- Vê aquele pássaro pousado?

   Pequeno, inventa festa entre penas.

- Vê aquele pássaro pousado? 

   Há cerca maior que suas penas. 

Revoada sobre existir é o sonhar. 

      Haikai é um poema mineiro feito por japoneses.

Demora ser o que vai se completando.

Hoje eu fiquei feliz,

porque sorriu pra mim alguém que tinha desisto.

Eu tento ajustar o passo enquanto existe chão.

Ontem ficou distante

Eu subo e, em seguida, revejo o abismo. Diferente da montanha, o abismo é sem possibilidade de descrições, porque é espaço entre as alturas das montanhas. 

O abismo não dói e nem a altura, o que dói é queda do corpo colidindo com as rochas ou o impacto contra o chão. 

O abismo estava lá antes de mim. Um sem número de pessoas viram aquele espaço, o ponto cego dos muitos olhares. 

O medo é o imprevisto. 

Alguns sobem as montanhas com peso demais, outros com peso de menos. São dificuldades extremas?

Qualquer desatenção e inconsequência infantil ressoa como eco diante dos precipícios. Eu sei, nenhuma criança está lá, porém o medo de cair insinua voltar ser criança. Vertigens.

Na subida o entusiasmo traz força, a paisagem compensa esforços e cuidados. Descer exige outras expectativas.

Menos do mesmo

Em muitas ocasiões, inclusive, eu me sinto generoso ao presentear pessoas com minha ausência nos eventos sociais entre os quais eu já perdi a paciência de participar. 

O traquejo social nunca foi uma habilidade espontânea em mim. Apesar de, às vezes, ter parecido me saído bem, sempre foi resultado de um esforço tremendo e um desafio à minha inteligência emocional conversar em grandes grupos sobre trivialidades, e, pior ainda é conseguir me safar das indiretas. Eu sou naturalmente deselegante e extremamente desagradável se percebo qualquer insinuação. 

Até um certo momento da vida, por necessidade, em muitas ocasiões eu fazia "ouvido de mercador". No entanto, envelhecer, além do declínio físico natural, também traz uma rebeldia e preguiça em tolerar pessoas que jamais saíram de uma experiência superficial e alcoviteira em relação à vida. Por exemplo, acho natural até uma determinada idade que pessoas tenham interesse na vida íntima de outros, me parece uma fuga do vazio de suas próprias vidas, e então, preferem estar num mirante à olharem para si mesmas. Mas, o caso é que isso não deveria se manter coincidente à perda progressiva de mobilidade que acompanha o envelhecimento natural. Então, ficam parecendo um filme desgastado pelo excesso de exibições e descolorido pelo tempo.

Discordo que amizades se justifiquem em tagarelices.