domingo, 15 de janeiro de 2023

- É sobre Tarot?


Eu quando criança cheguei a nadar em lugares muito semelhantes, mas tinham flora e fauna: girinos, mussuns, baratas d'água ou lugares mais sintéticos: açudes que serviam à criação de traíras. Hoje em dia, dependendo do estado de espírito, eu desvio até de poças d'água.


A gente era muito louco(s), pulava numa cachoeira com túnel de pedras submerso e saía do outro lado como quem desce num escorregador de "parquinhos" - obviamente escondidos das famílias. Por falar em "parquinhos" de cidadezinhas, certa vez fomos impedidos de brincarmos porque a gente inventou uma competição de quem ia mais alto no balanço simples, daí a gente começou achar que fosse possível girar 360° sem cair do balanço. Então a vizinhança dos parquinhos públicos avisou a prefeitura e passaram a trancar além de impedir nossa entrada quando algum agente público estivesse de plantão pra vigiar os frequentadores. Demônio foi um dos meus primeiros pseudônimos.


Obviamente os neopentecostais não começaram ontem, eu a fazia por merecer minhas condecorações de infância. Achava um programa especial assistir os cultos de longe e cada manifestação de demônio me impressionava. Era o clímax do evento.


E nessa fase da vida a gente é naturalmente ecumênico: aos domingos católicos pela oportunidade de ser recompensado com um saquinho de pipocas; em festividades que tivesse comida - e principalmente em Cosme e Damião - nós crianças éramos todos umbandistas obviamente; raras vezes dormíamos aos sons distantes de tambores, que talvez fossem do candomblé; quando a Igreja Batista passou distribuir um copo de suco de uva - dos sintéticos solúveis em água - e um pedaço de pão semelhante à uma torrada, nós crianças percebemos que era necessário incluírmos os evangélicos; pra trabalhos escolares tínhamos os Kardecistas, suas bibliotecas e jornais em 'esperanto'. 


Graças a Deus.


Também me recordo de forma muito reservada de ateus prósperos e bondosos. E mistérios distantes como a Maçonaria e a expressão curiosa que era dita sobre parentes de amigos da família, que eram Testemunhas de Jeová e não podiam tomar sangue.


Ah, também existia benzedeira. Por precaução em alguns períodos eu ia de quinze em quinze dias ou um vez por semana. Se eu fosse apanhar em casa, tipo: ter de pagar títulos precatórios da infância, eu aumentava a frequência como medida de segurança.


O budismo surgiu como linha de produção de estuetas de barro vermelho secas ao sol. Foi uma cooperação entre ceramistas da arte naïf.


Além disso, tinha um elefante de porcelana que a regra era um tipo de semiologia bélica guardada ao longo dos anos, a questão fundamentalmente imprescindível era saber mirar a terminação aurelada intestinal dele em direção à porta.


Nessa época só a Xuxa e raríssimas pessoas tinham acesso a fazerem pactos. As bonecas dela deram origem ao controle remoto. 


Umas raras réplicas do tipo cartaz impresso simples eram chamadas de pinturas. Entre essa pinturas a Monalisa sempre olhava pra nós em qualquer lugar voltássemos nossos olhos em direção à ela. Um quadro de criança chorando - que muito mais tarde eu soube se tratar de uma série de quadros atribuída a Giovanni Bragolin - se fosse virado de cabeça pra baixo retratava o demônio, mas não me refiro ao meu primeiro pseudônimo infantil, era realmente algo que assustador e menos sendo um simples cartaz impresso algumas pessoas insistiam que era tinta feita com sangue humano. Por falar em sangue, me recordo quando estrangeiros não-cristãos trouxeram diferentes Nossas Senhoras dos mais variados nomes, entre elas uma raríssima chorava sangue em ocasiões especiais, à uma distância pré-determinada e apesar dos párocos locais a desconhecerem. E já existiam, inclusive, imagens que transpiravam espontaneamente lágrimas. 


Eu nunca vou saber ao certo, aquilo que é real ou o que é fantasia da minha infância. Mas, não mudou nada depois de adulto em relação ao discurso da verdade, sobre ter certezas, por exemplo em psicanálise de abordagem Lacaniana - Jacques Lacan -, a psique humana se constitui no centro de intersecção entre três anelos, chamado 'nó borromeano', nossa experimentação psíquica regular acontece entre: Real, Simbólico e Imaginário.

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