medida o dano que causam às folhas. No plural custam harmonia social e no singular custam vidas significativamente verdadeiras.

                          Imagem: Zona Diversa MX.


O significado, ação e forma são condições do manifesto, ainda que possam serem apresentadas dissociadas para enriquecer o entendimento e agregar atributos às linguagens, significado, ação e forma são fronteiras meramente imaginadas para entendimento. Caso contrário o significado não teria efeito sobre a ação e sobre a forma ou cada um deles mutuamente sobre os demais. Este é um dos sentidos que sustentam o ritual: preservação do significado, da ação e da forma e cada qual mutuamente eficiente um sobre o outro.


sábado, 6 de fevereiro de 2016



Sou pouco além disso

Suspeito que existam pessoas que se sintam bem em serem: abraçadas, abrigadas, protegidas, etc. Porque assim a existência tem equilíbrio, encaixe; enfim, nasci para que alguém durma no meu peito, abrigado pelo meu abraço e que me deixe proteger.


                            Imagem: in Facebook, Zona Diversa MX.








Horse

Alguns seres ignorantes acreditam que a civilização como a conhecemos seja obra inequivocamente humana, contudo esses seres ignorantes se esquecem da piedade do Leão e outros iguais em grandeza, magníficos vencedores; ou da cooperação do: cavalo, elefante, cachorro; ou mesmo do ornamento dos pássaros e outros seres majestosos em confortar, nos salvando do suicídio; etc.

Por fim amaldiçoamos a serpente que nos ensinou sobre as sutilezas, a química, a cura e o segredo da inversão de grandezas escalares em massa.

Amigos, entre todos os seres seria melhor nos vermos como os mais recentes e pouco adaptados a este lugar.

Os outros além de nossa espécie esperam que possamos ser melhor que o fim incubado, porque a morte também tem sentido magnífico.

Acho interessante que ainda pareça original e/ou sábio ser indomável como espécie, apesar de sabermos que a Terra conseguiu domar todas as outras espécies anteriores a nossa.

Domus. Domiciliar.

O contexto gerador é potência capaz de tornar tudo que gera parte harmoniosa dele ou seria ele causa 'mortal' a si mesmo?

Ou talvez existirem regras, medidas e recorrências reais sejam condições inerentes ao modo como percebemos. Mas por hora e por serem próprias do que somos é justo que sejam consideradas nossas reflexões.

Porém tudo isso que escrevi só tem valor real se houver alguma coincidência entre o manifesto e o simbólico como palavra, ideia.

           Imagem: Powerful Horses Photos by Wojtek Kwiatkowski.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016




Muitos dizem ser difícil entender o amor, por isso existe alguma vantagem em saber a profissão:


- Diz logo onde planta as mais lindas flores que desde a raiz arranca tão jovens?


Porque sempre é fim para os que realmente se entregam sem pensar, só consigo te entender como quem colhe para si.



           Imagem: Amy Winehouse.