sábado, 28 de dezembro de 2013
sábado, 21 de dezembro de 2013
sexta-feira, 13 de dezembro de 2013
sexta-feira, 6 de dezembro de 2013
segunda-feira, 25 de novembro de 2013
quinta-feira, 14 de novembro de 2013
Criação
Entre a cidade e o campo, encoberta pela vegetação alta e variada. Sem estilo arquitetônico definido, mais de
uma geração parecia ser autora daquela casa.
Talvez tenha encontrado um momento antes do fim e interrompido o
processo. Ficou sem data, sem época,
em suspensão. E, aos olhares dos
curiosos, parecia sempre a mesma.
Em volta da casa um homem buscava a entrada.
Ícaro passou ser o nome de Jorge depois que ele e a rua se
escolheram. Como consequência, Ícaro
tinha a si mesmo, a roupa do corpo e uma mochila. Naquele dia sentiu que podia ter mais que
isso. Foi tropeço, joelho ralado e a
vegetação alta que convidaram o andarilho a ocupar aquele lugar.
Parede, buraco, tábuas e braços fortes: entrada na casa.
Dentro, a escuridão recebeu Ícaro.
E, um feixe de luz levou o andarilho até a janela. Céu aberto e lua cheia revelaram móveis de
madeira empoeirados, pequenos reflexos na parede vindos de um lustre e um
grande tapete.
Na mente, imagem de lar.
Cansaço, sono e sonho.
Pelas pálpebras deslizava áspera a língua de um gato dando bom dia,
susto de dois. Ícaro amanheceu gritando
e o gato correndo. Impulso virou
salto. Andorinhas e pardais em revoada
mostraram ao andarilho que a velha casa tinha um segundo andar.
Escada, corredor.
Muita poeira escondia os livros na estante de um escritório. À direita outra escada, e esta em caracol. Ícaro subiu. Lá, pequeno quarto na torre. O vento passava pelo vidro quebrado da
janela, a cortina em movimento tinha a mesma cor do lençol sobre a cama, a
diferença estava no tom de vermelho.
Surpresa. No basculante o gato
miava dando boas vindas. Ícaro sorriu,
se aproximou do gato e enquanto fazia carinho nele, avistou o café da manhã: no
quintal uma fonte irrigava um pequeno pomar.
Sorriso virou gargalhada, fome virou pressa e pressa teve que se acalmar,
com a descoberta de uma parreira repleta de cachos de uva. Ícaro colheu, comeu. O andarilho se sentiu morador.
Então, Ícaro acorda:
Língua áspera, gato, susto. Revoada,
segundo andar.
Poeira, livros, escritório. Escada
caracol, pequeno quarto, torre. Vento,
movimento, cortina, lençol.
Surpresa. Basculante, gato
miava. Se aproximou, avistou café da manhã no quintal: fonte,
pomar. Colheu, comeu. Se sentiu morador.
Ícaro lembrou o primeiro sonho na casa e percebeu que era, em sequência,
igual à realidade.
Dentro da casa um barulho preencheu todos os cantos. Intenso, o som tomou também o quintal provocando
em Ícaro corrida e busca. E, era a
porta do sótão na sala.
Ele subiu para ver a luz colorida de um
vitral contornar no escuro o corpo de um rapaz, isso depois de um miado. Ícaro ficou apavorado, sem reação.
- Me chamo Antes. O que chega a você passa primeiro por mim e
posso te mostrar em sonho, como fiz hoje.
Seja bem-vindo, Ícaro.
segunda-feira, 11 de novembro de 2013
Novos olhos
Calamidade é falta de surpresa
Noticiaram o eco da civilização
Passamos a nos repetir
- Sabe aquela esquina do mistério?
- Às vezes parece rotatória
Esperança insiste
Novos olhos
quinta-feira, 7 de novembro de 2013
Me encontrando verde me faço maduro ou parto do desejo
Quem sabe algo além da porção do tempo estampada em papel.
Era ele puro sentidos. Seus
limites espaciais não o prejudicavam na apreciação dos múltiplos estímulos de
suas primeiras obras.
Sabia pouco de plástica, estética, poética, menos ainda desenhar
promissoras caixinhas de expressão em suas telas. Começava mesmo por baixo, esteva atento às
miudezas do processo imaginativo. Ele
tinha para seu deleite coisas simples e suficientes: um ao redor coberto de
sentidos; sala quase barroca e um espaço passível de receber sua expressão
junto de vidrinhos abarrotados de uma só fração das cores. Gostava com fervor quando os potes de tinta
derramavam, facilitava seu acesso à matéria-prima de suas criações libidinosas,
talvez ele fosse todo em desejo de ocupação.
Queria muito preencher o que lhe parecia ausência na folha
descomprometida sobre o piso de madeira.
Se fosse dado à erguer-se, levantaria ansioso para agarrar os meios de expressão,
mas não era tão seguro assim de seu equilíbrio e preferiu naquele momento se
entregar, com todas as partes, ao esforço feliz pela aproximação. Se para quem observava ele se arrastava, em
si, era prazer pelas pequenas conquistas, tinha um esboço ingênuo do que mais
tarde se chamaria orgulho. E, alçado
pela certeza de suas dúvidas, lançava-se com passos instavelmente seguros à sua
primeira jornada pela satisfação. Uma mulher tomada por instinto maternal veria nele um menino precoce na
arte de engatinhar. Porém, ele se
encontrava absorvido em suas descobertas para compreender a existência em
outros. Ele, o menino, percebia em seu corpo
o prenúncio do desgoverno. Uma vontade
grande cismou virar movimento e, também, ajudado pela gravidade, conseguia
finalmente de algum modo, derramar toda a consistência daquele líquido vermelho
sobre o piso preto em direção à ausência na folha branca. Do abismo, o menino experimentava o gozo
pela euforia, tinha transformado as coisas.
Tinha um quê rupestre o produto artístico expressado pelo desenredo de
suas braçadas, mas isso não o ocupava; seu desejo era maior e ele ainda maior
em desejo. Pensou em pensar e preferiu
novamente a entrega. Incomodou-se ao
imaginar cobrir regularmente toda a folha branca com líquido vermelho viscoso;
o que seria aceitável em um monocromático.
Como é próprio em crianças, se fez volúvel e relativo na escolha da
superfície a ser passado o pigmento e se confundia em meio as tintas e a folha;
já cedo, anunciava sua ideia ampliada sobre a arte e a ausência.
Para desfecho da estória, tínhamos uma mãe, que se fazendo de ausente,
observava com surpresa seu filho ou o que aos poucos ele se tornava.
sábado, 2 de novembro de 2013
O Triunfo de Galateia
Céu entrecortado por nuvens, misturas de cores, intensidades e luz, como uma obra de Rousseau; aquela fazenda ao entardecer esperava para ser admirada.
O casal Arnolfini está em sua casa de campo e ocupa a mesa da varanda
para o café da tarde.
Mesa posta e farta, toalha azul ultramarino e cópias da porcelana Ming,
compunham aquele cenário que de longe lembrava o quadro ‘Telhados vermelhos’ de
Camille Pissarro.
Inebriados como o casal em ‘O balanço’ de Fragnard, foram surpreendidos
pela intervenção de um flash de luz na cópia daquele do Abaporu de Tarsila, e
reflexo devolvido à cortina lembrava as vivas cores da arte urbana, visto pelo
recorte justo da janela Bahaus. E se até
aqui parece surreal, imagine quando o casal, com a vista turva de Renoir,
buscando a origem daquele flash, avista um jovem vestindo vermelho como ‘O
mensageiro’ de Soutine se aproximar em stop
motion, e dizer a eles:
- Curadores, vocês foram envenenados, assim como todos os convidados da última vernissage, e o quadro ‘O grito’ de Edvard Munch roubado do museu.
Cautelosos, o casal Arnolfini pediu que o jovem apresentasse as credenciais.
Sim, é um funcionário do museu. E
diz:
- Preciso que me acompanhem. O detetive depende da colaboração de vocês para ter sucesso na investigação.
Noite fria.
Rodeado por um jardim bastante arborizado, o museu tem uma fachada em
estilo neoclássico. Luzes âmbar
iluminam as colunas brancas do portal de entrada.
À porta do museu um homem vestindo terno caminha ao encontro do casal
Arnolfini e se apresenta:
- Sou a detetive Vincent e vim para o local assim que fui informado pelo departamento.
Sr. Arnolfini: - Estamos muito
tristes com o que aconteceu. Eu e minha esposa dedicamos nossas vidas à curadoria
deste museu...
- Entendo que esteja emocionado.
Sei também que estão sob efeito do envenenamento, mas preciso que me
ajudem na investigação...
- Fomos informados que o efeito é temporário, isso nos tranquilizou Sr.
Vincent.
Entram numa antessala que serve de recepção do museu. Bem iluminada e ornamentada por afrescos harmoniosamente distribuídos pelas paredes e teto.
- Voltando ao crime. Este caso tem um elemento bastante incomum. Falou Vincent.
O investigador puxou a cadeira para Sra.
Arnolfini e o esposo dela sentou-se ao lado, então Vincent falou:
- Encontrei este pequeno pedaço de papel no local do crime. Vejam.
- ‘O triunfo de Galateia’. Sr.
Vincent, este é apenas o título de um afresco de Rafael.
- Sim, datado de 1512, Villa
Farnesina, Roma, Itália. A questão Sra.
Arnolfini é o que ele estaria fazendo no local do crime, depois do museu fechar
e os funcionários concluírem a faxina.
- Entendo que é a única pista, Sr. Vincent.
Mas como eu e meu marido poderíamos ajudar no caso.
- Simples, eu preciso saber tudo
sobre ‘O triunfo de galateia’.
Acervo - subsolo do museu.
Grandes blocos de pedra formam as
paredes; termostatos em mais de um ponto do salão informavam a mínima mudança
na temperatura; luzes frias de pouca intensidade; nenhuma outra saída ou
janela.
- Como você pode ver Sr. Vincent, a pesquisa que eu e minha esposa fizemos mostra que este afresco tem inspiração mitológica, na estória de Galateia, mas nada incomum, porque estamos falando da Alta Renascença.
- Isso Sr. Vincent... Galateia foge da perseguição apaixonada do ciclope
Polifemo, e busca seu amado Ácis. Mas
no que essas informações ajudariam na investigação?
- Em nada, se não houvesse uma razão para o ladrão deixar esta
mensagem. Pensem comigo, ele conseguiu
bulhar toda a segurança do museu, sem explicação ele se descuidar deixando cair
um papel, a não ser que este papel tivesse um propósito.
- Então ele quer que você procure por ele. Provavelmente uma armadilha.
- É o mais provável Sra. Arnolfini.
Madrugada - neblina encobrindo ruas, praças e prédios da cidade.
Quarto, cama, lençol de seda e pesado
cobertor. O investigador Vincent está
dormindo sem camisa e ainda assim transpira, tem um sono agitado. Vento, janela bate e ele grita:
- Cais!
Ofegante e apressado, Vincent leva a mão até uma garrafa de água, toma dois goles enquanto troca de roupa.
- Golfinhos puxando uma concha com Galateia como se fosse um barco, tem que indicar o cais.
Chaves, distintivo, celular, jaqueta e carro.
No cais também há neblina.
Vincent usa uma lanterna em busca de pistas por todos os cantos, vasculha cada canto sem nenhum sucesso. E, seu único achado foi uma caixa de madeira que servia de refugio para uma cadela e seus filhotes. Então, na saída de um galpão, ele tropeça numa garrafa de vinho, o som da garrafa pelo chão preenche o silêncio da noite e assusta algumas gaivotas, o investigador olha para o alto e percebe que ainda não tinha ido àquela torre de observação.
Vincent encontra a escada de acesso à torre na lateral externa, à
esquerda do galpão. A torre é velha,
pequenas janelas sem vidro e degraus molhados.
Ele sobe com cautela e chega à sala da observação da torre. O investigador caminha em direção ao ponto
de observação na torre, ampla janela e uma luneta metálica enferrujada. No alto da torre a neblina era pouca, uma
longa cortina branca podia ser vista cobrindo todo mar da margem à linha do
horizonte, por alguns instantes Vincent se esqueceu da investigação. Quando foi surpreendido por um grupo de
pessoas chegando ao cais, a neblina o impedia de enxergar as pessoas, mas pode
escutar passos e perceber que estavam conversando. Minutos depois, luzes do que deveria ser um
barco podiam ser vistas por entre a densa neblina, ele ficou surpreso e pensou
numa abordagem, mas o a torre era alta e qualquer outra tentativa também seria
ineficiente. O barco se aproxima e
alguns ruídos indicam que o grupo embarcou.
Em seguida, Vincent só conseguia ver as poucas luzes se distanciando da
margem e sendo projetadas naquela cortina branca estendida por sobre o mar.
O investigador pensou no mais sensato, relacionar o curso do barco com
as poucas estrelas que conseguia ver, por coincidência - o que facilitou sou
memória -, Vincent percebeu que a lua e três estrelas no céu tinham distancias
semelhantes aos quatro cupidos pintados em ‘O triunfo de Galateia’.
4:30 da madrugada, cansaço, persistência, chão, sono.
Amanhecer no cais.
Toca o alarme do celular, um som estridente preenche a cabine no alto da
torre, são 6 horas da manhã e o sol forte havia dissipado toda a neblina.
Vincent acorda assustado, por instantes estranhou o lugar em que
dormiu. Em pé, ainda sonolento, com a
visão perturbada pela luz, o inspetor consegue ver uma ilha em posição
proporcional às três estrelas que viu à noite.
Ele passa as mãos nos olhos em dúvida.
Mas conclui ser bastante provável que as três estrelas pudessem servir
como referência de localização daquela ilha.
Pelo celular o investigador encontra informações geográficas precisas
sobre a ilha. Fotos via-satélite mostram
um mata fechada em seu em torno, enquanto uma clareira na parte central da ilha
tinha o desenho semelhante a uma concha.
Óbvio que Vincent imaginou estar vendo além dos indícios a serem
considerados em processo de investigação formal, mas o que ele tinha no início
era um pedaço de papel com o título de um afresco de Rafael datado de 1512.
Considerar aquela ilha próxima da costa era irrelevante se estivesse
enganado.
Torre, pressa, rapidez, degraus, queda, recuperação. Vincent corre ao encontro de um barqueiro,
apresenta suas credencias e busca convencer aquele senhor que a gentileza de
emprestar o barco era fundamental a um importante processo de
investigação.
Barco. Embarque. Mar em seus vários tons de azul. Reflexos do sol nas águas. Pouca experiência em pilotagem. Ondas quebram no casto, saltos. Ansiedade e chegada.
Ilha.
Vegetação densa próxima à margem, uma pequena parte de areia e pedras
formavam a praia naquele lado da ilha.
Vincent buscava alguma trilha para facilitar sua escalada até a parte
mais alta e central, onde ele imaginava ter visto a clareira com a forma de uma
concha como desenho. Um pequeno curso de
água passando por entre pedras que desaguava no mar pareceu a melhor escolha de
trilha para a subida do investigador.
O investigador seguia o caminho inverso ao das águas. A caminhada era difícil, inevitável
escorregões e alguns tombos, mas insignificantes, a preparação física do
investigador diminuía os riscos.
Cansado pelo acumulo de noite mal dormida mais a trilha de difícil
acesso, parou poucas vezes, bebeu daquela água e também admirou o lugar.
Depois de uns metros de onde nascia aquele curso de água, Vincent se
deparou com menos árvores e com um conjunto de arbustos idênticos, essa
característica na vegetação confirmava sua suspeita, havia algo de proposital
naquela ilha, começou a ter mais esperanças de ter seguido a pista certa. Ele se apressou em buscar o limite dos
arbustos e início da clareira.
Braços fortes, rápidos e precisos sobre os galhos abrem espaço para a
chegada: gramado branco e rasteiro era tudo o que havia no lugar.
Ele anda em todas as direções, depois escolhe árvores mais altas em
diferentes pontos para avistar todos os limites da ilha, mas nada além de
árvores e mais árvores.
Misto de decepção e tensão fazem com que Vincent permaneça calado,
buscando algo mais do que aquele gramado perfeito em uma ilha sem nenhum
indício de habitação.
Exausto ele senta-se na parte central daquela grande concha desenhada com
árvores e arbustos em meio ao mar, e era só isso.
Desajeito, desconforto, plano de retorno e novo rumo para a
investigação.
Barulhos de hélices.
Vincent pensou o óbvio, de algum modo o departamento soube da minha
loucura através do casal Arnolfini e conseguiram me localizar. E, ele resumiu numa frase: - Tenho mais de um problema agora. Rindo e debochando de si mesmo - Vincent
pensou que ter ido a ilha valeu a pena.
Agora o helicóptero está acima de sua cabeça preparando a aterrisagem,
mas a aeronave não tinha nenhum símbolo de identificação na lataria e também
não se assemelhava aos modelos de aeronaves que faziam uso no departamento.
Pouso. Homens estranhamento
alinhados, vestindo ternos pretos se aproximam esboçando um sorriso. Sem saber como reagir Vincent permanece
estático.
Então:
- Sr. Vincent Stephen Farthing ?
- Sim.
- Somos da Guilda O Triunfo de Galateia e o senhor preencheu todos os
requisitos para integrá-la como um novo agente.
- Senhores, eu não entendi porque vocês se deram ao trabalho de vestirem
ternos tão caros pra um show de humor.
- Sr. Vincent, menos pretensão. A
Guilda O triunfo de Galateia é um grupo secular encarregado de preservar
grandes obras de arte, e ‘O grito’ de Edvard Munch esteve ameaçado por mais de
uma vez, então a linhagem sanguínea dos verdadeiros herdeiros da obra decidiu
recuperá-la e mantê-la em segurança até uma próxima geração, quando a
devolveremos à sociedade.
FIM
quinta-feira, 31 de outubro de 2013
Da primeira memória
Quando vejo um recém-nascido em
contato com o ambiente, imagino que esteja observando este ambiente e formando
sua mente. Este recém-nascido tem acesso
a odores, a texturas, a imagens, canções tradicionais, discursos diretos e discursos
indiretos, etc - sua capacidade de memorizar está em desenvolvimento -, e estas
serão suas primeiras memórias, que possivelmente se tornarão
inconscientes. Aqueles que cuidam de
crianças têm como característica:
·
Falar de modo infantilizado;
·
Falar metaforicamente;
·
Contar ‘estorinhas’;
·
Promover pequenos sustos como brincadeira;
·
Descuidar na linguagem e/ou nos comportamentos.
Penso que a transmissão de valores culturais, folclóricos [ folk ( povo
) + lore ( saber ) ], tem sua
inauguração neste momento. Acrescento
o primeiro desenvolvimento afetivo e motor.
quarta-feira, 30 de outubro de 2013
domingo, 27 de outubro de 2013
Notas psicanalíticas
A perversão polimorfa nas crianças também pode associar-se aos
movimentos, gestos, comportamentos, verbalizações, que se fazem de modo multidirecional. O fluxo
da libido foge a uniformidade.
Na vida adulta há recorrência estrutural nesse fluxo de libido; simplificações:
Histeria dá o sentido de necessidade de preenchimento, de vontade e de desejo;
Neurose obsessiva dá o sentido de ocupação, de esclarecimento, de entendimento;
Psicose dá o sentido de entendimento particular ( não compartilhável ), de delírio, de alienação;
Perversão dá o sentido de versão própria, de lugar do entendimento e vantagem.
sábado, 26 de outubro de 2013
O ser e o ambiente
Transformar em som
ou em palavra é a segunda ação de reposta do ser estimulado pelo ambiente, sendo
as ações corporais a primeira resposta.
Chamo fator de
identificação o que faz o ser agir estimulado pelo ambiente. Suponho tratar-se de algo que já faça parte
da mente do ser e responde ao estímulo do ambiente como em um esquema de
chave-fechadura ( encaixe ).
sábado, 19 de outubro de 2013
domingo, 13 de outubro de 2013
ORATE
ORATE
Poucas pessoas sabem
como trabalham os anjos.
Em uma tarde de sexta-feira uma criança foi vitima em um incêndio, os bombeiros
que chegaram ao local nenhum vestígio encontraram que desce sentido ao
ocorrido, mas foram informados pelos vizinhos que ali morava uma família
bastante reservada.
Dias depois do ocorrido, o trabalho de peritos e investigadores mesmo
sem concluir a causa do incêndio conseguiu identificar cinzas humanas entre os
destroços, testes em laboratório deixaram evidente que três pessoas foram
vitimadas pelo incêndio sem causa aparente.
A criança vítima do incêndio se
chamava Ângelo.
As
semanas que seguiram o ocorrido foram de muita dor e pesar, ultrapassando o
sentimento de familiares e amigos, comovendo toda a população da cidade.
Até que todos se esqueceram.
Levada pela mãe ao psicólogo, uma pequena menina chamada Elisa insiste
em dizer que conversava com garoto que estava infeliz e perdido no escuro. Em um primeiro momento, imaginou se tratar
de carência a construção de um amigo imaginário naquela idade, uma forma de
chamar atenção, talvez um traço histérico.
Os encontros com psicólogo continuaram até que um novo elemento surgiu
na narrativa da menina, ela disse que o menino chama-se Ângelo. Ambos, psicólogo e mãe ficaram assustados, e
a menina acrescentou: Ângelo estava preso entre o céu e a terra, e seres
estranhos vinham disputar sua alma, nesta disputa uma sequência destruição
aconteceria na cidade – porque uma alma inocente estava presa.
A prisão de uma alma inocente era
capaz de abalar céus e terra.
A mãe estava assustada e manteve a menina em acompanhamento psicológico,
mas o susto maior foi quando os eventos previstos pela menina se confirmavam ao
passar de cada dia. O psicólogo
mantinha-se calmo e tentava buscar explicações científicas, mesmo vendo que
estas explicações eram insuficientes. Ele
escolheu assumir uma posição mais lógica frente ao que ele podia observar.
Final de expediente.
O psicólogo despede de uma paciente enquanto aguarda a chegada de Elisa,
sua última consulta. Ele olha em volta
buscando pela secretária com objetivo de pedir a ela que adiante a agenda da
próxima semana. Ficou surpreso ao notar
papéis remexidos em cima da mesa, foi até o banheiro, mas o banheiro estava
vazio e a porta aberta. De imediato
tentou ligar para o celular da secretária e sem nenhum sucesso em suas tentativas,
ligou para polícia para notificar o ocorrido.
Na sala de consultas o telefone toca.
Ele corre na esperança de ter alguma explicação sobre o que havia
acontecido em seu consultório, mas do outro lado da linha algo ainda mais
preocupante: a mãe de Elisa disse que ela e sua filha foram perseguidas durante
toda a semana, muito assustadas, as duas se refugiaram na casa de campo de
familiares.
Ele correu até o banheiro para passar água no rosto e se acalmar, o
vapor de água que saiu da torneira revelou uma palavra no espelho: ignore. Trêmulo, ele correu até o escritório, pegou
sua pasta e chaves do carro, enquanto tentava ligar do celular para conseguir o
endereço do lugar em que as duas estavam escondidas. Alguns toques, até que Elizabeth atende o
telefone. Ela resistiu bastante até
passar o endereço. Com endereço em
mãos, o psicólogo correu um lance de escadas para chegar mais rápido ao
estacionamento do prédio. Já na saída
do estacionamento, ele notou que o trânsito estava mais congestionado que o
normal.
A chegada.
O lugar era uma antiga vila guardada pelas montanhas.
Diminuiu a velocidade do carro, para observar os detalhes que o levariam
à casa dos familiares de Elizabeth, demorou poucos minutos até que ele pode
identificar uma casa azul em um elevado, escondida por entre floridos arbustos.
Estacionou o carro e tocou um sino
preso no portão da casa para anunciar sua chegada; Elizabeth aparece em uma das
janelas dizendo que ele poderia estacionar o carro no jardim.
A casa era aconchegante e arejada; sala ampla com móveis antigos. Elisa apareceu na sala acompanhada por uma
senhora de semblante sereno; a menina parecia estar feliz naquele lugar.
De repente a senhora sorrindo disse: - Não se preocupe doutor as legiões
de anjos guardam este lugar. Curioso,
ele sorriu em resposta para a senhora esperando que ela continuasse o a falar,
então ela disse: - A frase no banheiro é a que menos devia ter te preocupado,
eles queriam te proteger de algo muito maior que está por vir, podia ter sido
‘cuida-te’, mas eles acharam que te fazendo medo seria mais marcante.
Irritado, pensou que se tratasse de uma armação. Era evidente que estava com musculatura
tensa, a ponto de explodir. Então a senhora disse: - Sua secretária quis
o mal da menina Elisa, quis vende-la; sua secretária achou que seria um bom
negócio fazer de Elisa uma ferramenta de previsões, além de ignorar a dor de
uma criança perdida entre os céus e a terra – revolta os anjos explorar
inocentes em apuros. Sem estar
convencido de se tratar da verdade, mas tentando se acalmar, o psicólogo,
começou a repassar os fatos e se manteve respeitando a versão daquela senhora. Neste momento uma rajada de vendo invadiu a
sala da casa, folhas secas das árvores tomaram todo o lugar. As folhas, em
suspensão, caíram pouco a pouco formando no piso de madeira a palavra:
acredite. Ele sabia que aquilo
ultrapassava sua capacidade de entendimento, porém reconhecia que sua função era
manter a lucidez; sua forma de contribuir era ser aquele que assume a dúvida.
A semana.
Durante a semana ele continuou a
atendimento clinico da menina e a pedido da mãe, acompanhados por aquela
senhora. Durante as consultas novas
revelações aconteciam e incidentes eram anunciados. Por precaução eles iam a cada lugar, e do mínimo
ao máximo, cada um dos incidentes se confirmavam.
Noite de sábado, zero hora. Todos
estavam em suas camas, sendo uma noite quente e o lugarejo seguro, as janelas
permaneceram abertas; de súbito, uma nova rajada de vento tomou conta do em
torno da casa, todas as janelas bateram e se trancaram no mesmo instante. O psicólogo levantou assustado para observar
se todos estavam seguros, gritos de Elizabeth tomavam conta de casa, quando ele
chegou à sala notou a menina em transe, ela falava muito rápido, a senhora
tentava compreender o que era dito.
Então reaparece o menino Ângelo, ele conseguiu reencontrar Elisa, disse
que legiões de anjos estavam tentando resgatá-lo, mas outros barganhavam sua
alma. A menina cai sonolenta e suando
frio.
O psicólogo está absorvido pelo que viu; a senhora depois de acomodar Elisa no sofá da
sala, vai até ele e diz que todos estavam correndo perigo, e que a medida mais
segura a fazer era mais preces. Neste
momento ele fica enfurecido, sem entender como pedir proteção de forma tão
insubstancial poderia ser útil, a senhora o interrompe e explica: - Doutor faça
o que você achar melhor, mas a oração tem muita importância agora.
Na vila.
O psicólogo vai até o centro daquele pequeno vilarejo em busca de ajuda
médica, sua esperança era encontrar algum ambulatório ou mesmo uma única placa
de um consultório médico particular.
Chegou a uma pequena praça circular com um belo coreto central. Luzes de mercúrio davam um tom avermelhado à
praça.
Enquanto ele caminha buscando ajuda, começa a ventar, o vento traz
densas nuvens negras que cobrem todo o céu da cidade, os brinquedos no parque
rangem à medida que o vento aumenta; janelas e portões batem. Olhando o céu ao
longe era possível ver raios cortantes deixando suas marcas e sumindo em fração
de segundos. Subitamente, ele escuta um
grito, quando olha para o lado direito percebe que este grito vinha de uma das
casas, não demorou muito para que o mesmo acontecesse nas outras casas, as
luzes tremulavam, pessoas em desespero, sem que ele soubesse a razão. Vento e sons estranhos tomavam conta do
local. Os animais respondiam com mesmo
desespero.
Elizabeth, a senhora e Elise encontram o doutor no centro da cidade, o
lugar está tomado pelo terror. Os
moradores saem de suas casas desesperados. Elisa está aos prantos dizendo que eles
precisam se refugiar num lugar seguro.
Vizinhos, familiares e crianças se agrupavam para se protegerem. Naquele
momento as diferenças entre eles diminuíam, percebiam que algo muito maior que
suas forças se fazia presente.
Um senhor, provavelmente um dos mais antigos moradores da cidade,
lembra-se do antigo depósito de grão da fazendo mais antiga da vila, ele sabia
que o lugar suportaria a tempestade e teria espaço suficiente para abrigar
todos. Rapidamente, carros,
caminhonetes, motocicletas tomam as ruas da cidade e partem a caminho do antigo
depósito.
Antigo depósito.
Crianças, mulheres e homens saiam dos veículos e corriam com lanternas
de mão em direção a entrada principal do depósito, enquanto outro grupo saiu em
reconhecimento do lugar; buscavam fonte de água e energia.
Em pouco tempo a equipe de reconhecimento encontrou um gerador de
energia à gasolina e um reservatório com água suficiente. Tinham luzes acesas e água alimentando o
depósito.
Todos permaneceram juntos e assustados com proximidade e violência da
tempestade.
Do lado de fora, o uivo do vento se confunde com sons de animais e
outros sons irreconhecíveis.
O doutor cuida de Elisa, que está exausta, amparada no colo da mãe.
A senhora se coloca ao centro e tenta pedir às pessoas que se acalmem,
mas um forte trovão é que consegue o silencio que ela queria. E ela aproveita a oportunidade: - Vocês vão
estanhar meu pedido, mas quero que saibam que se trata de algo muito
importante, quero que vocês façam orações para um menino, Ângelo precisa de
nossas orações.
Em seguida todos começam a orar ao mesmo tempo: orações tradicionais;
rezas; clamores tomam conta do lugar; símbolos; seres diversos são evocados
como forma de proteção. A senhora está
ao centro.
Metatron
Um grande estrondo como que um trovão acompanhado de fortes luzes
preenche todo o lugar calando todas as vozes e cegando todas as pessoas naquele
instante – agora, somente luz e silêncio.
Então muitas vozes são ouvidas ao mesmo tempo. Intensa luz preenche tudo e as vozes se
dividem, cada pessoa escuta uma voz diferente e familiar em seu ouvido:
- É preciso que saibam um segredo, os anjos se alimentam de nossas
intenções, boas ou más é disso que eles se servem, Ângelo está perdido porque
nós estamos perdidos antes dele, suas intenções estão confundido a alma deste
menino, façam silêncio.
E à medida que as pessoas se acalmavam também a tempestade passava.
sábado, 12 de outubro de 2013
Pataxó
Eu estava em sala de aula, quando
percebi uma movimentação diferente na quadra da E. M. Dom Justino - situada em
Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil, tarde de 11 de outubro de 2013 -, desci até
a quadra da escola envolvido na atmosfera que a música e o silvo de pássaros
criavam em mim. Ao chegar no referido local, vi nativos brasileiros em torno de
objetos que correspondiam à sua etnia, disposto no chão em forma circular;
alunos curiosos ocupavam a arquibancada da escola e professores estavam junto
aos nativos, admirando os objetos trazidos para a exposição pela etnia
mencionada.
Em um primeiro momento, me fiz distante e me sentei com os alunos, quando percebi que também eu podia estar mais próximo dos nativos brasileiros, me levantei e fui ao encontro destes; atendo ao que haviam trazido para a mostra, observei cada um dos objetos dispostos no chão e - estando estes à venda -, movido pelo gosto escolhi um belo colar [ formas circulares de material orgânico de cor negra ]; conversei com uma nativa que me informou o valor, comprei o colar e esta me disse algo em sua própria língua. Então, eu fui em direção aos alunos movido por um estímulo diferente, senti uma transformação naquele gesto tão simples, e à medida que coloquei o colar, mais intenso ficou em mim a atmosfera pessoal oriunda daquele contato.
Jornalistas também estavam presentes registrando o encontro; outros - que pareciam acompanhar os nativos, mantinham-se envolvidos às atividades ou observando de longe o evento -; havia uma nativa que demonstrava desenvoltura ao falar e que representou os demais nativos neste aspecto. Na ocasião em que teve início o rito representativo da cultura Pataxó, esta mesma nativa fez menção a Jesus e posteriormente o grupo celebrou em movimento e em linguagem oral - correspondentes à esta etnia -, uma representação restrita a eles, que depois foi estendida aos demais presentes na quadra da escola. Notei que o movimento circular era fundamental, toda a sequência de representação cultural tinha o movimento circular em sua estrutura elementar; incluo que mãos e pés alternavam; também alternavam em: intensidade, direção e sentido entre os nativos em fila.
A beleza do evento causava estranheza e admiração entre os participantes
envolvidos ou que optavam por observar; emoções diversas eram manifestas.
terça-feira, 1 de outubro de 2013
Dionisus e o jarro de cerâmica
Para se tornar um deus e desfrutar de todas as delícias do Olimpo, o filho bastardo de Zeus, Dionisus teve que passar por inúmeros desafios em sua vida. O semideus Dionisus viveu junto aos Sátiros, sempre buscando um lugar no Olimpo e enfrentando a implacável madrasta Hera. Mas Dionisus contava com a ajuda do sábio Sileno, seu mestre, e com a companhia do grande amigo Ampolos.
Sileno era o responsável pela educação de Dionisus, tinha uma experiência única nos conhecimentos do mundo natural e da magia, vivia criando desafios para instruir Dionisus nos mistérios. Depois de pensar com muita cautela, Sileno achou que era chegada a hora de ensinar o semideus Dionisus a construir; então, partindo do mais elementar pensou na criação de um belo jarro de cerâmica. Ele aguardou até que Dionisus fosse a ele em busca de mais um desafio, e logo numa bela tarde de primavera, o brincalhão Dionisus se aproximou de Sileno acompanhado de Ampolos, o seu melhor amigo. Sileno estava acomodado a uma rocha às sombras de lindas oliveiras, grave como de costume, fingiu não ter visto a aproximação de seu intrépido aluno, porém no momento certo moveu a cabeça em direção a Dionisus e disse: - Você terá que fazer um jarro de cerâmica para conhecer o Olimpo. Dionisus, como sempre ansioso para estar junto aos deuses, perguntou o que era preciso para fazer um jarro de cerâmica. Sileno disse ao jovem semideus que teria de encontrar da mais pura argila e que a melhor delas era encontrada no rio Leto, o rio do esquecimento, porém era uma viagem arriscada, porque as almas usavam das águas do rio Leto para se esquecerem do passado, assim era perigoso perder a memória enquanto colhia a argila. No momento em que Dionisus ia perguntar sobre as outras etapas da confecção do belo jarro de cerâmica, num salto Sileno se distanciou, mas deixando a pista que a jornada ensinaria o jovem semideus tudo o que ele precisasse saber.
Ampolos estava com medo, mas sentia-se protegido ao lado de seu amigo semideus, já Dionisus ficou eufórico com a possibilidade de decifrar mais um dos mistérios do sábio tutor Sileno, e correu pelo bosque afora procurando uma ninfa que ensinasse o caminho, as ninfas guardavam muitos segredos, conheciam a magia das florestas, falavam com os animais, assim sabiam muito sobre os diferentes caminhos, os atalhos e os riscos de cada jornada. Porém, mesmo que procurando durante toda a tarde, Dionisus não encontrou nenhuma ninfa, cansado e sem esperança de solucionar seu desafio naquele dia, sentou-se com seu amigo Ampolos na margem de um rio; o jovens sentiam cede e ao curvarem seus corpos para beber água, repentinamente um vulto azul claro passou por eles gritando num som muito agudo, eles se assustaram e largaram a água que traziam no côncavo das mãos. Dionisus, fingiu coragem e Ampolos tremia de medo. O jovem semideus, irritado pelo susto, começou a chamar pelo vulto azul claro, para que explicasse sua ousadia de perturbar o descanso e cede do filho de Zeus. De repente, uma grande neblina azulada tomou conta de tudo em volta dos dois rapazes, Ampolos ficou ainda mais assustado, mas Dionisus sentiu fúria, afinal somente os semideuses e deuses são capazes de libertarem as Fúrias contra quem os perturbam. A neblina azul envolvia o corpo dos dois, ao mesmo tempo em que se escutavam muitas vozes, o semideus gritou muito alto, a neblina ficou estática em suspensão no ar, e Dionisus perguntou: - Quem são? E onde estou? Subitamente, toda a neblina azul espalhada pelo ar juntou-se formando o corpo de uma linda mulher azulada, e disse: - Somos as ninfas, agora ondinas e sílfides, juntas para ajuda-lo jovem Dionisus. Dionisus ficou supreso e olhou para Ampolos que estava encolhido por entre os arbustos, conteve sua raiva e pediu que as ninfas lhe respondessem como encontrar a melhor argila do rio Leto. Ninfas: - O rio que você está é uma das margens do rio Leto, a água que vocês queriam beber lhes fariam mal, para colher da argila basta agachar-se e envolver a argila em folhas desse loureiro que está a sua direita. Dionisus ficou entusiasmo, quase a ponto de esquecer que sentiam cede, novamente o semideus buscou ter calma e perguntou as ninfas como encontrar água, todas juntas sorriram e disseram, entre nós temos as ondinas, ergam suas cabeças e abram suas bocas, se sentirem fome sigam a trilha de pessegueiros. E os rapazes sentiram o gosto da chuva saudável e fresca inundarem de calma todo o calor que haviam acumulado ao longo de um dia inteiro. Saciados, os rapazes colheram as folhas do loureiro e juntaram argila suficiente para fazerem o jarro de cerâmica pedido por Sileno. Concluída esta parte, seguiram o caminho dos pessegueiros e enquanto comiam dos pêssegos, eles percebiam que algo diferente acontecia com eles, a cada novo pêssego que comiam, uma nova ideia vinha a cabeça sobre o que fazer no jarro de cerâmica: surgiam formas, linhas e desenhos; seguiam o caminho em sorrisos tentando guardar cada uma das imagens. Ao final do caminho dos pessegueiros, avistaram uma grande rocha plana, saíram em disparada correndo até aquela misteriosa rocha. Neste momento Ampolos tropeçou e bateu a cabeça em uma pedra pontiaguda, Dionisus foi ao socorro do amigo, mas ele estava fraco e escorria muito sangue de sua testa. Mesmo sendo Dionisus um semideus, tinha seus sentimentos, mais sentimento ainda pelo jovem Ampolos que era o companheiro de aventuras, Dionisus chorou, chorou e chorou ainda mais; estava muito triste, mas precisava mais que tristeza para aplacar a sabedoria do filho de Zeus, naquela momento Dionisus lembrou-se da ambrosia, fruto dos deuses capaz de criar os imortais; desesperado o semideus correu pelo bosque adentro em busca de ambrosia, encontrou colheu da fruta e curvou ao lado do corpo do companheiro espremendo ambrosia em sua boca, alguns minutos depois galhos começaram a surgir do corpo de seu amigo, o sangue foi recolhido do chão formando pequeninas bagas avermelhadas, absorvido pela visão assustadora Dionisus presenciou o surgimento da primeira videira na face da terra. Ele tinha eternizado seu amigo Ampolos como uma linda parreira de uvas que cresce próximo aquela bela rocha. Ainda triste, estava satisfeito, havia conseguido um destino menos pior para sua amigo Ampolos. Em respeito à memória de seu amigo de jornadas, foi para junto da rocha, viu que esta ficava no limite de um grande abismo, sentiu sua textura, percebeu que era muito lisa, deixou-se guiar pela imaginação fazendo um jarro tão lindo que depois de molda-lo nem conseguia acreditar que era obra dele. Dionisus ficou tão encantado por sua obra que mal conseguia sair do lugar, o tempo passava e ele permanecia olhando para o jarro como que por encantamento, repentinamente uma coruja sobrevoou sua cabeça e o susto revelou uma outra necessidade ao semideus, o jarro estava moldado, mas era mole, e abaixo do abismo reluzia uma luz avermelhada. Inteligente e curioso, Dionisus desceu por entre as pedras, escorregou algumas vezes, mas segurava o jarro com firmeza, chegou ao final do abismo em segurança, ele e o jarro. Percebeu que o jarro havia se modificado, se aborreceu a ponto de quase esquecer o lugar de onde aquela luz vinha, foi nesse momento, que uma grande explosão pode ser escutada dentro de uma caverna, luz e calor tomaram conta do lugar, no entanto, ele pode ver o lugar de onde surgiu tanta força, correu até a entrada de uma caverna, nova explosão e luzes e faíscas incandescentes por todos os lados, depois de uma fumaça escura sair por sua entrada avistou um homem avermelhado e coxo batendo em uma bigorna, Dionisus teve seu primeiro encontro com Vulcâno o deus das forjas, dos metais, das criações de ferramentas, o ferreiro do Olimpo; o jovem semideus ficou intimidado, mas aproximou-se pedindo licença ao deus, mesmo que sua figura impusesse medo, ele era um ser bondoso e dedicado ao constante trabalho de criar novos instrumentos para atender às necessidades de cada deus do Olimpo. Efaísto, ou deus Vulcano, notou que Dionisus trazia um belo jarro moldado, porém sem cozimento, preferiu se calar e aguardar que o rapaz solicita-se ajuda, afinal se tratava de semideus a quem ele também pretendia ajudar, neste momento, sem que houvesse explicação Dionisus ergueu o jarro em direção a Vulcano, este tomou o jarro em suas mãos e o colocou no forno para realizar o cozimento; argila moldada na forma de uma belo jarro iria se torna a mais nobre cerâmica conhecida por todo o Olimpo. Se trocarem nenhuma palavra e envolvidos no alvoroço de muitos sentimentos, o jarro ia sendo cozido; o fogo parecia selecionar quais sentimentos deviam permanecer no jarro, isso acontecia involuntariamente, enquanto os dois aguardavam em silêncio, nenhum dos dois parecia saber que sentimentos estavam gravados naquele jarro de cerâmica, o jarro era indecifrável por deuses, humanos e todos os seres existentes ou que um dia poderiam existir; este era o mistério do fogo, um elemento incontrolável em sua essência, ainda que se controle o foco de uma chama jamais se modifica sua essência. O jarro havia se tornado cerâmica: enigmática, indecifrável, indestrutível, eternizando todo o trajeto do jovem semideus. Concluído o cozimento, e depois do resfriamento da cerâmica, Dionisus recebeu de Vulcano o jarro, inclinou a cabeça em sinal de gratidão e saiu da caverna sem que os dois tenham trocado uma única palavra. O semideus sabia que levava em suas mãos algo diferente de tudo que o mundo conheceu, isso criou nele a percepção de ser também ele semelhante aquele jarro de cerâmica, escalou cuidadosamente a encosta do abismo, chegou ao cume do abismo e instintivamente colheu das uvas que seu amigo Ampolos havia sido transformado por seu intermédio, espremeu as uvas dentro do jarro e fez o caminho de regresso em busca de Sileno; era uma manhã e o tempo variava do quente e úmido ao frio e seco. Quando avistou Sileno na mesma rocha do dia anterior, Dionisus correu chorando e revivendo todas as emoções de sua jornada, suas lágrimas caíram dentro do jarro; Sileno viu tudo aquilo e recebeu o semideus o como um novo deus olímpico, esperou que se acalmasse sozinho, depois o sábio Sileno convidou-o à beber do que estava naquele belo jarro de cerâmica; bebiam, se reconheciam, revivam tudo, choravam e gargalhavam sem necessidade de uma explicação mais profunda, a bebida capaz de encantar até mesmo os deuses havia sido criada, o vinho era a chave para que Dionisus pudesse chegar ao Olimpo, sair do Olimpo quando quisesse, era a liberdade do deus, o deus de todos os mistérios.
segunda-feira, 16 de setembro de 2013
sábado, 14 de setembro de 2013
PONTO DE EQUILÍBRIO
Entre sim e não surge o talvez,
desconfortavelmente.
Sou o que fui, me faço agora,
talvez é meu futuro.
desconfortavelmente.
Sou o que fui, me faço agora,
talvez é meu futuro.
Desmedida ofensiva:
flutuam minhas palavras desvairadas em busca de algum sentido;
sou o que sou sem nenhuma certeza;
restou eu, mais eu, e as perguntas.
sou o que sou sem nenhuma certeza;
restou eu, mais eu, e as perguntas.
quinta-feira, 12 de setembro de 2013
EU DESSA VEZ
Em mim a fúria e a paz escolheram fazer morada, esta é minha essência. No mais são versões, minhas. Vivo a confusão entre a física e a metafísica, sou controverso, essencialmente confuso - nunca soube quem sou -, e meu legado é amar quando há em mim amor, uma resistência gerada por ódio, trago no peito a Caixa de Pandora e os Lírios, ambos inventam tudo o que acredito e desacredito ser em todo novo dia, tenho tudo e nada em uma fração de segundos; cada qual escolha do que desfrutar. Me conhecer pode ser a melhor ou a pior experiência de alguém, porque eu nunca me conheci.
quarta-feira, 11 de setembro de 2013
terça-feira, 10 de setembro de 2013
Declaração de intenções
As crônicas ( comentários diversos ) que escrevi e escrevo novamente neste blog, mesmo que sirvam de estimulo para qualquer grupo que seja, esclareço que são frutos da minha reflexão e isentos de representarem qualquer movimento específico.
ESPECULAÇÃO TEÓRICA
Linguagens = significados / significantes
Linguagens = veículo de comunicação ( tornar comum );
Significados = os sentidos que se atribuem a coisa em si;
Significantes = são os símbolos que evocam os significados.
Equivalente psicanalítico: R = I / S
Por favor, feitas as devidas reservas, considere o equivalente psicanalítico quase como uma ilustração aproximada. Haja visto, por exemplo, que o Real psicanalítico é bem mais que justeza entre Imaginário e Simbólico.
Então, ausência de comunicação pode ser expressa pela equação criada por mim.
Aqui, cito ausência de comunicação em sentido exato.
Se os significados forem em maior número que os significantes temos evidenciada a ausência de comunicação em sentido exato.
P.s.: Não reivindico autoria sobre esta evidência, no entanto sou autor desta abordagem, afinal usei do meu próprio conhecimento.
Observação acrescentada em 17/03/2015:
E como pensamento terá crescimento inversamente proporcional, quanto mais inexatos forem os termos entre os que interagem maior será o resultado neles como pensamento, enquanto houver entre eles a sensação que se comunicam, posto que ultrapassado esse limite ocorrerá o declínio. Admitindo pensamento como associação de ideias.
segunda-feira, 9 de setembro de 2013
terça-feira, 30 de abril de 2013
Sobre o amor
Imagem encontrada no Facebook na página Inteligente Vida.
Tenho sido levado a crer que talvez seja o único.
Já doei tanto amor quando amei que hoje sobrou um pedacinho que tenho preferido chamar de amor próprio.
sábado, 27 de abril de 2013
JAMES DEAN
Depois que descobri sua existência como artista [ bem mais que ator ] eu entendi o que é ser um gênio.
Se tiver que buscar alguém que me inspire, já encontrei.
Perdão a todos os outros demais artistas/atores que também os admiro, mas James Dean foi único e a "coisa" mais perfeita que já aconteceu, aos meus olhos, na história da encenação.
P.s.: sem texto, numa cena armada pela velha escola de Hollywood para desbancá-lo ele colocou todos no chinelo e elevou o Actors Studio que surgia com um novo modo de performance atoral.
http://www.youtube.com/watch?v=BgpD0Z0u0uE
Antes eu só passei a conhecê-lo e prestei atenção na beleza dele, por ocasião de uma citação sobre ele feita por Ines Link, figurinista/cenografa, ela comparou minha personagem "Back" a ele, personagem esta do espetáculo 75 minutos - peça produzida pela AccelorMittal/Rede Teia em Juiz de Fora - M.G.
Na ocasião estando eu na casa de Jhonata de Alemida Salgueiro, por acidente, assistimos um documentário sobre a vida de James Dean exibido pela Rede Cultura emissora de telvisão paulista; minhas emoções de artista se "descabaçaram". Desde então eu só consigo assisti-lo emocioado tamanha identificação/admiração pelo homem e pelo artista James Dean. Sua existência, James Dean, justificou a minhas escolhas como artista e como ser humano; você transcendeu a própria cultura para além de qualquer tempo ou contexto, você é a essência da própria arte que se quis materializar de modo aleatório e sem consenções à juizos ou gostos. A mais bela vingança contra todos os tiranos que revindicam verdades, você viveu-se [ quero escrever assim e posso ], você foi além de mais uma cópia ou projeto de ser humano adaptado ao seu tempo; se fosse a cosmogonia grega eu te chamaria Chaos - feito Homem - no qual tudo mais se estabelece.
http://www.youtube.com/watch?v=a2FKX9RRHS0
Na ocasião estando eu na casa de Jhonata de Alemida Salgueiro, por acidente, assistimos um documentário sobre a vida de James Dean exibido pela Rede Cultura emissora de telvisão paulista; minhas emoções de artista se "descabaçaram". Desde então eu só consigo assisti-lo emocioado tamanha identificação/admiração pelo homem e pelo artista James Dean. Sua existência, James Dean, justificou a minhas escolhas como artista e como ser humano; você transcendeu a própria cultura para além de qualquer tempo ou contexto, você é a essência da própria arte que se quis materializar de modo aleatório e sem consenções à juizos ou gostos. A mais bela vingança contra todos os tiranos que revindicam verdades, você viveu-se [ quero escrever assim e posso ], você foi além de mais uma cópia ou projeto de ser humano adaptado ao seu tempo; se fosse a cosmogonia grega eu te chamaria Chaos - feito Homem - no qual tudo mais se estabelece.
http://www.youtube.com/watch?v=a2FKX9RRHS0
http://www.youtube.com/watch?v=dOt6UC5L3KU
http://www.youtube.com/watch?v=fZVQs88pw-U
http://www.youtube.com/watch?v=iqNDWEwP92o
http://www.youtube.com/watch?v=eSGkZhhnuWo
sexta-feira, 26 de abril de 2013
quinta-feira, 25 de abril de 2013
terça-feira, 23 de abril de 2013
Amor
Se um dia perguntarem quem sou,
diga que sou um viúvo da própria alma,
daqueles que fizeram de referência os que nunca me quiseram.
diga que sou um viúvo da própria alma,
daqueles que fizeram de referência os que nunca me quiseram.
domingo, 21 de abril de 2013
sexta-feira, 19 de abril de 2013
Petit poema analógico
Replay: petit poema analógico
Domus
Sonora
Microondas
Fetida
House
Este poema, que mais se assemelha à uma poesia, tanto por ser ele simplório quanto pelo seu pequeno tamanho, talvez possa inspirar-me a escrituração de um romance - coisa enfadonha, seria insuportável ter eu que escrever um romance, ainda mais sobre a residência em que vivo e suas peculiaridades de: local de anúncio, valor, condições de pagamento, cláusulas contratuais, a estrutura da "casinha" como um todo e suas 'peculiaridades' -; contudo, se me sobrar tempo, talvez me dedique à delatar; perdão: relatar. :)
Anexo:
Tirando o excesso de metal por toda à base da casa [ que tem pontos positivos e negativos, positivo: segurança e negativo: exposição à eletricidade ]; tirando à exposição ao vale sujeita à vista e suas consequências ( boas e ruíns ); ignorando a rende de esgoto sem sifão ou filtro que assegure ao proprietário impedimento de reverso de dejetos e/ou gases nocivos; tirando o quintal exposto e acessível a qualquer um da rua; tirando a caixa d'água em laje aberta e acessível aos da rua; simplificando: redesenhando a casa ela fica boa. kkk
Domus
Sonora
Microondas
Fetida
House
Este poema, que mais se assemelha à uma poesia, tanto por ser ele simplório quanto pelo seu pequeno tamanho, talvez possa inspirar-me a escrituração de um romance - coisa enfadonha, seria insuportável ter eu que escrever um romance, ainda mais sobre a residência em que vivo e suas peculiaridades de: local de anúncio, valor, condições de pagamento, cláusulas contratuais, a estrutura da "casinha" como um todo e suas 'peculiaridades' -; contudo, se me sobrar tempo, talvez me dedique à delatar; perdão: relatar. :)
Anexo:
Tirando o excesso de metal por toda à base da casa [ que tem pontos positivos e negativos, positivo: segurança e negativo: exposição à eletricidade ]; tirando à exposição ao vale sujeita à vista e suas consequências ( boas e ruíns ); ignorando a rende de esgoto sem sifão ou filtro que assegure ao proprietário impedimento de reverso de dejetos e/ou gases nocivos; tirando o quintal exposto e acessível a qualquer um da rua; tirando a caixa d'água em laje aberta e acessível aos da rua; simplificando: redesenhando a casa ela fica boa. kkk
quarta-feira, 17 de abril de 2013
terça-feira, 16 de abril de 2013
sábado, 13 de abril de 2013
Amor
Uma vida em desgraça ou preencher de qualquer graça o vazio da vida ou então resta-me a graça de ver no vazio qualquer forma de vida; e o que eu procurei se encontra?
sexta-feira, 12 de abril de 2013
quarta-feira, 10 de abril de 2013
Anarquismo
Por essência o Anarquismo admite, de fato, o convivência sem exclusões e a liderança surge natural sem imposição e somente aos que sentem necessidade de serem liderados, sem prejuízo aos que escolhem estarem sem líderes. Longe de ser confundido com desordem, o Anarquismo tem como fundamento fundante o responsabilizar-se socialmente também pelo coletivo, além das causas particulares/individuais.
Existem diferentes "escolas de pensadores"/grupos Anarquistas, no entanto o Anarquismo Puro tem por causa a Liberdade associada à Responsabilidade. Além do Anarquismo Puro, exemplos de "Escolas de Pensadores"/ Grupos Anarquistas: Anarcosindicalismo, Anarcofeminismo, Anarquismo Cristão, Escola de Chigago, Libertarismo, etc.
P.s.: eu, Og Esteves Guedes, me considero um Anarquista Puro que busca nos diferentes grupos Anarquistas instrução, às vezes concordo e outras eu discordo das opiniões de cada um dos grupos em suas particularidades.
domingo, 7 de abril de 2013
Sobre moral e costumes à luz de todos os tempos
Sem ofensa é melhor. Mas todos podem compreender que a existência precisa ser respeitada, digo, que as diferenças são comuns e, de fato, desejáveis; caso contrário: seria justo condenar seres à exclusão ou força-los a serem diferentes do como se fizeram espontaneamente? Pergunta retórica - pergunta para que eu possa apresentar minha opinião -, vejam bem: de quantas vidas você é possuidor além de sua própria vida? Quem assumir conscientemente mais que uma vida sem ser, de fato, donatário mais do que de sua própria vida, talvez deva carregar as penas de cada vida que cobrar para si conscientemente a tutela. Há necessidade de organização social, contudo devemos diminuir discussões morais ou ideológicas que mais comprometem a unidade social do que colaboram para sua manutenção. Eu escolho a dúvida amorosa ao espancamento atroz.
Eis o Espírito do Tempo em cada tempo.
Inauguração
Olhos nós olhos e com clareza:
A cada pergunta uma resposta e/ou, a dúvida que inaugura, evolução.
Todo resto é roubo, furto e deslealdade; chamaram: obsessão.
Dedicação do mérito à Lucem Ferre
Tendo eu feito-me em Lucem Ferre, perguntei a ele:
- Há em você perdão?
Sendo negativa tua resposta, falta-lhe algo meu irmão.
- Há em você perdão?
Sendo negativa tua resposta, falta-lhe algo meu irmão.
Assinar:
Postagens (Atom)