sexta-feira, 30 de outubro de 2015



Por que a sobrevivência do Estado / país / nação como causa de paz depende de ser ele ético, pacificador, ordeiro, gestor econômico e amoral?

Se em algum tempo histórico o Estado / país / nação representou unidade simbólica em sentido amplo, já não mais concilia cidadãos em termos simbólicos. Os países não são pontos comuns de uma Cultura - se é que um dia foram - esse tempo atual e as condições históricas de comunicação puseram fim ao modelo de Estado / país / nação que talvez correspondesse à unidade comunal de símbolos e significados.

Se excetuarmos o uso de força bruta e morte contra outras Culturas como fez o Império Romano, temos que conceber um Estado / país / nação que assimile a multiplicidade espontânea surgida da interação de comunicação entre as diferentes Culturas. Se optarmos pela paz, o modelo é de um Estado amoral, ordeiro, pacificar e gestor econômico, então temos que abrir mão de tudo que represente tendência e opinião grupal e defendermos a paz e a ordem, à despeito de tudo que se mostre preferência como ideologia, como opinião sobre comportamento humano, etc. Toda e qualquer medida política diferente dessa só é realizável com os massacres, guerras e com sobrepujar símbolos da diversidade. Amplio ao máximo o sentido de Cultura e símbolos, incluo tudo que significa e se faz representar.

Por enquanto desconheço qualquer outra medida de paz: o Estado / país / nação tem que ser gestor econômico, pacificador e ordenador amoral das populações, tudo mais me parece conduzir à guerra, à morte e ao destruir pensamentos para que prevaleça forçosamente uma unidade Cultural e simbólica.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015



Longe de ser genial.

Pouco me coube ser medíocre.

Me sobrou ser estranho.

Sou o impulso reticente em seu pescoço:

me olha e me nega no mesmo instante.

E enquanto te ganho vou te perdendo até que...

me resta a continuação da calçada.

Aprendi fazer silêncio e achar suficiente.

Sou rebelde,

então minha montanha russa

é

só infinitas possibilidades.

Não me contam,

mas os que contam fazem para mim.

Fico feliz que me reconheça,

prazer sou aplauso.

Sou finito,

como coisa conhecida.

Sou versão original,

porque só eu conheci a direção

dos meus olhos e pensamentos.

- Amigos, perdão:

se tempo for medida ímpar
alguns instantes
talvez por egoísmo
tenham morado só em mim
fiquei originalmente eterno

em parte
desde então.


                     Imagem:Richard Diebenkorn (1922-1993) Still Life, 1957.
                     Facebook: GRAND ARTIST

quinta-feira, 22 de outubro de 2015



Pequeno esboço sobre as formas

Duas grandes teorias científicas disputaram atenção das pessoas com explicações sobre a origem das espécies, em resumo a primeira atribuía ao esforço do ser as modificações em sua constituição, enquanto a segunda se apoia na cresça de uma origem comum que transmite características através da procriação dos sobreviventes em cada ambiente nos quais se expõem.

Estive atento a segunda teoria, ainda acredito ser a mais crível e melhor acompanhada, se fundamentando ao longo da história, mas pensei em um fator que talvez, em parte, dispensasse a origem comum como elemento que justifique as semelhanças e diferenças entre os seres e as espécies: o ambiente como condição 'sine qua non' à forma.


Se pensarmos no ambiente como condicionante inequívoca de tudo que se manifesta, então independente de transmissão de características por reprodução ou surgimento de novo 'tipo' de ser, ambos estão sujeitos e condicionados ao ambiente. Por exemplo, novos vírus surgidos têm características que são resultados de condicionantes do ambiente em que se manifestam.

Vejamos pela condição física por uma ilustração simples: a coisa gota de água não depende de transmissão para que seja gota de água, ela tem uma constituição material sujeita às condições de um ambiente.

A sequência Fibonacci também corrobora com essa ideia sobre as formas; talvez serem respostas a um universo matricial?

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Esse 'pequeno esboço sobre as formas', sem fundamento e ingênuo, talvez possa valer como uma crítica ao especializarmos o entendimento de alguns fenômenos quase de modo restritivo, por exemplo a vida orgânica tem sido pensada por séculos quase que exclusivamente pelas ciências biológicas, sendo que como fenômeno manifesto ela também poderia ser compreendida a partir da física.

                     Imagem: Matrix / Cinema 

quarta-feira, 14 de outubro de 2015


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De como jogar pigue-pongue sem deixar a bolinha cair
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De todas as construções humanas essa - o cemitério - é um das mais significativas, enquanto ainda a vida a viver é preciso que em oníssono todos admitam:

- Ao certo, ninguém sabe de porra nenhuma.
O tempo e o registro histórico vem ridicularizando todas as crenças, saberes e ciências sem exceção. Não porque sejam mentira, mas porque nunca foram verdade. Afinal para ser verdade singular a aplicável a todos sem exceção teria que possuir todos olhos, ouvidos, tatos, olfatos e todas as outras maneiras de experimentar a existência para que se pronunciasse de um lugar sem exceção. Nunca houve e talvez nunca haverá o que represente a verdade, exceto se assumir mentira ou verdade parcial.

Mas existem mentiras, ilusões, menos ou mais agradáveis, construtos mentais menos ou mais agradáveis, que melhor se adaptam ao que você tem potencial para ser e que te elevam a condição da satisfação para consigo. Óbvio que mentira assumida por lógica assume carácter de verdade.

Para quem assistiu "Caverna do Dragão" vai entender: é aquilo e talvez um dia acabe assim como acabou o desenho animado, sem final e simplesmente porque os jogadores pararam de jogar RPG e de inventar o roteiro.

E para quem não assistiu eu resumo: um grupo de jovens está preso à uma existência diferente da deles, como que em outro mundo, então vão cumprindo provas para sair desse mundo e voltarem para casa, mas a série de desenhos acaba e é isso. Eu teria tentado comer o 'Hank', formar família e ficar por lá mesmo, sem sofrer pela mediocridade de conviver com quem 'compõe estatuto da família' no séc. XXI, mas não tive a mesma sorte que eles e estou em outro brinquedo do parque de diversão.

Tem uma lenda urbana de final para "Caverna do Dragão" que só existe no Brasil e surgiu no Festival de Cinema de Tiradentes, nela dizem que o Vigador é filho do Mestre dos Magos, etc. Mas essa foi a forma como nós brasileiros fãs fomos capazes de lidar com ausência de razão que nos parecesse significativa para ter acabado o desenho animado.

Nossos 'significados', 'razões' são tendenciosos, comprometidos sobre vários aspectos, para começar pela necessidade de ter significado, lembrando que ter significado parece condição de satisfação da nossa espécie, outras dispensam essa 'necessidade' e são simplesmente.

A mim quando relativizo dessa forma faz surgir uma sensação de vazio, porque eu sempre acreditei e fui encucado que existisse uma 'razão', um 'sentido', um 'significado', etc E preste atenção, eu não estou negado essa possibilidade, mas estou dizendo que se existir qualquer 'significado', para que ele compreenda e satisfaça o fenômeno existência por inteiro deve extrapolar esse conceito - mesmo por aproximação - então já não serviria a nós como espécie, que somos só parte do todo manifesto. Sua inteireza não caberia no conceito.

Em mim, sei que a dor nasce do pensar e da memória, toda vez que me coloco presente e atuante sob as circunstâncias presentes tenho a liberdade de um bicho, de um animal e costumo experimentar alguma plenitude de reatividade às circunstâncias reais com medidas proporcionais de ação. Acho que essa deve ser a mesma experiência dos equilibristas, acrobatas e outros que são mais evoluídos em sentido motor que a grande maioria - eu queria ser igual e esse pensamento me faria sofrer se eu não soubesse que pensar é causa de sofrimento, porque me desloca para o abstrato, me tira das condições circunstanciais reais e presentes -, mas voltando aos equilibristas, acrobatas, me parece que eles se educam para não pensar e simplesmente reagem ao fluxo com medida natural justa e talvez também por isso tenham êxito.

Existe dor nos pensamentos nos quais você se associa ou se faz tema; ideias sem envolvimento pessoal por si são confortáveis de serem pensadas.

Por fim, fazer isso não invalida nenhum caminho e justifica todos, o fato de não existir a linha reta talvez te inspire a respeitar todas as linhas curvas.

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Eu menti em muitas linhas e se você mentir junto comigo não faz disso uma verdade, mas torna possível falarmos agradavelmente sobre a mesma mentira.

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            Imagem: In London's Highgate Cemetery,
            by Hannah Davis; http://bit.ly/1Lfl5f3
            Faerie Magazine

domingo, 11 de outubro de 2015



Sob pressão, hálito, suor se desenham sonhos.

Lisos contornos ancoram em metal: a pulsação.

Titânio. Emerge o ídolo à luz do sol dos que ardem.

Reserva. E à noite mais fria busca em você calor.

Se tua vontade te faz fluído é mais que máquina.

Por isso cresce como se quer inventando medidas.

Este ser férreo enquanto se doma cavalga sentidos.


                                                                                  Imagem: Marc Fitt.

sábado, 10 de outubro de 2015


Me olha e vou me tornando. 
Me guia teu pulso e cheiro,
para que você transpire toda a maioria das coisas que existem apesar de não terem nome. 
Tato é dança, espontâneo. 
Mas fico grande e sem caber em sua boca e garganta: ganho nome. 
E você me chama! 
Passo ser, sendo que já era.
A gente se alcança no vazio de cada um. 
E toda essa falta se enxerga como agir. 
Descobrirmos juntos que nem eramos falta.
Eramos ouvir música sem dança.

                   Imagem: "Nico", Bruce Weber (2010). In: Zona Diversa MX

sexta-feira, 9 de outubro de 2015



- Vê essa parcela em mim que ainda queima?

Enquanto você procura, sou todo cinzas e me elevo ao vento na esperança de faiscar.

Então você me diz: - Nada queima, você mentiu.

- Sim: se achou que fosse me encontrar na resposta.  E não: se você entender que sou a pergunta.

Então você me diz: - Arranja-te entre os vazios, justifica-se para além dos olhos como fantasma que foge da cova para viver na imaginação. Por que se disse fogo?

- Se eu responder me descaracterizo e você merece sinceridade.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015



Verdade,

escuta-me enquanto ainda sou capaz de dizer:


- Você inexiste como coisa única e compartilhável e vive plena aos olhos e contos de cada um.

A cada olhos que te veem aceitam-te em parte e negam-te em parte, porque são parte daquilo que é você – simultânea de muito fatos e versões.   Esse tudo escondido em incontáveis que sempre se fez conhecer e se manteve escondido por estar aos olhos de cada um.   Meu alívio é enxergar-te em contínuo, nem vida ou morte, nem começou ou fim, mas lugar presente de tudo que me presenteiam como versões de ti.

Eu chamei-te tempo não porque fosse tempo, haja visto que o passado é só parte de si - e ser algo é limite e fim - és tão plenamente tudo que dizem de si que qualquer coisa e menor tomada como verdade, se considerado o todo que és contínuo e sabido por cada qual só em parte, seria em parte mentira dizer ser verdade só parte do que és.

Mas suficiente aos olhos individuais, te deixo eternamente sendo em cada qual dança única do tempo presente.

Usem com sabedoria e respeito: - Te deixo flores que fazem sorrir.

            Imagem: minhas desculpas e agradecimentos aos autores da imagem.
                     


terça-feira, 6 de outubro de 2015



Desde que o sol irrompeu à noite insólitos fantasmas vagueiam preenchendo uma infinita série de monólitos. E meus olhos vazios de luz tentam enxergar olhos que os reconheçam.

O sol que mais ilumina traz consigo o deserto. Por enquanto olhos perdidos e os meus incertos se cruzam. Mas toda essa escuridão que veio morar em mim talvez um dia sirva ao brilho de uma estrela.

- Perdoa-me. Amanheci cedo demais, fiquei de noite e quando menos percebi era supernova, desde então tenho sido: vazio.


          Imagem: "Konstantin Kaminin", Serge Lee (2014). In: Zona Diversa MX

sexta-feira, 2 de outubro de 2015



Nem respostas ou perguntas, em mim mora a síntese possível neste agora, sei que não me suporta porque então seríamos dois, mas reserva-nos a natureza a glória das diferenças





   Imagem: El arte de Walter Pfeiffer, in: Zona Diversa MX.


Horas que se querem a dois transformam-se em conversas quando se está sozinho. 


Recuso-me levar-te a taça à boca antes que teus olhos amadureçam o vinho. Sim: outono, inverno, primavera ou verão, sem importância, mas é preciso que seja tempo de colheita em você.

- Agora, por respeito a tua falta, cala-te tornando-se uma coisa qualquer que me ocupe, já que até mesmo seu nome escondeu de mim. 



                                         Imagem: Zona Diversa MX