sábado, 26 de setembro de 2015

Marc Fitt

                     Imagem: Marc Fitt


Vênus
Deliberadamente se desenhando e cada traço inventando a história do corpo humano.
Meus olhos de alcançam, meus sonhos te querem navegante, tua beleza é o compromisso do corpo pronto para hoje e inventando desejos de amanhã.
Não,
me excetuam os compromissos em dizer aquilo que você não foi, porque plenamente se realiza em corpo o que você é: desejo. E eu te acrescento todos os dias em meus sonhos como quem respeita sua realização.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015



Seria bom que eu te quisesse só um pouco, mas nessa posição tão entregue mais que justo eu ser sincero, objetivo, veja bem:

Se em um salto alcançasse o mais alto da atmosfera ou mesmo recolhesse do céu em imagem uma constelação. Ou:
Se em corrida avistasse tudo na terra, feito e se fazendo por distração. Ou:
Se em mergulho profundo encontrasse puro fundo, início de mundo. Veja bem:
Nada disso é mais belo que coincidência em vermos belezas em imagens.
Perdoem-me: - Exagerando de vida matei a poesia, tornou-se um poema?


                            Imagem: Zona Diversa MX

quinta-feira, 24 de setembro de 2015



Essa pequena caixa
seguramente fechada

sem entrada ou saída

translúcida

segue inexistente

capturando todo sonho
como se faz nuvem
a cada gota d'água.

Não você ou eu,
como acreditamos,
mas o que enxergamos é: o vão
do que nos transpiramos.

Como chuva fina
ou tempestuosa
sobre o oceano.


     
















                       Imagem: El arte de Brian Jamie. In: Zona Diversa MX


O efeito da verdade no falar e pensar é libertador e por mais de uma razão, uma ilustração talvez ajude entender, imagine-se como 'vontades' querendo serem pensadas ou faladas a alguém como 'verdade', mesmo a parte que não vemos conscientemente, de algum modo, também abrigamos em nós, então, por exemplo, quando você diz gentilmente a 'vontade' manisfesta como 'verdade' a alguém em uma conversa, a 'vontade' que quer se manisfestar como 'verdade' no outro se realiza, por reconhecer um campo seguro para se manifestar também. Mas o inverso faz intimidar a 'vontade' que quer manisfestar-se como 'verdade' nas pessoas e esse artificialismo gera infinitas conversas vazias, que são como que as palavras erradas sobre o fundo branco de folha que corresponde aquele dia no seu imediato a cada instante. Neste sentido podemos dizer: a verdade é um lugar do qual não pode haver recaída, porque é simultânea justa a todos os eventos do imediato a cada instante, e a 'vontade' manifesta com encaixe perfeito, único para o momento presente no qual se quer ou se quis manifestar.


Seja livre e feliz, seja doce e deixe sua 'vontade' se manifestar como 'palavra' e 'pensamento'.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015



Eu era aéreo até que me cresceram raízes, hoje mal sei quem sou porque entre uma poda e outra nascem-me novos brotos, então certos períodos floresço e logo mais tarde me surgem frutos, uns me colhem, uns me podam e talvez um dia venham me arrancar, mas sei que terá sido tarde para me dar fim, tenho virado sementes.


                          Imagem: A robotic garden sprouts and flourishes
                                   in Ajgiel’s "Nature and Technology."
                                                        DeviantArt

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

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Tendo lido "O Demônio da Teoria" de Antoine Compagnon pudi constatar que às vezes o percurso de surgimento do clássico costuma ser bastante duro com os 'autores',  de modo que poucos são aqueles celebrados em seu tempo. A partir disso e traçando paralelo com "A Trajetória do Heroi" de Campbell sou levado a crer que a sociedade celebra mais o percurso que o feito em si e, por essa razão, entende como concluído aquele percurso no qual se reconhece 'hybris', 'hamartia' e 'catarsis'. 

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Van Gogh

sexta-feira, 18 de setembro de 2015


Terra, eu que te enxergo sempre nua mal aprendi a me vestir, então sigo em carne viva vendo a lápide cinza sobrepor-se à vida fingindo ser abrigo.


             Imagem: Zona Diversa MX in Facebook.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015



Desconheço algo que possa ser mais significativo e ao mesmo tempo que me esvazie de qualquer significado. Que o amor se encontre através das pessoas. E como um colocar-se em ponto equivalente de visão privilegiada, que assim seja o amor entre os olhos dos amantes: nem muito e nem pouco, bastante e à plena vista.


                     Imagem: "El arte de David Vance.", in: Zona Diversa MX

domingo, 13 de setembro de 2015




Se alguém souber o que é o ocaso, por favor, me conte. Faz muito tempo que ele mexe comigo, ritma minha respiração e lança em mim todas as certezas contra minhas dúvidas superficiais. Sim, o ocaso é exigente e se recusa acreditar nas mentiras que confortam. Acho que um pouco como eu, um pouco como Antígona em Sófocles, também o ocaso está no 'entremeios' lacaniano, nem vida e nem morte, nem dia e nem noite. Demorei muito a entender que o incomodo era me ver tão parecido com aquele momento único, intenso, rápido e efêmero. Porém ainda que termine, todos os dias eu tenho algo da natureza semelhante a mim mostrado a todos, agora que estou acostumado a nudez já não me importo e chega ser confortável saber que eu sou aquilo que nunca será plenitude, nascimento ou morte, e vivo para sempre nas fronteiras das adjetivações elevadas ao absoluto, das qualidades puras.

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If anyone knows what is sunset, please tell me. A long time it moves me, makes my breath and throws me all my certainties against superficial questions. Yes, sunset is demanding and refuses to believe the lies that comfort. I think it looks like me, also looks like Antigone in Sophocles, because sunset is in the 'inset' [ Entremeios ] Lacanian, neither life nor death, neither day nor night. It took me long to understand that the inconvenience was I perceive myself as like that moment, intense, fast and ephemeral. But still to finish, every day I have something of nature like me shown to all, now that I'm accustomed to nudity just do not care and is comforting to know that I am that will never be full, birth or death, and live forever border of adjectives that are elevated to the absolute, the pure qualities.


  Imagem: ALBERT BIERSTADT (1830-1902); Facebook: Open ArtGroup

domingo, 6 de setembro de 2015



Um, dois, três, quatro,
Cinco, seis, sete, oito...
- E nós que nos escondíamos juntos... 
- Preciso contar, me espera?
Então, porque não posso te encontrar, te encontro:
no cheiro da terra molhada de chuva,
no barulho do vento mexendo nas coisas,
no entre tons de vermelho e preto da noite mais fria e escura.
Vou te escolher por último
Preciso te fazer ganhar
E é porque você não me escolhe que vamos de novo:
nos escondermos juntos.

terça-feira, 1 de setembro de 2015


Algumas pessoas culpam a beleza à medida que querem dela mais do que ao que ela se destina. A beleza é um estado de espontânea generosidade, algo que por si e pelo que se é - sem nenhuma outra causa necessária -, se estende ao deleite de outros. Qualquer ideia além disso é característica extra que se atribui à beleza, o que pode aumentá-la ou diminuí-la em seus significados. Mas ela permanece lá, apesar de nosso despeito ou exagerado vislumbre: sendo pura doação.



   Imagem:"El homoerotismo de Greg Vaughan" in: Zona Diversa MX




Tenho amigos muito significativos que jamais me deixaram apesar de estarem longe - sou provido de memória, gratidão, pensamentos -, mas também sou e tenho sido alguém bastante sozinho, ultimamente descobri que eu ser sozinho pode ser mais incomodo aos que me observam do que a mim.

Acho que alguém algum dia disse que o ser humano é um ser social, então na falta de percepção mais ampla sobre o fenômeno de ser e dando continuidade a tradição as pessoas seguem sendo o que contam para elas, mas no fundo é bem mais óbvio e inebriante: ser é tudo o que sabemos e sem exclusões. Já o não ser é o que está para além da curva, inclusive da imaginação, ou a frase de Descartes: "penso logo existo", perderá sua conotação também metafísica.

Um amor, um farol e o oceano.


                         Imagem: Isle of May, Scotland
                         By Bruno Billion