sexta-feira, 30 de dezembro de 2016




O tempo é todo:

Opaco;
Denso;
Volumoso...


O tempo é todo:

Táctil;
Saboroso;
Olfativo;
Audível;
Visível...


O tempo é todo:

Largura;
Altura;
Profundidade;
Peso e todas outras medidas que existem.


Enfim, o tempo é todo acumulativo, 
tanto quando se perde como quando se ganha.


E porque é vazia de todas essas qualidades e quaisquer outras a mente é capaz de se deixar ocupar por cada uma delas.

Tão pouco a mente é um lugar que acontece em nós, mas é ser um ponto de intersecção e autoreferente.

A memória é uma filha falante desse encontro.


segunda-feira, 26 de dezembro de 2016


Desarrume a cama antes que eu chegue,
porque eu preciso caber entre as texturas e ter a medida da sua ocasião mais espontânea.

Não vai ter amanhã se terminamos cada instante sedentos do próximo, então seremos nós moto continuum do existir.

Em que tempo e espaço somos coincidentes e mutuamente desejantes? É preciso um buraco negro em cada peito nosso.

Não, por mais que inventem palavras e conceitos há alguma coisa que ainda insiste em existir como pele e nisso moram os plurais.


             Imagem: Zona Diversa - MX

sábado, 24 de dezembro de 2016


Para todos aqueles que só acreditam na versão pessoal divulgada como verdade inerente à condição de ser, ofereço a contradição arquitetônica.

Não se enganem, os vitorianos achavam que casamento era sociedade de bens, os românticos morreram em razão de valorizarem o oposto: o sentir... se vocês se querem acomodados, okay... mas deixem sonhar os capazes e que os 'cemitérios'* abriguem os cômodos.

Não queiram a atualidade como ideia, pensamento, princípio e valores conceituais ou materiais semelhantes à uma vala, que como 'por fim' cabem todos e sem prospecção de outra coisa além do que nós enxergamos agora, enfim ser isso é arrogância.

Se pegarmos o radical 'trans' no sentido de ultrapassar, talvez caiba como piada e reflexão histórica uma "trans-pós-modernidade": percebemos a mistura de tempos, estilos, culturas, etc... mas apesar disso talvez algo surja como reflexão nova e sem ser só mistura, com resultados: estéticos, éticos e poéticos.

* Cemitério: lugar em que enxergar está condicionado ao modo de ver de qualquer outro - ao invés dos olhos límpidos de sua própria mente-coração.

A mais real e atual versão de quem somos nasce amanhã, antes disso ninguém me convence - por isso atual.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016



Em mim só mora a pergunta sobre o porquê.
Tudo mais é vão, disfarçado de importante imediato.

Eu também aprendi contar estórias sobre o que nos ocorre e só me assusta achar que você acredita serem suas estórias verdadeiras. Por isso te deixo: sorrindo ou triste colecionar suas próprias emoções.

Do que me ocorre, ainda sou melhor a versão de mim e só espero que outros também sejam em si e para si mesmos.

Sobre as estrelas que apontou compartilhando  comigo, poucas ou quase nenhuma eu vi, e no entanto eu escolhi te ver feliz enquanto acreditava que eu estivesse vendo.

Então dois argumentos te contradizem:
Ser não é algo que caiba na tua caixa sobre a versão do que é ser.
Ser inclui imaginação sobre o imediato.

E toda e qualquer imaginação tem maior grandeza que a sua verdade sobre o que é ser.

- Só não te mando a qualquer lugar, porque aquilo que você é em si, apesar de seus argumentos inclusivos, te faz chegar sozinho ou acompanhado pelos que te acreditam verdade.

Desculpe, não me convenceu

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016


E todos os dias vão te amanhecer, sem ou com esperança.  E da relva sobre a grama cada gota de água antes de chegar ali namorou o sol.

Por isso se acorde tão leve como pássaro e faz até do suspiro de desassossego música. Ou sem acordar, só terá sonambulado.

sábado, 17 de dezembro de 2016



É preciso atravessar a noite,
enquanto salta de malas prontas no trampolim. O que levar? Para onde levar?

E a dúvida sozinha ingressa e pergunta à mala:  - Do que te cabe, o que é importante levar para que te sirva de coluna?

Às vezes nos entreatos do tempo - aurora e crepúsculo - sinto pena de nós que fomos criados para viver arrumando as malas.

Calculamos e fazemos estimativas, por isso mesmo hoje sempre amanhece um pouco amanhã. E lá vamos nós.

À cabeceira de toda cama humana
e de nenhuma outra
fizeram plantar um despertador.

domingo, 4 de dezembro de 2016

Ferreira Gullar sou irremediavelmente um decadentista apesar de toda modernidade que também você trouxe para mim:

- Veja bem, acabei de pingar solução nasal nos olhos e colirio no nariz. Sobre os efeitos? Sobrepus. E ainda estou sentindo as consequências.

Boa hora de partir, menino. Depois de morrerem  todos os sonhos, mas enquanto ainda acreditam na esperança - que é a última a morrer entre brasileiros -, apesar de desprezarem jardins.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016



No tempo os sonhos que enraízam nascem. Da outra parte desse todo que é sonho encontram seiva. Mas é sempre a partir de no mínimo dois.

Quando a Terra ainda era plana os sonhadores viam o horizonte como trampolim. Desta Terra que ficou curva dos saltos os sonhadores foram aos abraços e se encontram.

Certa vez eu vi um menino chorando e perguntei:


- O que houve?

E ele me disse:

- Eu ainda não sou plural.

E eu insisti:

- Me explica.


E ele disse:

- Amor, coragem e sonho são sempre plurais e coletivos e são grandes porque são importantes para mais do que uma pessoa, enquanto o medo, a fragilidade e a tristeza são sempre sentimentos em singular. Mas agora somos dois e aquilo que eu temia só estava em mim, porque somos mais que um já não me vence. Enfim, sou plural com você.



                     Imagem: Forgotten © A H M E D • K H A L E D