quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016



Fico tentando imaginar um cinema que seja capaz de agregar considerações de outras áreas dedicadas à imagem sem perder as conquistas de comunicação de massa. Por exemplo, textura. Parece ser senso comum entre os que produzem cinema na atualidade que a textura é aquela que parece ser resultado da melhor capacidade de capitação da câmera, mas isso seria reduzir a pouco o sentido de imagem no audiovisual, no cinema.

Esdruxulamente comparando, seria o mesmo que eu dizer ser a Renascença e todos os esforços do figurativismo Hiperrealista os únicos modos válidos de pensar imagem nas artes plásticas. Por exemplo, por que de cinco quadros editados em sequência um deles não poderia ser um abstrato?

Me parece característico de nosso tempo a valoração do textual em comparação com comunicações sensoriais não-textuais. Os orientais diriam que estamos em um tempo no qual se privilegia mais o Sutra do que o Tantra: mais a mente que se realiza como formação de ideias do que como experiência estética. Então a música instrumental que não se destinar ao dançar ou as artes não descritivas ou as artes visuais não figurativas parecem isentas da qualidade de fazerem sentido, de causarem sensação, porque não são textuais e dedicam-se à fruição estética 
não-textual.

O tamanho que a qualidade de fazer sentido chegou é tão grande, que algumas correntes dedicadas à conceituar mente confundiram mente com linguagem. A maior gravidade desses conceitos, principalmente quando alardeados ao senso comum, é que subtraem dos seres a relação natural com a maior parcela da condição de existir: a que não faz sentido, a que existe porém sem o conforto da explicação sob medidas de uma linguagem, etc.

Desse vício por significar como modo de validação da experimentação estética, desse vício por significar como modo de validar o que se sente, surge um vício em narrativas interiores que podem corresponder em parte a verdade e em parte a mentira, sem maiores prejuízos, ou tornam-se problemas para seus autores.

Tudo isso para a satisfação do imediato, para que o conhecimento tenha como limite a utilidade sob medida, então seguimos sonegando às pessoas até mesmo os indícios de imprecisão das ciências que deveriam serem precisas, por exemplo na física a hipótese de 'turbulência' - aquela de que os cálculos talvez não fechem nunca.

Encerrando com simplificação, acho relevante lembrar que as situações, experiências, o que te acontece enquanto vive existe independente e antes de ser transformado em entendimentos, em palavras, etc. Na verdade muito pouco do que acontece se agrega à uma 'linguagem' para fazer sentido, no entanto existe como experimentação estética. Deguste existir!




   















Imagem: “In NYC” por Andre Joaquim.

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