Carta de Alforria
Já faz tempo que eu trabalhei pra pagar minhas contas. Não tenho nenhuma cobrança, ajuste ou dívida com qualquer passado. Talvez desinteresse por repetições.
Nem permaneço a mesma pessoa.
Que cada um se machuque nos espinhos ou esperanças que cultivou e cultiva. Sou semelhante ao cacto nutritivo: "ora-pro-nobis". Tão nutritivo quanto espinhoso.
Sou um velho e aceito ser um velho, desde que eu possa manter minhas coerências, ainda que: sejam elas espinhos.
Desajuste: me tornar incoerente próximo da máxima estimativa da sobrevivência, se eu negar todo um percurso.
Sou e permanecerei sendo exatamente o que fui, porque evitei o estelionato como paródia de vida. E, nada importante, seria eu entregar a minha cabeça a quem nunca manteve a própria cabeça sem depender de: outros, marcas e símbolos.
Foi melhor eu ter vivido, do que eu tivesse buscado ser somente um igual. Na esperança de eu ser salvo por eu ser: inevitavelmente e confundivelmente semelhante.
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Post Scriptum
Basta eu ter sido uma piada de outros na ausência de misericórdia. E, de lá, também enxergam o mundo.
Só existe início da guerra
pra quem conheceu a paz.
Cordialmente,
Og Esteves.
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