sexta-feira, 15 de abril de 2016



Certa vez, como de costume, Mr. Back saiu para mais uma de suas incursões às terras dos humanos. Ele insistia em ser livre apesar de passar a vida sendo hostilizado por ser um felino e ter comportamentos de felino. Voltando ao certa vez que ele não voltou, eu decidi entender que tornou-se mistério e sem qualquer estória que testemunhe o fim, tornou-se um gato eterno. Em metáfora eu sou Schrödinger, ele é gato de si mesmo e o mundo é nossa caixa. Como ambos estamos dentro e consideradas as tantas outras hipóteses físicas, se vivos ou mortos não são possibilidades excludentes.



    Imagem: in Original Mouvement.

quinta-feira, 7 de abril de 2016



Desta areia quente - 
seca até mesmo nas lágrimas -
não nascerá flor.

O que fazer com aqueles entres os quais só cantam os corvos?
Encerra o peito expediente ao pulso de tanto apanhar, 
sem escolher revidar e bater,
fez em pleno peito puro silêncio.

Eu te quis tanto antes que tivesse nome
que passei dias inventando estórias,
por fim resto-me eu e a inventividade.

Não se confunda se me encontrar em abismo,
a menor semelhança entre nós é sem dúvida eco.
Porque o mundo é feliz, dói e sente em ressonância.
E disso alguns: 
amam mais que por si,
desgostam mais que por si.
Mas em confronto entre o ser e o mundo, 
o ser escolhe achar que o que senti se trata só de si mesmo; 
é quando o ser reduz o mundo ao peito.

Sou silêncio e caixa de ressonância.
Em mim cantam os corvos.

                     Imagem: "Les Fleurs du Mâle".





Todo dia se enfeita.
Até para quem passa distraído.

É como o plural e em dança,
das formas menores às maiores,
em escala, tem medida única em cada um.

Quem acolhe percebe que é mutuamente
e pelos olhos de outros é também estar.

























Imagem: paisagem na Escócia.

terça-feira, 5 de abril de 2016




Todo sonho que não se realiza e insiste é semente
então algumas primaveras terão sabor de quem avista
e com este monte de tempo reunido você prepara o vaso
óbvio que o tamanho deve ser proporcional à esperança
regue e fertilize com rotinas e surpresas, mas evite menos
menos é tipo de erva daninha que se disfarça de conquista

Enfim, para que ninguém enfarte: pé de sonho nasce grande


                       Imagem: © C A R M E L I T A • I E Z Z I


domingo, 3 de abril de 2016




Por costume me coloco avistando o fim.

Incompletos os movimentos se interrompem.

Existe você que sem dizer o nome é tudo que falta?


Minha estória é gota d'água,
deslizo entre pétalas até o chão,
no plural sou chuva,
molho, mas sou raso. 
Por que quem afoga sou eu?

Não, você não me entende.
No máximo entende a si mesmo através de mim.
Mas os horizontes amam as praias, 
para que o sol durma e acorde em esplendor.
E a cada manhã nos lembramos e nos esquecemos,
a proporção inexata entre você e eu é o que faz doer.

Espero que aconteça sossego em nós
e as tardes tragam sonhos confortáveis
ao sabor do mormaço, 
fechando pálpebras que acolhem 
sorrisos sutis
no canto dos lábios,
porque fomos justos e 
a tempo
nos descobrirmos passageiros.




                            Imagem: Zona Diversa MX