sexta-feira, 24 de abril de 2015


De como preparar cartões de visita

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Sou de uma forma bastante inusitada, por exemplo quando assistia sucessivas vezes o filme 'Lagoa azul' - que já era um clássico na minha infância - eu sofria muito por não entender a razão deles quererem abandonar a ilha, afinal eles se tinham e viviam no lugar mais lindo, o que faltava a eles? Isso continua na minha identificação com os animais domésticos, que apesar de ter e receber afeto de cães e gatos, me sinto mais afim com a solidão dos gatos, com as duplas ao invés dos bandos, meus amigos mais íntimos sabem bem disso... é estranho também para mim.

Algumas pessoas que me desconhecem julgam minha solidão como um problema, me dizem triste ou antipático, mas de verdade que sou feliz nas minhas saídas noturnas sempre sozinho desfrutando da convivência das pessoas como quem só observa. Me adoeceria me querer ser extrovertido em busca de entrosamento e atenção, seria muito angustiante para mim viver fora demais desse silêncio em meio as conversas, de ter que ser causa de continuidade de assuntos corriqueiros com meus comentários furtuitos inúteis. No ser assim existe uma angustia reticente com efeito hilário, algumas vezes sinto vontade de estar próximo aos meus ídolos, mas acho que isso seria extremamente constrangedor porque só consigo me imaginar sem querer falar nada.

Me perdoem, é que isso me custa muito, me tira o silêncio que descobri a tempo ser realmente eu, sim, eu estaria me fazendo próximo por afeto, mas não estaria sendo honesto comigo e com as pessoas, eu nunca gostei de conversas coletivas, sempre foram uma consequência da minha vaidade quando em seu extremo; me desculpem a desonestidade passada.

Hoje, sem compromisso com a estática ou homogeneidade, depois da tantas experiências, tenho me autorizado a viver mais eticamente, me contar com inteireza, para que o outro e eu possamos praticar escolhas às claras.

Em contraponto a descoberta do silêncio na fala, eu redescubro a cada dia meu prazer em escrever-me, porque ficcionando ou relatando é parte minha aos outros, sem ser eu, porque exigiria competência sobrehumana para esse feito tão lúcido: são meus sentidos, meus caminhos imaginários reais.

Por fim e 'de volta à lagoa azul' - como o título em português do segundo filme da série, que coube mostrar a estupidez em quererem deixar a ilha no primeiro filme - em alguns momentos vejo meus sonhos como casca de uma fruta cujo miolo sou eu, então enquanto tempo passa vou preenchendo o que talvez seremos nós se eu crescer a tempo de sermos plenos.

  Imagem: comunidade Amor Gay; Facebook.

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