quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Me encontrando verde me faço maduro ou parto do desejo



   Quem sabe algo além da porção do tempo estampada em papel.
   
   Era ele puro sentidos.   Seus limites espaciais não o prejudicavam na apreciação dos múltiplos estímulos de suas primeiras obras.
   
   Sabia pouco de plástica, estética, poética, menos ainda desenhar promissoras caixinhas de expressão em suas telas.   Começava mesmo por baixo, esteva atento às miudezas do processo imaginativo.   Ele tinha para seu deleite coisas simples e suficientes: um ao redor coberto de sentidos; sala quase barroca e um espaço passível de receber sua expressão junto de vidrinhos abarrotados de uma só fração das cores.   Gostava com fervor quando os potes de tinta derramavam, facilitava seu acesso à matéria-prima de suas criações libidinosas, talvez ele fosse todo em desejo de ocupação.   Queria muito preencher o que lhe parecia ausência na folha descomprometida sobre o piso de madeira.   Se fosse dado à erguer-se, levantaria ansioso para agarrar os meios de expressão, mas não era tão seguro assim de seu equilíbrio e preferiu naquele momento se entregar, com todas as partes, ao esforço feliz pela aproximação.   Se para quem observava ele se arrastava, em si, era prazer pelas pequenas conquistas, tinha um esboço ingênuo do que mais tarde se chamaria orgulho.   E, alçado pela certeza de suas dúvidas, lançava-se com passos instavelmente seguros à sua primeira jornada pela satisfação.   Uma mulher tomada por instinto maternal veria nele um menino precoce na arte de engatinhar.   Porém, ele se encontrava absorvido em suas descobertas para compreender a existência em outros.   Ele, o menino, percebia em seu corpo o prenúncio do desgoverno.   Uma vontade grande cismou virar movimento e, também, ajudado pela gravidade, conseguia finalmente de algum modo, derramar toda a consistência daquele líquido vermelho sobre o piso preto em direção à ausência na folha branca.   Do abismo, o menino experimentava o gozo pela euforia, tinha transformado as coisas.   Tinha um quê rupestre o produto artístico expressado pelo desenredo de suas braçadas, mas isso não o ocupava; seu desejo era maior e ele ainda maior em desejo.   Pensou em pensar e preferiu novamente a entrega.   Incomodou-se ao imaginar cobrir regularmente toda a folha branca com líquido vermelho viscoso; o que seria aceitável em um monocromático.   Como é próprio em crianças, se fez volúvel e relativo na escolha da superfície a ser passado o pigmento e se confundia em meio as tintas e a folha; já cedo, anunciava sua ideia ampliada sobre a arte e a ausência.

   
   Para desfecho da estória, tínhamos uma mãe, que se fazendo de ausente, observava com surpresa seu filho ou o que aos poucos ele se tornava.

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