sábado, 20 de maio de 2023

CARTA DE ALFORRIA

Carta de Alforria 


Já faz tempo que eu trabalhei pra pagar minhas contas. Não tenho nenhuma cobrança, ajuste ou dívida com qualquer passado. Talvez desinteresse por repetições.


Nem permaneço a mesma pessoa. 


Que cada um se machuque nos espinhos ou esperanças que cultivou e cultiva. Sou semelhante ao cacto nutritivo: "ora-pro-nobis". Tão nutritivo quanto espinhoso. 


Sou um velho e aceito ser um velho, desde que eu possa manter minhas coerências, ainda que: sejam elas espinhos. 


Desajuste: me tornar incoerente próximo da máxima estimativa da sobrevivência, se eu negar todo um percurso. 


Sou e permanecerei sendo exatamente o que fui, porque evitei o estelionato como paródia de vida. E, nada importante, seria eu entregar a minha cabeça a quem nunca manteve a própria cabeça sem depender de: outros, marcas e símbolos.


Foi melhor eu ter vivido, do que eu tivesse buscado ser somente um igual. Na esperança de eu ser salvo por eu ser: inevitavelmente e  confundivelmente semelhante. 


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Post Scriptum 


Basta eu ter sido uma piada de outros na ausência de misericórdia. E, de lá, também enxergam o mundo.


Só existe início da guerra 

pra quem conheceu a paz.


Cordialmente,

Og Esteves.

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