segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012



Só resta grito ou maravilhamento?



   Falar que tudo começa com um entendimento seria injusto, porque de fato o que antecede qualquer entendimento são conflitos da razão, da emoção ou de qualquer outra nome que se dê a experiência de ser humano. 

   Demorei entender porque o ser humano é mais que a metáfora de ser ele uma ilha, mas considero o desejo de nos sentirmos como uma ilha em um arquipélago – nem longe de outro que sirva de referência e nem próximo a ponto de confundir-se.  

   Se num bar se vende bebidas e numa roda de maconha compartilha-se a erva, temos em comum que haja conversa; sinceramente costumam serem as mais sinceras para a grande maioria de nós despreparada para ser sincera.  Talvez se admire tanto o discurso linear porque ele consegue excluir verdades transversais, talvez só haja verdades numa ótica transversal. Ou quem sabe, antes de nós, tenham descoberto que na ausência de verdades, qualquer convicção preencha o vazio, então logicamente prevalece um discurso linear, vence a dissertação. E o restante, como se pudesse ser demérito, chama-se de literatura, de ficção.  Talvez eu pudesse definir melhor vazio, ou quem sabe escolher outra forma de articular entre frases evitando a repetição do “talvez”, mas minha vaidade se satisfaz com outros destinos; além do mais, estou ocupado preenchendo o meu tempo e o seu, caso escolha ler.

  Indo ao ponto: Hegel diz ser a tragédia um conflito entre razões do qual somos incapazes de tomar partido sem pesar; sem catarse; sem purgar; sem fazer vômito de uma das partes.  Sinceramente fico na dúvida se Hegel fala da tragédia grega ou da condição humana.  Alguém nesse momento é capaz de colocar de lado seu eu – ou de se esforçar para isso – enxergando a existência da versão de outro, a existência do ponto de vista da outra ilha do arquipélago? Sim, eu acredito, que se um momento de conflito entre humanos fosse transformado num drama do qual o autor não tomasse partido, lá estaria a tragédia de Hegel.  E como condição inerente ao humano e por isso inimputável: todos teriam razão.

  

  








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