terça-feira, 1 de outubro de 2013

Dionisus e o jarro de cerâmica


Para se tornar um deus e desfrutar de todas as delícias do Olimpo, o filho bastardo de Zeus, Dionisus teve que passar por inúmeros desafios em sua vida. O semideus Dionisus viveu junto aos Sátiros, sempre buscando um lugar no Olimpo e enfrentando a implacável madrasta Hera. Mas Dionisus contava com a ajuda do sábio Sileno, seu mestre, e com a companhia do grande amigo Ampolos. 


Sileno era o responsável pela educação de Dionisus, tinha uma experiência única nos conhecimentos do mundo natural e da magia, vivia criando desafios para instruir Dionisus nos mistérios. Depois de pensar com muita cautela, Sileno achou que era chegada a hora de ensinar o semideus Dionisus a construir; então, partindo do mais elementar pensou na criação de um belo jarro de cerâmica. Ele aguardou até que Dionisus fosse a ele em busca de mais um desafio, e logo numa bela tarde de primavera, o brincalhão Dionisus se aproximou de Sileno acompanhado de Ampolos, o seu melhor amigo. Sileno estava acomodado a uma rocha às sombras de lindas oliveiras, grave como de costume, fingiu não ter visto a aproximação de seu intrépido aluno, porém no momento certo moveu a cabeça em direção a Dionisus e disse: - Você terá que fazer um jarro de cerâmica para conhecer o Olimpo. Dionisus, como sempre ansioso para estar junto aos deuses, perguntou o que era preciso para fazer um jarro de cerâmica. Sileno disse ao jovem semideus que teria de encontrar da mais pura argila e que a melhor delas era encontrada no rio Leto, o rio do esquecimento, porém era uma viagem arriscada, porque as almas usavam das águas do rio Leto para se esquecerem do passado, assim era perigoso perder a memória enquanto colhia a argila. No momento em que Dionisus ia perguntar sobre as outras etapas da confecção do belo jarro de cerâmica, num salto Sileno se distanciou, mas deixando a pista que a jornada ensinaria o jovem semideus tudo o que ele precisasse saber. 


Ampolos estava com medo, mas sentia-se protegido ao lado de seu amigo semideus, já Dionisus ficou eufórico com a possibilidade de decifrar mais um dos mistérios do sábio tutor Sileno, e correu pelo bosque afora procurando uma ninfa que ensinasse o caminho, as ninfas guardavam muitos segredos, conheciam a magia das florestas, falavam com os animais, assim sabiam muito sobre os diferentes caminhos, os atalhos e os riscos de cada jornada. Porém, mesmo que procurando durante toda a tarde, Dionisus não encontrou nenhuma ninfa, cansado e sem esperança de solucionar seu desafio naquele dia, sentou-se com seu amigo Ampolos na margem de um rio; o jovens sentiam cede e ao curvarem seus corpos para beber água, repentinamente um vulto azul claro passou por eles gritando num som muito agudo, eles se assustaram e largaram a água que traziam no côncavo das mãos. Dionisus, fingiu coragem e Ampolos tremia de medo. O jovem semideus, irritado pelo susto, começou a chamar pelo vulto azul claro, para que explicasse sua ousadia de perturbar o descanso e cede do filho de Zeus. De repente, uma grande neblina azulada tomou conta de tudo em volta dos dois rapazes, Ampolos ficou ainda mais assustado, mas Dionisus sentiu fúria, afinal somente os semideuses e deuses são capazes de libertarem as Fúrias contra quem os perturbam. A neblina azul envolvia o corpo dos dois, ao mesmo tempo em que se escutavam muitas vozes, o semideus gritou muito alto, a neblina ficou estática em suspensão no ar, e Dionisus perguntou: - Quem são? E onde estou? Subitamente, toda a neblina azul espalhada pelo ar juntou-se formando o corpo de uma linda mulher azulada, e disse: - Somos as ninfas, agora ondinas e sílfides, juntas para ajuda-lo jovem Dionisus. Dionisus ficou supreso e olhou para Ampolos que estava encolhido por entre os arbustos, conteve sua raiva e pediu que as ninfas lhe respondessem como encontrar a melhor argila do rio Leto. Ninfas: - O rio que você está é uma das margens do rio Leto, a água que vocês queriam beber lhes fariam mal, para colher da argila basta agachar-se e envolver a argila em folhas desse loureiro que está a sua direita. Dionisus ficou entusiasmo, quase a ponto de esquecer que sentiam cede, novamente o semideus buscou ter calma e perguntou as ninfas como encontrar água, todas juntas sorriram e disseram, entre nós temos as ondinas, ergam suas cabeças e abram suas bocas, se sentirem fome sigam a trilha de pessegueiros. E os rapazes sentiram o gosto da chuva saudável e fresca inundarem de calma todo o calor que haviam acumulado ao longo de um dia inteiro. Saciados, os rapazes colheram as folhas do loureiro e juntaram argila suficiente para fazerem o jarro de cerâmica pedido por Sileno. Concluída esta parte, seguiram o caminho dos pessegueiros e enquanto comiam dos pêssegos, eles percebiam que algo diferente acontecia com eles, a cada novo pêssego que comiam, uma nova ideia vinha a cabeça sobre o que fazer no jarro de cerâmica: surgiam formas, linhas e desenhos; seguiam o caminho em sorrisos tentando guardar cada uma das imagens. Ao final do caminho dos pessegueiros, avistaram uma grande rocha plana, saíram em disparada correndo até aquela misteriosa rocha. Neste momento Ampolos tropeçou e bateu a cabeça em uma pedra pontiaguda, Dionisus foi ao socorro do amigo, mas ele estava fraco e escorria muito sangue de sua testa. Mesmo sendo Dionisus um semideus, tinha seus sentimentos, mais sentimento ainda pelo jovem Ampolos que era o companheiro de aventuras, Dionisus chorou, chorou e chorou ainda mais; estava muito triste, mas precisava mais que tristeza para aplacar a sabedoria do filho de Zeus, naquela momento Dionisus lembrou-se da ambrosia, fruto dos deuses capaz de criar os imortais; desesperado o semideus correu pelo bosque adentro em busca de ambrosia, encontrou colheu da fruta e curvou ao lado do corpo do companheiro espremendo ambrosia em sua boca, alguns minutos depois galhos começaram a surgir do corpo de seu amigo, o sangue foi recolhido do chão formando pequeninas bagas avermelhadas, absorvido pela visão assustadora Dionisus presenciou o surgimento da primeira videira na face da terra. Ele tinha eternizado seu amigo Ampolos como uma linda parreira de uvas que cresce próximo aquela bela rocha. Ainda triste, estava satisfeito, havia conseguido um destino menos pior para sua amigo Ampolos. Em respeito à memória de seu amigo de jornadas, foi para junto da rocha, viu que esta ficava no limite de um grande abismo, sentiu sua textura, percebeu que era muito lisa, deixou-se guiar pela imaginação fazendo um jarro tão lindo que depois de molda-lo nem conseguia acreditar que era obra dele. Dionisus ficou tão encantado por sua obra que mal conseguia sair do lugar, o tempo passava e ele permanecia olhando para o jarro como que por encantamento, repentinamente uma coruja sobrevoou sua cabeça e o susto revelou uma outra necessidade ao semideus, o jarro estava moldado, mas era mole, e abaixo do abismo reluzia uma luz avermelhada. Inteligente e curioso, Dionisus desceu por entre as pedras, escorregou algumas vezes, mas segurava o jarro com firmeza, chegou ao final do abismo em segurança, ele e o jarro. Percebeu que o jarro havia se modificado, se aborreceu a ponto de quase esquecer o lugar de onde aquela luz vinha, foi nesse momento, que uma grande explosão pode ser escutada dentro de uma caverna, luz e calor tomaram conta do lugar, no entanto, ele pode ver o lugar de onde surgiu tanta força, correu até a entrada de uma caverna, nova explosão e luzes e faíscas incandescentes por todos os lados, depois de uma fumaça escura sair por sua entrada avistou um homem avermelhado e coxo batendo em uma bigorna, Dionisus teve seu primeiro encontro com Vulcâno o deus das forjas, dos metais, das criações de ferramentas, o ferreiro do Olimpo; o jovem semideus ficou intimidado, mas aproximou-se pedindo licença ao deus, mesmo que sua figura impusesse medo, ele era um ser bondoso e dedicado ao constante trabalho de criar novos instrumentos para atender às necessidades de cada deus do Olimpo. Efaísto, ou deus Vulcano, notou que Dionisus trazia um belo jarro moldado, porém sem cozimento, preferiu se calar e aguardar que o rapaz solicita-se ajuda, afinal se tratava de semideus a quem ele também pretendia ajudar, neste momento, sem que houvesse explicação Dionisus ergueu o jarro em direção a Vulcano, este tomou o jarro em suas mãos e o colocou no forno para realizar o cozimento; argila moldada na forma de uma belo jarro iria se torna a mais nobre cerâmica conhecida por todo o Olimpo. Se trocarem nenhuma palavra e envolvidos no alvoroço de muitos sentimentos, o jarro ia sendo cozido; o fogo parecia selecionar quais sentimentos deviam permanecer no jarro, isso acontecia involuntariamente, enquanto os dois aguardavam em silêncio, nenhum dos dois parecia saber que sentimentos estavam gravados naquele jarro de cerâmica, o jarro era indecifrável por deuses, humanos e todos os seres existentes ou que um dia poderiam existir; este era o mistério do fogo, um elemento incontrolável em sua essência, ainda que se controle o foco de uma chama jamais se modifica sua essência. O jarro havia se tornado cerâmica: enigmática, indecifrável, indestrutível, eternizando todo o trajeto do jovem semideus. Concluído o cozimento, e depois do resfriamento da cerâmica, Dionisus recebeu de Vulcano o jarro, inclinou a cabeça em sinal de gratidão e saiu da caverna sem que os dois tenham trocado uma única palavra. O semideus sabia que levava em suas mãos algo diferente de tudo que o mundo conheceu, isso criou nele a percepção de ser também ele semelhante aquele jarro de cerâmica, escalou cuidadosamente a encosta do abismo, chegou ao cume do abismo e instintivamente colheu das uvas que seu amigo Ampolos havia sido transformado por seu intermédio, espremeu as uvas dentro do jarro e fez o caminho de regresso em busca de Sileno; era uma manhã e o tempo variava do quente e úmido ao frio e seco. Quando avistou Sileno na mesma rocha do dia anterior, Dionisus correu chorando e revivendo todas as emoções de sua jornada, suas lágrimas caíram dentro do jarro; Sileno viu tudo aquilo e recebeu o semideus o como um novo deus olímpico, esperou que se acalmasse sozinho, depois o sábio Sileno convidou-o à beber do que estava naquele belo jarro de cerâmica; bebiam, se reconheciam, revivam tudo, choravam e gargalhavam sem necessidade de uma explicação mais profunda, a bebida capaz de encantar até mesmo os deuses havia sido criada, o vinho era a chave para que Dionisus pudesse chegar ao Olimpo, sair do Olimpo quando quisesse, era a liberdade do deus, o deus de todos os mistérios.

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