ORATE
Poucas pessoas sabem
como trabalham os anjos.
Em uma tarde de sexta-feira uma criança foi vitima em um incêndio, os bombeiros
que chegaram ao local nenhum vestígio encontraram que desce sentido ao
ocorrido, mas foram informados pelos vizinhos que ali morava uma família
bastante reservada.
Dias depois do ocorrido, o trabalho de peritos e investigadores mesmo
sem concluir a causa do incêndio conseguiu identificar cinzas humanas entre os
destroços, testes em laboratório deixaram evidente que três pessoas foram
vitimadas pelo incêndio sem causa aparente.
A criança vítima do incêndio se
chamava Ângelo.
As
semanas que seguiram o ocorrido foram de muita dor e pesar, ultrapassando o
sentimento de familiares e amigos, comovendo toda a população da cidade.
Até que todos se esqueceram.
Levada pela mãe ao psicólogo, uma pequena menina chamada Elisa insiste
em dizer que conversava com garoto que estava infeliz e perdido no escuro. Em um primeiro momento, imaginou se tratar
de carência a construção de um amigo imaginário naquela idade, uma forma de
chamar atenção, talvez um traço histérico.
Os encontros com psicólogo continuaram até que um novo elemento surgiu
na narrativa da menina, ela disse que o menino chama-se Ângelo. Ambos, psicólogo e mãe ficaram assustados, e
a menina acrescentou: Ângelo estava preso entre o céu e a terra, e seres
estranhos vinham disputar sua alma, nesta disputa uma sequência destruição
aconteceria na cidade – porque uma alma inocente estava presa.
A prisão de uma alma inocente era
capaz de abalar céus e terra.
A mãe estava assustada e manteve a menina em acompanhamento psicológico,
mas o susto maior foi quando os eventos previstos pela menina se confirmavam ao
passar de cada dia. O psicólogo
mantinha-se calmo e tentava buscar explicações científicas, mesmo vendo que
estas explicações eram insuficientes. Ele
escolheu assumir uma posição mais lógica frente ao que ele podia observar.
Final de expediente.
O psicólogo despede de uma paciente enquanto aguarda a chegada de Elisa,
sua última consulta. Ele olha em volta
buscando pela secretária com objetivo de pedir a ela que adiante a agenda da
próxima semana. Ficou surpreso ao notar
papéis remexidos em cima da mesa, foi até o banheiro, mas o banheiro estava
vazio e a porta aberta. De imediato
tentou ligar para o celular da secretária e sem nenhum sucesso em suas tentativas,
ligou para polícia para notificar o ocorrido.
Na sala de consultas o telefone toca.
Ele corre na esperança de ter alguma explicação sobre o que havia
acontecido em seu consultório, mas do outro lado da linha algo ainda mais
preocupante: a mãe de Elisa disse que ela e sua filha foram perseguidas durante
toda a semana, muito assustadas, as duas se refugiaram na casa de campo de
familiares.
Ele correu até o banheiro para passar água no rosto e se acalmar, o
vapor de água que saiu da torneira revelou uma palavra no espelho: ignore. Trêmulo, ele correu até o escritório, pegou
sua pasta e chaves do carro, enquanto tentava ligar do celular para conseguir o
endereço do lugar em que as duas estavam escondidas. Alguns toques, até que Elizabeth atende o
telefone. Ela resistiu bastante até
passar o endereço. Com endereço em
mãos, o psicólogo correu um lance de escadas para chegar mais rápido ao
estacionamento do prédio. Já na saída
do estacionamento, ele notou que o trânsito estava mais congestionado que o
normal.
A chegada.
O lugar era uma antiga vila guardada pelas montanhas.
Diminuiu a velocidade do carro, para observar os detalhes que o levariam
à casa dos familiares de Elizabeth, demorou poucos minutos até que ele pode
identificar uma casa azul em um elevado, escondida por entre floridos arbustos.
Estacionou o carro e tocou um sino
preso no portão da casa para anunciar sua chegada; Elizabeth aparece em uma das
janelas dizendo que ele poderia estacionar o carro no jardim.
A casa era aconchegante e arejada; sala ampla com móveis antigos. Elisa apareceu na sala acompanhada por uma
senhora de semblante sereno; a menina parecia estar feliz naquele lugar.
De repente a senhora sorrindo disse: - Não se preocupe doutor as legiões
de anjos guardam este lugar. Curioso,
ele sorriu em resposta para a senhora esperando que ela continuasse o a falar,
então ela disse: - A frase no banheiro é a que menos devia ter te preocupado,
eles queriam te proteger de algo muito maior que está por vir, podia ter sido
‘cuida-te’, mas eles acharam que te fazendo medo seria mais marcante.
Irritado, pensou que se tratasse de uma armação. Era evidente que estava com musculatura
tensa, a ponto de explodir. Então a senhora disse: - Sua secretária quis
o mal da menina Elisa, quis vende-la; sua secretária achou que seria um bom
negócio fazer de Elisa uma ferramenta de previsões, além de ignorar a dor de
uma criança perdida entre os céus e a terra – revolta os anjos explorar
inocentes em apuros. Sem estar
convencido de se tratar da verdade, mas tentando se acalmar, o psicólogo,
começou a repassar os fatos e se manteve respeitando a versão daquela senhora. Neste momento uma rajada de vendo invadiu a
sala da casa, folhas secas das árvores tomaram todo o lugar. As folhas, em
suspensão, caíram pouco a pouco formando no piso de madeira a palavra:
acredite. Ele sabia que aquilo
ultrapassava sua capacidade de entendimento, porém reconhecia que sua função era
manter a lucidez; sua forma de contribuir era ser aquele que assume a dúvida.
A semana.
Durante a semana ele continuou a
atendimento clinico da menina e a pedido da mãe, acompanhados por aquela
senhora. Durante as consultas novas
revelações aconteciam e incidentes eram anunciados. Por precaução eles iam a cada lugar, e do mínimo
ao máximo, cada um dos incidentes se confirmavam.
Noite de sábado, zero hora. Todos
estavam em suas camas, sendo uma noite quente e o lugarejo seguro, as janelas
permaneceram abertas; de súbito, uma nova rajada de vento tomou conta do em
torno da casa, todas as janelas bateram e se trancaram no mesmo instante. O psicólogo levantou assustado para observar
se todos estavam seguros, gritos de Elizabeth tomavam conta de casa, quando ele
chegou à sala notou a menina em transe, ela falava muito rápido, a senhora
tentava compreender o que era dito.
Então reaparece o menino Ângelo, ele conseguiu reencontrar Elisa, disse
que legiões de anjos estavam tentando resgatá-lo, mas outros barganhavam sua
alma. A menina cai sonolenta e suando
frio.
O psicólogo está absorvido pelo que viu; a senhora depois de acomodar Elisa no sofá da
sala, vai até ele e diz que todos estavam correndo perigo, e que a medida mais
segura a fazer era mais preces. Neste
momento ele fica enfurecido, sem entender como pedir proteção de forma tão
insubstancial poderia ser útil, a senhora o interrompe e explica: - Doutor faça
o que você achar melhor, mas a oração tem muita importância agora.
Na vila.
O psicólogo vai até o centro daquele pequeno vilarejo em busca de ajuda
médica, sua esperança era encontrar algum ambulatório ou mesmo uma única placa
de um consultório médico particular.
Chegou a uma pequena praça circular com um belo coreto central. Luzes de mercúrio davam um tom avermelhado à
praça.
Enquanto ele caminha buscando ajuda, começa a ventar, o vento traz
densas nuvens negras que cobrem todo o céu da cidade, os brinquedos no parque
rangem à medida que o vento aumenta; janelas e portões batem. Olhando o céu ao
longe era possível ver raios cortantes deixando suas marcas e sumindo em fração
de segundos. Subitamente, ele escuta um
grito, quando olha para o lado direito percebe que este grito vinha de uma das
casas, não demorou muito para que o mesmo acontecesse nas outras casas, as
luzes tremulavam, pessoas em desespero, sem que ele soubesse a razão. Vento e sons estranhos tomavam conta do
local. Os animais respondiam com mesmo
desespero.
Elizabeth, a senhora e Elise encontram o doutor no centro da cidade, o
lugar está tomado pelo terror. Os
moradores saem de suas casas desesperados. Elisa está aos prantos dizendo que eles
precisam se refugiar num lugar seguro.
Vizinhos, familiares e crianças se agrupavam para se protegerem. Naquele
momento as diferenças entre eles diminuíam, percebiam que algo muito maior que
suas forças se fazia presente.
Um senhor, provavelmente um dos mais antigos moradores da cidade,
lembra-se do antigo depósito de grão da fazendo mais antiga da vila, ele sabia
que o lugar suportaria a tempestade e teria espaço suficiente para abrigar
todos. Rapidamente, carros,
caminhonetes, motocicletas tomam as ruas da cidade e partem a caminho do antigo
depósito.
Antigo depósito.
Crianças, mulheres e homens saiam dos veículos e corriam com lanternas
de mão em direção a entrada principal do depósito, enquanto outro grupo saiu em
reconhecimento do lugar; buscavam fonte de água e energia.
Em pouco tempo a equipe de reconhecimento encontrou um gerador de
energia à gasolina e um reservatório com água suficiente. Tinham luzes acesas e água alimentando o
depósito.
Todos permaneceram juntos e assustados com proximidade e violência da
tempestade.
Do lado de fora, o uivo do vento se confunde com sons de animais e
outros sons irreconhecíveis.
O doutor cuida de Elisa, que está exausta, amparada no colo da mãe.
A senhora se coloca ao centro e tenta pedir às pessoas que se acalmem,
mas um forte trovão é que consegue o silencio que ela queria. E ela aproveita a oportunidade: - Vocês vão
estanhar meu pedido, mas quero que saibam que se trata de algo muito
importante, quero que vocês façam orações para um menino, Ângelo precisa de
nossas orações.
Em seguida todos começam a orar ao mesmo tempo: orações tradicionais;
rezas; clamores tomam conta do lugar; símbolos; seres diversos são evocados
como forma de proteção. A senhora está
ao centro.
Metatron
Um grande estrondo como que um trovão acompanhado de fortes luzes
preenche todo o lugar calando todas as vozes e cegando todas as pessoas naquele
instante – agora, somente luz e silêncio.
Então muitas vozes são ouvidas ao mesmo tempo. Intensa luz preenche tudo e as vozes se
dividem, cada pessoa escuta uma voz diferente e familiar em seu ouvido:
- É preciso que saibam um segredo, os anjos se alimentam de nossas
intenções, boas ou más é disso que eles se servem, Ângelo está perdido porque
nós estamos perdidos antes dele, suas intenções estão confundido a alma deste
menino, façam silêncio.
E à medida que as pessoas se acalmavam também a tempestade passava.
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