terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Causa primeira ou limite da estória?

Uma velha senhora acomodada em sua sala de estar jogava paciência. De súbito, um gato salta pela janela, atingindo um jarro que abrigava uma rosa solitária.  Água escorre pela mesa de mogno e mármore, desfazendo o jogo e a paciência da velha senhora. Em seguida, fica fácil supor que o gato fujão agradeceu ao Deus dos gatos por ter feito os velhos lentos. Mas e o antes? O antes, me parece ser a busca constante de todos por uma causa primeira que justifique o agora.

Nessa estória, em que a ação do enredo se concentra no acidente causado pelo salto do gato, o antes do salto do gato é o susto que o gato leva depois de um jato de água fria, no jardim da casa vizinha à da senhora.  Porém, o antes do jato no gato, é o gato que tinha ficado ao sol próximo ao formigueiro e, como consequência à proximidade, foi picado por uma formiga que estava em guarda e com ácido fórmico sobrando. Então, o gato foge da formiga para o jardim da casa vizinha. Pra azar dele, a vizinha – dona da casa – tinha dormido mal por falta sonífero; o médico dela teve diarreia no dia anterior, causada por intoxicação com salmonela.  Ai fica fácil deduzir que sem dormir – assim como ocorre com os bebes – o mau-humor tomou conta da vizinha. O gato desavisado, brincando com uma libélula por entre margaridas, merecedor ou não se torna o protagonista de deste enredo. Mas seria furtar a verdade do leitor dizer que o gato é o protagonista do enredo independente da escolha do autor.

Recuso-me a acreditar em causa única, inclusive: a despeito de qualquer especialidade científica.
Recuso-me a acreditar que a ordem seja propriedade da natureza, quando só a percebo no modo como o homem percebe a natureza.
Dou-me o direito de errar com originalidade e fazendo valer meus próprios sentidos.
 Og Esteves.
                                                                                                                                                                  

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