Quem sabe algo além da porção do tempo estampada em papel.
Era ele puro sentidos. Seus
limites espaciais não o prejudicavam na apreciação dos múltiplos estímulos de
suas primeiras obras.
Sabia pouco de plástica, estética, poética, menos ainda desenhar
promissoras caixinhas de expressão em suas telas. Começava mesmo por baixo, esteva atento às
miudezas do processo imaginativo. Ele
tinha para seu deleite coisas simples e suficientes: um ao redor coberto de
sentidos; sala quase barroca e um espaço passível de receber sua expressão
junto de vidrinhos abarrotados de uma só fração das cores. Gostava com fervor quando os potes de tinta
derramavam, facilitava seu acesso à matéria-prima de suas criações libidinosas,
talvez ele fosse todo em desejo de ocupação.
Queria muito preencher o que lhe parecia ausência na folha
descomprometida sobre o piso de madeira.
Se fosse dado à erguer-se, levantaria ansioso para agarrar os meios de expressão,
mas não era tão seguro assim de seu equilíbrio e preferiu naquele momento se
entregar, com todas as partes, ao esforço feliz pela aproximação. Se para quem observava ele se arrastava, em
si, era prazer pelas pequenas conquistas, tinha um esboço ingênuo do que mais
tarde se chamaria orgulho. E, alçado
pela certeza de suas dúvidas, lançava-se com passos instavelmente seguros à sua
primeira jornada pela satisfação. Uma mulher tomada por instinto maternal veria nele um menino precoce na
arte de engatinhar. Porém, ele se
encontrava absorvido em suas descobertas para compreender a existência em
outros. Ele, o menino, percebia em seu corpo
o prenúncio do desgoverno. Uma vontade
grande cismou virar movimento e, também, ajudado pela gravidade, conseguia
finalmente de algum modo, derramar toda a consistência daquele líquido vermelho
sobre o piso preto em direção à ausência na folha branca. Do abismo, o menino experimentava o gozo
pela euforia, tinha transformado as coisas.
Tinha um quê rupestre o produto artístico expressado pelo desenredo de
suas braçadas, mas isso não o ocupava; seu desejo era maior e ele ainda maior
em desejo. Pensou em pensar e preferiu
novamente a entrega. Incomodou-se ao
imaginar cobrir regularmente toda a folha branca com líquido vermelho viscoso;
o que seria aceitável em um monocromático.
Como é próprio em crianças, se fez volúvel e relativo na escolha da
superfície a ser passado o pigmento e se confundia em meio as tintas e a folha;
já cedo, anunciava sua ideia ampliada sobre a arte e a ausência.
Para desfecho da estória, tínhamos uma mãe, que se fazendo de ausente,
observava com surpresa seu filho ou o que aos poucos ele se tornava.
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