segunda-feira, 20 de março de 2017




Quais percepções inauguram a sociedade?

Na própria palavra sociedade existe uma indicação possível, então sociedade traz em si o pressuposto de uma parceria, conciliação de vontades pessoais equilibradas no coletivo.

A horda tornou-se tribo quando juntos inauguraram o primeiro símbolo coletivo. Mas antes da horda existia o instinto e ambos: aumento da prazer e evitamento de sofrimento são alicerces dos acordos conscientes e inconscientes que estabelecemos criando as sociedades. Possivelmente, inerentes aos primeiros níveis relacionais que estabelecem a convivência humana e também presentes entre os nossos diversos modos de ordenamento coletivo.

Mas quando a horda adota um símbolo comum entre seus membros a tribo nasce de um sentido cultural e a identidade passa a ter uma hereditariedade simbólica. Os seres não correspondem ao imediato da aparência ou de sua relação com a natureza ou seus instintos pessoais, os seres humanos existem também a partir de uma versão que criam para si e fazem transmitir às próximas gerações.

E o símbolo edifica os ordenamentos coletivos.

O poder de convencimento do símbolo justifica uma ação imperialista, então a tribo avança sobre o que é estranho à ela culturalmente armada do símbolo como instrumento de defesa, porque a existência humana se estende ao imaginário e não é só uma relação imediata com a natureza. O estranho é aquilo que não se pode incluir no símbolo da tribo, agora do império, e porque a existência tem relação com o imaginário o estranho é uma ameaça à existência desse ser humano que é simbólico e uma versão imaginada.

Do confronto cultural também surgiu a controvérsia à versão simbólica que sustentava o império. Então a horda que havia se tornado tribo a partir do símbolo, se tornado império a partir da versão, precisou se rever a partir do diálogo sobre os símbolos e versões.

O aumento do prazer e o evitamento do sofrimento são contínuos motivadores instintivos de nossas escolhas pessoais e coletivas. Interferentes em todos os modos de ordenamento coletivo.

Se por um lado o confronto cultural serviu de controvérsia ao símbolo e à versão do império, por outro lado revelou uma vivência incomum: o existir em amor ao símbolo, porque se a existência se estende ao imaginar, alguns humanos vivem em amor simbólico e essa existência é natural à condição do ser humano que nos tornamos.

Os símbolos, as versões, a imaginação não são anti-naturais, mas parte da complexificação da própria manifestação da natureza em toda sua grandeza. Porque o contrário torna a natureza do todo menor e não há como nem mesmo uma equação, uma observação exata, se dizer completa se fizer exceção a esse manifesto.

Agora a horda que virou tribo, que virou império, que tornou-se uma Ordenação Social a partir do discurso ainda precisa conciliar duas medidas: os instintos primitivos que inauguram a sociedade para o aumento de prazer e o evitamento do sofrimento conciliados com qualquer versão de Nação, de Símbolo e de Versão. Nada menos que isso serve ou estabelece a paz.

A falha de toda Nação que fracassa é um desajuste entre o discurso simbólico que a inaugura e o método que a mantém. E isso pode ser resultado consciente e inconsciente daqueles que administram esta Nação.

Paralelo ou contraposto à qualquer Ordenação Social Discursiva existe a materialização do acordo coletivo como poder: dinheiro como cédulas independentes do discurso. Porque dinheiro é um contrato simbólico de valor, apesar de qualquer discurso, de qualquer versão de sociedade e no entanto serve a todas as versões.

Toda horda que virou tribo, que virou império, que virou Nação e que existe a partir do Discurso e se mantém com contribuições involuntárias são Nações justas - harmoniosas - enquanto mantém equilíbrio entre as forças: Constituição (em Nações Discursivas) e os Instintos Primitivos (aumento da prazer e evitamento do sofrimento).

O fracasso, falência, de toda sociedade é resultado de uma falta de equilíbrio entre o símbolo escrito, a versão, que a edifica e os meios de financiar o símbolo. Considerações de importância imediata:

Toda versão criada para edificar uma Nação Discursiva tem como pressuposto fundamental aumentar o prazer e evitar o sofrimento;

As forças de opressão aplicadas aos opositores da versão de Nação são ineficientes a longo prazo se não for satisfeito o instinto de unir-se para aumentar o prazer e evitar o sofrimento;

Improvável que qualquer versão de Nação sobreviva sem atender ao instinto de unir-se para aumentar o prazer e evitar o sofrimento. Em sentido coletivo deve ser essa a experiência imaginada de existir como cidadão.

Para que uma Nação Discursiva exista plenamente ela se materializa para satisfação coletiva - tem patrimônio material móvel e imóvel coletivo - e se personaliza tem agentes públicos e líderes facilmente reconhecível, notáveis, que sejam defensores da versão e estejam atentos ao instinto inaugural, primitivo, da união como sociedade para o aumento de prazer e evitamento de sofrimento.

O sustento da Nação é garantido por empresa pública com ou sem exclusividade sobre o mercado que atua e cobrança de tributos. Consideração de importância imediata:

O sustento proveniente da empresa pública é impessoal e isento de humor, de vontades, de afeto em oposição ao sustento proveniente de tributos que é comprometido por humor, vontade e afetos.

Agora, quais mercados deveriam interessar à Nação como bons investimentos para a empresa pública?

Mercados que empregam poucas pessoas e que no entanto sejam fundamentais à população.

Atenção, já foi dito que a tributação como fonte de sustento da Nação é comprometida por humor, vontade e afetos.

Por fim, o instinto inaugural da sociedade (aumento de prazer e evitamento do sofrimento) não é necessariamente o auge representativo no sucesso de uma sociedade, ao menos não em sentido material de satisfação.


O auge no sucesso de uma sociedade parece ser uma dedicação maior à parte humana em que existir é uma experiência simbólica, imaginada. A prosperidade de uma sociedade parece estar relacionada ao crescimento dos produtos da imaginação e à uma maior introspecção.


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