domingo, 17 de julho de 2011

Exercício da liberdade – volume único.


  
   Ao meu lado um gato.
  
  
   O risco por ser é enorme, então eu me acomodo entre o como me querem e o que eu seria.
   Eu sigo normas e são pouca as me põem em contato com outro, a maioria delas limitam o que eu seria pro outro, caso elas não fossem normas. 
   Me assusto sempre que me perguntam se sou sincero, fico pensando como seria se fossemos.
  
 
   Hoje eu acordei, fui pra cozinha preparar o café e me preocupar com a vida.   A vida naquele momento em que acordo - e coloco açúcar automaticamente no café - corresponde às tarefas dia.  Geralmente eu acordo sem o desejo de ser miss ou mister - tudo bem desde de que me amem -,  só pelas nove da manhã começo a forçar o sorriso e quando erro na medida tenho impressão que me acham hipócrita e presunçoso.  Tive que aprender a medida certa de hipocrisia.   Mas superação é uma máxima da cultura, fico feliz por ter superado tudo que ainda me causa tanta dor e seguir meu dia.   Enquanto adoço o café repasso precariamente as tarefas: preparar o café além do café; recolher as fezes do cachorro; trocar a água para o cachorro; colocar ração para o cachorro; sobrando tempo me encarrego do gato, os gatos já se encarregam de si mesmos.   E só no meio do percurso me recordo de aguar as plantas.   Estranho, mas é no vai-e-vem do dia-a-dia que as plantas se fazem lembrar por mim; aquele estado vegetativo da beleza me convida a agir.   Acho as plantas muito orgulhosas, elas secam sem pedir nada.   Mas não se preocupe, eu aprendi direitinho outra máxima da cultura: amo as plantas, os animais, os insetos e todos os reinos, o que inclui você.   Como todos, quero ser amado.  Não se preocupe tirando o fato de eu ser humano, é fácil me amar, só preciso de água e dispenso qualquer alimento, desenvolvi anorexia pra ser famoso.  Desculpe, a infância passou e me esqueci daquele ditado: seja prostituto, ser artista não dá dinheiro.

  
   Comecei dizendo: “Ao meu lado um gato” ( op. Cit. ).
   Ele é preto, de pêlo macio e insiste em ser anarquista.  
   Se eu te contar você não acredita, ele insiste em ser autêntico por mais que eu tente domesticá-lo.




  
  
  

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